Indústria do café avalia ‘triangular’ exportação para vender aos EUA

Conselho de Exportadores de Café afirma que comércio pode se dar por meio de países da União Europeia, onde grãos seriam beneficiados.

A indústria nacional do café, impactada pela sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump, avalia a possibilidade de triangular a exportação do produto para suprir a demanda dos americanos e escapar dos efeitos da tributação massiva que recai sobre os grãos nacionais.

Ao C-Level Entrevista, videocast semanal da Folha, O diretor-geral do Cecafé (Conselho de Exportadores de Café do Brasil), Marcos Matos, admitiu que essa pode ser uma das possibilidades para garantir a competitividade e a exportação do produto brasileiro.

A União Europeia, com tarifa de 15% sobre produtos exportados aos EUA, seriam um possível caminho para essas transações. Na triangulação, o mercado brasileiro vende o grão verde, que é torrado e misturado a outros grãos em outros países, para então ser vendido aos americanos.

“Os Estados Unidos são a grande referência em termos de conglomerados industriais, sede das redes de cafeterias, das marcas globais que têm indústrias em outras partes do mundo”, disse Matos. “A industrialização em outro país e a reexportação também são uma hipótese. Com certeza, o americano não vai ficar sem o cafezinho brasileiro.”

O representante do setor disse que tem havido avanços em negociações com os EUA e que o mercado espera que haja, em algum momento, uma redução efetiva da tarifa de 50%. “No curto prazo, o que precisamos é de uma reunião presencial, uma delegação do Brasil sentada com secretários, e também no Salão Oval. Isso é o mais importante.”

Havia uma expectativa de que o café ficasse fora da lista de produtos tarifados pelos EUA. Isso acabou não acontecendo. Existe uma explicação?

Mantivemos o otimismo pensando sempre na possibilidade de o café estar numa lista de exceção. Fomos informados pelos nossos parceiros nos EUA de que, no caso do café, apesar da importância econômica reconhecida, já havia países concorrentes fazendo negociações bilaterais com o governo americano.

O Vietnã tinha uma tarifa de 46% que caiu para 20%. Indonésia tinha 32%, caiu para 19%. Nicarágua, 18%. A negociação bilateral se fazia necessária. Vários níveis hierárquicos de diversas secretarias de Tesouro, do Comércio, também deram esse feedback.

Qual a importância do mercado americano para os produtores e exportadores de café e a realidade do Brasil no resto do mundo?

O Brasil, nos últimos anos, exportou para 150 destinos diferentes, e quase 40% de tudo que existe de café no mundo é brasileiro. Os EUA representam o maior consumidor global de café, com 25 milhões de sacas, e o maior comprador de cafés do Brasil. Em 2024, 16% de tudo que a gente exportou foi para os EUA.

O redirecionamento de exportações, de novos mercados, é um trabalho de longo prazo, que tem que ser feito e está sendo feito. Mas o foco nesse momento é um mercado que é insubstituível, com benefícios para todos os lados, como é nossa relação Brasil e EUA.

Como tem sido a interlocução com o setor nos EUA, a National Coffee Association?

A National Coffee Association, com seu time de advocacy em Washington, tem um trabalho permanente com todos os secretariados.

A parte econômica é de conhecimento das autoridades. Mas isso não tira o viés de imprevisibilidade, pelas características da personalidade do presidente americano. Os próprios americanos, nossos importadores, sempre relatam esse lado da imprevisibilidade.

Foi veiculada recentemente uma possibilidade de diálogo entre Alckmin, ministro Haddad e autoridades americanas. Até uns dias atrás o cenário, quando a gente questionava, era de zero diálogo. Então, aos poucos, as coisas acontecem.

Os EUA tentam dar uma sinalização, nos bastidores, de que podem conviver com uma tarifa maior em relação ao café brasileiro, porque têm outros mercados. E a Colômbia fala que pode viver uma era de ouro no comércio de café, em função da tarifa de 10%. Esse cenário condiz com a realidade?

A verdade é que, mesmo com o café brasileiro perdendo a competitividade, o nosso produto vai continuar sendo comprado.

O Vietnã produz [a espécie] robusta, e os EUA compram 80% de cafés arábica do Brasil. Em um único mês que o Brasil exporta e consome, a gente já tem meia [produção de toda a] Colômbia.

O nosso receio é que questões inflacionárias impactem o consumo, que pode ser menor nos EUA. Isso é um jogo ruim para todos.

Há ações em curso para que o Brasil venda o café verde para outros países, como no caso da Colômbia, para lá ser beneficiado, torrado e depois revendido para os EUA?

Os EUA são a grande referência em termos de conglomerados industriais, sede das redes de cafeterias, das marcas globais que têm indústrias em outras partes do mundo.

A gente tem acompanhado a relação União Europeia-EUA, porque o trade [comércio] está lá. A indústria europeia é muito forte e ali poderia ser um caminho, por exemplo. Temos que ver exatamente como isso vai se desdobrar, o impacto que isso vai gerar no futuro para a União Europeia, que tem taxa de 15%.

Temos muitos outros cenários, mas a industrialização em outro país, o componente de reexportação, também é uma hipótese. Com certeza, o americano não vai ficar sem o cafezinho brasileiro.

Pode haver uma reexportação via Colômbia enquanto essa situação não se resolve?

O parque industrial da Colômbia não evoluiu nos últimos anos. Ela tem as mesmas indústrias há bastante tempo. Então não existe essa capacidade extra que atenda ao mercado interno colombiano. É mais provável que a gente mande para a Europa e, de lá, reexporte para os Estados Unidos, que são as maiores plantas industriais do mundo.

No curto prazo, o que o setor espera?

Nesse curto prazo, uma reunião presencial. A gente quer uma delegação do Brasil sentando com secretários e também no Salão Oval [da Casa Branca]. A gente entende que isso é o mais importante.

A negociação é base para qualquer produto do agro brasileiro. A gente vai ficar numa incerteza e risco muito grandes, enquanto não iniciar um diálogo, como as outras economias fizeram. Não vamos sair dessa situação de incerteza enquanto não começar a negociação em si, de forma presencial e pragmática (Folha)

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