- Conversa entre Mauro Vieira e Marco Rubio ocorre nesta quinta-feira (16/10)
- Representante comercial americano reforçou na véspera caráter político de sobretaxas
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traçou um mapa do que é possível sinalizar aos americanos na mesa de negociação sobre o tarifaço aplicado contra o Brasil.
A primeira reunião presencial entre o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, desde a conversa entre o petista e Donald Trump ocorre nesta quinta-feira (16).
Integrantes do governo Lula adotam cautela, ponderam que o encontro não deve ser definitivo e que, primeiro, vão ouvir as demandas dos EUA. Mas o time brasileiro tem sugestões em três frentes caras aos americanos para sinalizar como oferta e tentar azeitar o clima: discussões sobre etanol, minerais críticos e big techs.
O governo brasileiro pretende pedir a redução das tarifas de 50% ao país e o fim de sanções aplicadas pelos EUA, como suspensão de vistos e punições financeiras a autoridades.
Dois integrantes da gestão americana disseram à Folha que a política externa de Trump para o Brasil não mudou. Isto é, que o governo manterá a pressão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), por decisões contra o big techs e Jair Bolsonaro (PL).
Isso foi explicitado por Jamieson Greer nesta terça. Ele atribuiu as tarifas ao que chamou de censura e preocupação com o Estado de Direito. O governo brasileiro decidiu ignorar o comentário e aguardar o encontro.
Outro aliado de Trump menciona preocupação com a saúde de Bolsonaro. Mas o governo Lula já deixou claro que não tratará de negociações ligadas à política, só à seara comercial. Ainda assim, há a expectativa de que o argumento citado por Greer seja repetido na reunião desta quinta.
A ideia é então fazer gestos nas áreas de interesse aos EUA para empurrar a negociação ao campo comercial. Em relação ao etanol, o governo considera retomar o regime de cotas ou mesmo criar mecanismos para incentivar que o etanol americano entre por portos brasileiros no Sudeste.
O principal temor de produtores e políticos brasileiros com a possível entrada de etanol de milho americano são as usinas do Nordeste, menos mecanizadas e de menor competitividade do que no Sudeste. Trata-se de um tema com alta sensibilidade política e que mobiliza políticos nordestinos no Congresso.
Com relação a minerais críticos, há interesse do Brasil em criar uma indústria para a exploração desses bens. Uma ideia na mesa é oferecer aos EUA uma parceria de investimento, no qual o país ajudaria a bancar a exploração desses minerais em troca da garantia de uma cota de compra.
No setor de big techs, o governo considera haver pouco a fazer, já que as discussões são centradas no Congresso e no STF. Mas haveria a possibilidade de discutir assuntos relacionados à regulação feita pela Anatel às empresas. Para os dois últimos setores, o governo pode oferecer a criação de grupos de trabalho que elaborarão propostas sobre o tema.
Nesta quarta (15/10), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e seus aliados também estiveram em Washington em reuniões no Departamento de Estado, no Departamento do Tesouro e na Casa Branca.
O empresário Paulo Figueiredo disse à Folha estar satisfeito com as conversas. “Fomos bem recebidos como sempre. Não vimos nenhum indicativo de mudança da política externa americana. A gente entende as conversas como naturais e podem ser muito benéficas para o que a gente quer. E que a gente confia na condução do processo pelo barco rumo”, disse (Folha)