O tamanho das cotas de importação foi questionado pelo setor.
O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, anunciado nesta sexta-feira (6/12) no Uruguai, foi visto com preocupação pela indústria de frango da UE. Para o setor, o acordo representa um risco significativo para a agricultura, a segurança alimentar e a sustentabilidade do bloco europeu, com consequências devastadoras.
A Associação de Processadores e do Comércio de Frango nos países da UE (Avec) disse em nota que o novo acordo prioriza a exportação de produtos agropecuários processados e a importação de matérias-primas do Mercosul, expondo assim a UE a uma grande dependência destes fornecedores para produtos essenciais, como açúcar, carne bovina, arroz e carne de aves.
“Ao favorecer ganhos de exportação de curto prazo, a UE coloca em risco nossa autonomia estratégica na agricultura, prejudica os produtores rurais da UE e, em última análise, põe em risco sua soberania de longo prazo”, afirmou Birthe Steenberg, secretária geral da Avec, no comunicado.
O tamanho das cotas de importação da UE definido no acordo também foi questionado pela indústria local. A cota adicional proposta ficou em 180 mil toneladas de frango com tarifa zero para embarque ao bloco europeu, que será compartilhada pelos países-membros do Mercosul.
A cota deverá ser atingida gradativamente ao longo de seis anos. Após este período, ficará fixado o volume de 180 mil toneladas anuais – quantidade equivalente à toda a produção da Finlândia, Dinamarca e Suécia juntas.
“As importações de aves sob o acordo do Mercosul visam desproporcionalmente alguns dos cortes mais valiosos e procurados pelos consumidores europeus, como peito de frango”, ressaltou a entidade.
“Como os produtores da UE dependem das vendas de carne de peito para justificar a criação de frangos, cada dois filés importados do exterior representam um frango não criado na UE”, acrescentou.
Atualmente, 25% da carne de peito consumida na UE vem de países não pertencentes ao bloco, como Brasil, Tailândia, Ucrânia e China.
Padrões
Ainda de acordo com a Avec, os produtores usam alguns dos mais altos padrões do mundo para bem-estar animal, proteção ambiental e segurança alimentar, e investem pesadamente em práticas sustentáveis.
Enquanto isso, a entidade acredita que os produtores europeus enfrentam uma competição crescente de importações produzidas sob requisitos “muito mais baixos”.
Por estes motivos, a associação pede que os formuladores de políticas da UE no Conselho e no Parlamento Europeu se oponham ao acordo, principalmente porque países como Polônia e França já expressaram oficialmente a oposição.
“O acordo comercial UE-Mercosul, como está, não é a tábua de salvação de que precisamos, é uma aposta arriscada que não podemos pagar”, completou Steenberg (Globo Rural)