Editorial Folha
- BC projeta crescimento de somente 1,5% em 2026, efeito dos juros que freiam a inflação e o emprego
- Não há espaço para mais despesas, petista promoveu gastança no início do governo e pode antecipar crise se repetir a dose na eleição.
O Banco Central divulgou na quinta (25/9) sua estimativa para o desempenho do Produto Interno Bruto em 2026: crescimento de apenas 1,5%, abaixo da projeção do Ministério da Fazenda (2,4%) e mais próximo da mediana do mercado financeiro (1,8%).
Embora desde 2022 as projeções para o PIB tenham sido muito mais equivocadas do que o esperado, a desaceleração da atividade hoje parece compatível com a expansão prevista pelo BC para o fim deste ano, perto de 2%.
O aumento da taxa de juros produz impacto, que deverá ser maior entre o segundo semestre deste 2025 e o primeiro de 2026.
A moderação observada no segundo trimestre, ademais, mostra que o PIB dependeu mais de indústrias extrativas, que estão menos ligadas ao ciclo econômico, e do saldo das exportações. Já a demanda doméstica arrefece.
Tal esfriamento deverá resultar em queda do ritmo do emprego; a desocupação se mantém em níveis ainda historicamente baixos, mas a ampliação de postos de trabalho tende a ser menor. Resta saber o que acontecerá com a ainda forte alta dos salários.
Em resumo, espera-se menos inflação e atividade econômica em 2026. A combinação desses fatores costuma influenciar humores eleitorais, embora ainda não haja expectativa de mudança maior na insatisfação geral em relação à observada agora.
Deve-se ressaltar, contudo, que a desconfiança do consumidor tem crescido e as expectativas do eleitorado ainda são negativas, assim como o saldo da avaliação popular do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Assim, sem levar em conta reviravoltas políticas, importa saber se a gestão petista, a fim de chegar com mais prestígio às eleições, tomará providências adicionais que não raro elevam o gasto público de forma irresponsável.
Já estão encaminhados projetos e medidas como a desoneração do Imposto de Renda, a nova faixa do Minha Casa, Minha Vida, a expansão do Vale Gás, a continuidade, com maior divulgação, do programa Pé-de-Meia e mais empréstimos do BNDES.
Não há espaço para elevação de despesas. O governo só cumprirá as metas deste ano graças a aumento de impostos e antecipações de receitas —sem contar a contabilidade criativa que retira gastos do Orçamento.
Em 2026, será ainda mais difícil fechar as contas, mesmo com as metas fiscais relaxadas. Dólar e juros altos tendem a se repetir, já que o ano do pleito será de tensão financeira, ainda maior caso os candidatos a presidente não apresentem planos críveis de reforma do gasto público em 2027, o petista em particular.
Lula 3 inverteu o ciclo político-eleitoral de gastos. Em vez de botar ordem na casa no início do governo, resolveu impulsionar a economia com aumento exorbitante de despesas. Assim, na metade final do mandato, enfrentará desaceleração. Tentar insuflar outra vez a atividade pode antecipar uma crise em 2027 (Folha)