Grãos: Brasil colhe na safra de 2025 o volume que só era previsto para 2029

Por Igor Savenhago

País ainda acumula recordes de produção de carnes, produtos florestais e combustíveis, mas crédito e logística são desafios para manter crescimento.

Mário Sérgio Silvério cultiva mil hectares de grãos em Guaíra, interior de São Paulo. O principal produto é o milho, que ocupa 360 hectares de sequeiro e 640 irrigados. Parte dessa área é alternada com soja e feijão. A meta é, sempre que possível, realizar três safras por ano, o que era impensável em 1997, quando o sogro, com quem trabalhava, faleceu e Silvério assumiu os negócios. Na época, eram 90 hectares com soja, milho e arroz. E apenas uma colheita anual.

A história do agricultor ilustra o cenário das safras de grãos no Brasil, que batem recordes sucessivos. Na temporada 2024/25, a tendência se mantém. A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que os produtores brasileiros deverão colocar no mercado 345,2 milhões de toneladas — alta de 15,6% sobre 2023/24.

A maior produção de grãos da história do Brasil deverá ser impulsionada por marcas inéditas em produtos como a soja, cuja previsão é crescer 15% em relação à safra anterior; o milho, com aumento projetado em 19%; o algodão, que deve ter incremento de 7%; o sorgo, com expectativa de salto de 23%; e o amendoim, que deve ter acréscimo de 45%, ultrapassando, pela primeira vez, 1 milhão de toneladas.

Números para além das projeções otimistas

Os números surpreendem até as perspectivas mais otimistas. Um documento com as projeções do agronegócio nacional elaborado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em parceria com 13 entidades, entre elas a própria Conab, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), publicado em 2024, traçou previsões de produção de grãos para dez anos. Pelo levantamento, o Brasil produziria, em 2024/25, 319 milhões de toneladas. Um volume de quase 345 milhões, 8% acima da expectativa, só era previsto para 2028/29.

Fora dos grãos, um recorde de produção deverá ser registrado neste ano em produtos florestais — alta de pelo menos 11% em relação ao ano passado, segundo entidades do setor. Nos combustíveis, o etanol foi o maior já registrado, com 34,96 bilhões de litros no ciclo 2024/25 da cana-de-açúcar, encerrado em março — 4,06% acima da safra anterior. Já o biodiesel deve crescer 10% em 2025, chegando a 9,9 bilhões de litros.

As carnes também bateram recordes: em 2024, foram 10,2 milhões de toneladas de carne bovina, 14,2% a mais que em 2023; 13,6 milhões de toneladas de frango, avanço de 2,4%; e 5,3 milhões de toneladas de carne suína, alta de 1,2%. Para 2025, as projeções indicam novos crescimentos para o frango e os suínos. Apenas a bovina deve recuar levemente, por menor oferta de novilhas.

Exportações recordes também de carne

As vendas externas de carne pelo Brasil também foram as mais expressivas da história em 2024: 2,89 milhões de toneladas de bovina, 5,3 milhões de frango e 1,35 milhão de suína. Exceto o frango, que pode ter leve queda em 2025, motivada pelo caso de gripe aviária em granja comercial no Rio Grande do Sul em maio, as outras duas devem crescer — mesmo com a tarifa de 50% do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a carne bovina. Assim, o País deve manter a liderança nas exportações globais de carne.

Relatórios da BTG Pactual e da Cogo Inteligência em Agronegócio mostram como o Brasil virou um dos maiores exportadores mundiais em vários produtos do agronegócio, como a soja, que lidera as exportações, além de ser o terceiro maior exportador de milho, o segundo de etanol e o primeiro de algodão, café, açúcar, tabaco e suco de laranja.

“O suco, café, algodão e couros bateram recordes de volume exportado no último ano-safra (julho 2024 a junho 2025). Soja e milho devem encerrar 2025 com os maiores volumes já embarcados: 109 milhões e 45 milhões de toneladas, respectivamente.

Somos um dos poucos países com a condição geográfica que temos, clima tropical e tecnologia, que nos permitiu desenvolver sistemas de plantio e variedades adaptadas à nossa realidade”, afirma José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro.

Para os próximos anos, são esperados novos avanços no agro. Segundo o consultor José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro, o Brasil continuará respondendo às demandas globais por alimentos e energia, em curva ascendente. “Somos um dos poucos países com a condição geográfica que temos, clima tropical e tecnologia, que nos permitiu desenvolver sistemas de plantio e variedades adaptadas à nossa realidade”, diz. “Para os países que não conseguem atender suas necessidades, existem poucas alternativas para comprar além do Brasil.”

Ainda segundo ele, os produtores brasileiros conseguem atingir índices impressionantes, mesmo sem apoio governamental expressivo, o que é confirmado pelo relatório do BTG: segundo o documento, o Brasil é o quinto país do mundo com o agro menos subsidiado — o único com produção agrícola considerável à frente é a Argentina.

Crédito ainda é um desafio

O total de recursos para financiar um ciclo anual da produção agropecuária no Brasil está estimado por especialistas em R$ 1,3 trilhão. O valor anunciado pelo governo federal para o Plano Safra 2025/26 foi de R$ 605,2 bilhões — R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 89 bilhões para a familiar —, o que corresponde a pouco mais de 46% das necessidades.

Esse fator se soma às dificuldades de acesso ao crédito no Brasil, que é caro e burocrático, segundo Hausknecht. E com um agravante: a ausência de políticas públicas eficazes voltadas ao seguro rural. Sem contar os entraves logísticos, que atrasam e oneram o escoamento.

Diante deste cenário, o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, avalia que uma das principais dificuldades dos produtores para manter o ritmo de crescimento é equilibrar as contas. “Apesar dos aumentos de safra, o preço por unidade colhida vem caindo, o que até justifica o aumento em volume, como forma de compensar a perda de renda”.

Para Freitas, isso ajuda a explicar a elevação nas adesões de novos membros às cooperativas, de cerca de 10% ao ano. Tanto às agrícolas, que concentram cerca de 50% da colheita de grãos do País, quanto às de crédito, que podem responder, neste ano, segundo a OCB, por até 48% do total de crédito destinado ao agro, superando os valores liberados pelo governo.

Matheus Marino, presidente do Conselho de Administração da Coopercitrus, uma das dez maiores cooperativas agrícolas do País, com presença em três Estados, concorda e acrescenta dois itens à lista de gargalos que o cooperativismo pode ajudar a enfrentar: a diversificação da lavoura — incentivando culturas como cacau e produtos de valor agregado, como azeite e vinho — e a sucessão no campo, como no caso de Silvério. “Precisamos garantir a continuidade dos negócios e, para isso, introduzir e envolver as novas gerações no agro, com tecnologia, escolas e auxílio jurídico” (Estadão)

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