-Laboratório em MT testa espécies com rodízio inteligente do solo

Por José Maria Tomazela

Agricultura do futuro: Ensaios da Embrapa e da Fundação MT elevam produtividade, reduzem riscos do algodão e ampliam modelos sustentáveis no maior polo agropecuário do País

Em uma área equivalente a 100 campos de futebol, em Sinop (Mato Grosso), a Embrapa Agrossilvipastoril mantém um laboratório ao ar livre que aponta para o futuro da agricultura no Brasil. Modelos de integração entre lavoura e pecuária já resultam em vacas que produzem mais leite e bezerros, ao mesmo tempo em que preparam o solo para gerar mais grãos por mais tempo. Outros projetos testam espécies arbóreas que se integram ao sistema produtivo e contribuem para recompor reservas legais em fazendas. Ao lado, outra unidade de pesquisa avalia cultivares de algodão adaptados à região.

Na prática, esses sistemas funcionam como um rodízio inteligente da terra. Primeiro entram as lavouras, como milho e sojLaboratório em MT testa espécies com rodízio inteligente do soloa, que deixam nutrientes no solo; na sequência, o mesmo espaço vira pasto para o gado, que aduba o terreno e ajuda na recuperação da área. Quando se acrescentam árvores ao modelo, como eucalipto ou frutíferas, a combinação garante sombra para os animais e melhora o equilíbrio ambiental.

Em campo, pesquisadores testam diferentes formas de aplicação desses arranjos, e produtores podem adotar modelos como a Integração Lavoura e Pecuária (ILP), com o plantio de milho associado à pastagem. Após a colheita, a adubação melhora a qualidade do pasto e a alimentação do gado, enquanto na Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), é possível incluir eucalipto, teca ou outras árvores, oferecendo sombra ao rebanho. “A demanda por eucalipto cresceu na região devido ao uso de biomassa nas caldeiras das usinas de etanol. Já a teca tem maior valor agregado e boa demanda”, explica Cornélio Zolin, pesquisador e gestor da Embrapa – Sinop.

No Estado, os sistemas integrados ocupam quase 5 milhões de hectares. Segundo Zolin, a tecnologia intensifica o uso do solo de forma sustentável, e com as mudanças climáticas, ele aposta na rápida expansão do modelo. “O maior patrimônio do produtor é o solo, que os sistemas protegem e melhoram. É uma poupança para o futuro.”

Na unidade, também está sendo testado um modelo em que o gado pasteja entre frutíferas, como goiaba, caju, açaí e manga e as vacas-leiteiras recebem receptores de GPS para medir deslocamentos em áreas abertas e sombreadas. Conforme o pesquisador Luciano Bastos Lopes, fêmeas criadas em ILPF entram mais cedo na reprodução, produzem mais leite e bezerros com melhor resposta imunológica e menor incidência de parasitas. Os resultados são compartilhados com pecuaristas da região.

A Embrapa Agrossilvipastoril desenvolve, em Sinop, uma das maiores plataformas de ensaios de agricultura regenerativa do mundo: práticas que buscam recuperar e melhorar o solo, como plantio direto, uso de insumos biológicos e técnicas para retenção de umidade e controle da erosão. São 150 hectares de experimentos com dez tratamentos voltados à melhoria do solo e à resiliência climática na pecuária. Os testes seguem até 2045.

Produzindo florestas

Os ensaios na unidade atraem pesquisadores. Em 21 de agosto, o professor de engenharia ambiental Pedro Simões, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), coordenava estudos em área experimental de recuperação florestal da Embrapa, voltados à quantificação dos estoques de carbono. No local, o plantio de espécies nativas, como cupuaçu e açaizeiro, formou um talhão verde semelhante a uma floresta, e a equipe, com os alunos Cristiano Piccini e Santana Medeiros, foi medir a redução da temperatura, a umidade do solo e o volume de carbono estocado.

O estudo vai gerar dados para definir parâmetros que orientem políticas de redução de carbono no processo de descarbonização da agropecuária. A proposta é replicar a área em projetos de recuperação de reservas em propriedades rurais da região.

Vitrines melhoram cultivares de algodão

Com dimensões superiores às de muitos países da Europa, o Mato Grosso apresenta diferentes cenários ambientais para algumas culturas, especialmente o algodão. E a Fundação Mato Grosso, uma das principais instituições privadas de pesquisa do Estado, conduz estudos e ensaios de campo para identificar as cultivares — variedades desenvolvidas por melhoramento genético para maior produtividade e resistência — mais adaptadas a cada região.

Líder na produção de algodão no País na safra 2024/25, o Estado deverá colher 2,9 milhões de toneladas de algodão – o volume representa 72,50% de toda a produção no Brasil. A fibra se tornou um dos principais produtos agrícolas do Estado e sua expansão exige atenção à escolha da cultivar. “O algodão que vai bem em Sorriso, por exemplo, não tem o mesmo desempenho em Primavera do Leste. Como há muitos cultivares comerciais à disposição, nós ajudamos o produtor a fazer a melhor escolha”, explica Daniela Dalla Costa, pesquisadora de fitotecnia da Fundação.

No Centro de Aprendizado e Difusão (CAD) Norte, em Sorriso, a Fundação MT mantém vitrines de cultivares para avaliar variedades de soja, milho, algodão e outros produtos, como gergelim e canola, onde além da produtividade, são observados fatores como resistência a doenças, adaptação ao clima e manejo. As vitrines funcionam como áreas experimentais, onde se avalia a interação entre cultivares, solo, clima e manejo local.

No algodão, os pesquisadores avaliam desenvolvimento, produtividade e resistência das principais cultivares. “É uma cultura que dá retorno e representa alternativa ao milho na segunda safra, mas tem custo alto. Por isso, os ensaios são fundamentais para orientar o produtor”, avalia Daniela. Grande parte da produção desta safra em municípios como Sorriso, Nova Mutum, Sapezal e Primavera do Leste usou variedades indicadas pela Fundação.

Um dos resultados aponta que, em Sorriso, o algodão apresenta melhor desempenho na segunda safra, conhecimento que evitou prejuízos aos produtores. Houve também impacto na produtividade: em Primavera do Leste, cultivares adaptadas alcançam 402 arrobas por hectare, acima da média estadual.

Embora atue com outras culturas, o centro de pesquisas da Fundação MT trabalha com os ensaios mais abrangentes de algodão do País, com 28 cultivares atualmente em teste. Uma delas ajudou o produtor Eduardo Lemski, de Sinop, a obter bom desempenho nesta safra. Em 2015, ele deixou de plantar algodão após três safras frustradas, mas na temporada passada, testou uma cultivar indicada pela Fundação em 16 hectares. “O resultado foi bom e resolvi ampliar a área para 60 hectares nesta safra.

O desempenho foi ainda melhor, pois o clima ajudou e a pluma veio com fibras muito boas”.

Pesquisa e resultados

Ensaios mostram impacto em produtividade e sustentabilidade em MT

  • 28 cultivares de algodão são avaliadas pela Fundação MT em ensaios no CAD Norte, em Sorriso
  • 150 hectares é a área da plataforma de agricultura regenerativa da Embrapa em Sinop, com dez tratamentos em teste até 2045
  • 5 milhões de hectares é a extensão já ocupada por sistemas integrados (ILP e ILPF) no Estado, resultado de estudos aplicados ao campo
  • 402 arrobas por hectare é a produtividade obtida em Primavera do Leste com cultivares testadas em pesquisa, 43,5% acima da média estadual (Estadão)

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