Compradores de carne bovina pelo mundo já tentam impor preços mais baixos ao produto brasileiro.
Cientes dos desafios que o Brasil enfrenta com a sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos, compradores de carne bovina pelo mundo já tentam impor preços mais baixos ao produto brasileiro. Ao mesmo tempo, as incertezas sobre o destino da carne que iria ao mercado americano pressionam a cotação do boi gordo no Brasil.
“A queda de braço [com os importadores] está acontecendo”, disse uma fonte da indústria frigorífica ao Valor.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou as novas tarifas no dia 9 de julho. “No dia seguinte, a China já tentava ofertar valores menores pela tonelada de carne exportada pelo Brasil”, afirmou a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel.
Segundo ela, com o passar dos dias a tendência foi contaminando parte do mercado e chegou à cotação do gado.
“Vi oferta R$ 5 por arroba abaixo do preço para o boi China e alguns negócios fechados, mas o volume de negócios está mais baixo também. Nem todo pecuarista aceita vender nesse patamar”, disse Pimentel.
No entanto, em pleno inverno, muitos volumes de gado estão sendo terminados em confinamento, e não negociar a venda significa custo adicional pela permanência do animal na engorda.
“A oferta de animais que está em confinamento tem que sair, caso contrário vai aumentar o número de diárias, o custo da alimentação e outras despesas”, observou o analista da Safras & Mercado Fernando Iglesias.
Enquanto o governo brasileiro negocia o futuro da tarifa, o preço do boi vai acumulando quedas. Ontem, o indicador do boi Datagro, referência usada para contratos na B3, fechou a R$ 300,01 por arroba, recuo de 2,59% desde o dia 9 de julho.
No mercado futuro, as cotações passaram de um intervalo entre R$ 320 e R$ 330 por arroba para em torno de R$ 312.
O analista da Datagro Pecuária, João Figueiredo, acredita que já existiam outros motivos para pressionar o valor do boi.
“Ainda é um ano em que estamos virando o ciclo pecuário, com bastante oferta, então tem muito gado no confinamento. O preço de reposição estava barato no ano passado e a relação de troca com o milho usado na ração ainda é muito positiva para o pecuarista”, disse o especialista.
“A taxação dos EUA agravou o cenário de baixa para o preço do gado”, completou Figueiredo.
A estratégia adotada pelos frigoríficos para lidar com a sobretaxa americana, até o momento, é tentar redirecionar as cargas para outros mercados. Porém, a diretora da Agrifatto afirma que esse processo não é tão simples e pode durar todo o mês de agosto.
“No médio prazo, terá um rearranjo nos embarques. Os EUA vão ter que comprar em outro lugar, como Austrália, Uruguai e Argentina, e as lacunas que esses países deixarem para atender os americanos podem ser ocupadas pela carne do Brasil”, afirmou Pimentel.
No entanto, os importadores a quem o Brasil pode recorrer, como Chile, Argélia e China, devem pagar menos pela carne bovina brasileira.
E, ainda que o governo brasileiro consiga negociar a redução das tarifas, qualquer taxa acima dos atuais 36,4% deve tornar a carne menos competitiva que a dos exportadores concorrentes (Globo Rural)