Planalto diz que estados deveriam ter pedido ajuda antes; governador de GO ironiza ausência do presidente em reunião.
Governadores de oposição cobraram mais atuação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após reunião no Palácio do Planalto para tratar das queimadas que vêm atingindo grande parte do território brasileiro, afirmando que houve demora nas ações e articulação.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), chegou a afirmar que o governo federal não estava preparado para enfrentar a crises dos incêndios florestais procrastinou as ações de enfrentamento.
Caiado ainda ironizou a ausência do presidente Lula na reunião com governadores. O presidente cumpriu agendas nesta quinta-feira (19/9) em Alcântara (MA).
“Acho isso tão acessório. Tenho que resolver o problema do meu estado. Cada um tem que resolver o problema do seu estado. Se a visão dele [Lula] é que isso aí não tem essa relevância, não cabe a mim discutir isso”, afirmou o governador de Goiás, que tem colocado seu nome como possível candidato à Presidência em 2026.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que as críticas tornadas públicas não foram feitas na reunião: “quem falou para vocês [jornalistas] deve ter participado de outra reunião”.
Rui Costa ainda acrescentou que as reuniões com governadores começaram há três meses e que eventuais pedidos de ajuda dos estados deveriam ter sido feito antes.
O governo Lula reuniu governadores de áreas que estão sendo afetadas pelas queimadas para discutir formas de enfrentar a crise climática.
Além de Caiado, participaram Helder Barbalho (Pará), Mauro Mendes (Mato Grosso), Wilson Lima (Amazonas), Gladson Cameli (Acre), Ibaneis Rocha (Distrito Federal), Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul), Wanderlei Barbosa (Tocantins) e Antonio Denarium (Roraima).
Também estiveram no Palácio do Planalto os vice-governadores Sérgio Gonçalves da Silva (Rondônia) e Antônio Pinheiro Teles Júnior (Amapá).
Alguns governadores afirmaram à Folha em reservado que a reunião correu em um clima amistoso. Apenas Caiado e Mauro Mendes (União Brasil) destoaram e cobraram mais diretamente o governo federal.
No entanto, mesmo governadores mais alindados ao Planalto disseram durante o encontro que os recursos disponibilizados até o momento eram insuficientes e compararam com a ajuda dada pela União à reconstrução do Rio Grande do Sul —estado afetado por inundações.
Caiado saiu da reunião antes do seu término. Aos jornalistas ele fez uma série de críticas ao governo federal.
“O governo federal não estava preparado para o que aconteceu. De repente, foi procrastinando e agora vai chegando o final [da temporada de seca]. Quer dizer, meio de outubro, acredito eu que em novembro já estará chovendo”, afirmou.
“O que nós esperamos é que o governo federal não nos chame na última hora para fazer um comunicado de R$ 500 e poucos milhões”, completou, em referência à medida provisória que liberou R$ 514 milhões para o enfrentamento da crise.
Caiado também defendeu uma rediscussão do pacto federativo.
“Precisamos parar com essa bobagem. Brasília não sabe governar o país. Isso é uma ineficiência completa. Dê estrutura para os governadores poderem montar essas estruturas avançadas de Corpo de Bombeiros, coisa simples, um pequeno galpão com cinco carros ali, com pessoas preparadas para aquilo, com controle de satélite, com informação imediata, e as ações acontecem”, completou.
Mauro Mendes não fez críticas diretas após o encontro, mas disse que a reunião terá efeitos “concretos e mais objetivos” apenas a partir de 2025.
O governador disse que chuvas deverão ocorrer nas próximas semanas, dentro de 15 a 30 dias, e que agora será difícil realizar contratações e compras para enfrentar as queimadas.
“Não posso dizer que o governo federal está agindo tardiamente. Essa reunião está acontecendo, ela é bem-vinda, mas eu disse que, na minha opinião, seus efeitos concretos e mais objetivos vão acontecer para o ano de 2025”, afirmou Mendes.
“Isso porque todo mundo que conhece administração pública sabe que, se liberar hoje um recurso na conta de qualquer estado, dificilmente você consegue comprar veículos, comprar equipamento, alugar aeronaves para que, em 15 dias, tudo isso esteja funcionando”, completou.
O governador do Pará, Helder Barbalho, por sua vez, disse ter pedido ao governo federal uma ajuda de R$ 146 milhões para que seu estado possa enfrentar e amenizar o impacto das queimadas e da seca.
Após a reunião, o ministro Rui Costa rebateu as críticas. “Na reunião que eu participei, em todo período, do início ao fim, não teve mal-estar nenhum. Ao contrário, teve agradecimento dos governadores, todos, unânime, sem exceção, agradecendo apoio até aqui nesses meses do governo federal”, afirmou
“Nós estamos fazendo a reunião há três meses. Se era necessário apoio ou recurso financeiro, quem acha que [precisa] devia ter pedido há três meses”, afirmou o ministro.
Rui Costa também afirmou que, durante a reunião, todos os governadores apontaram que os incêndios têm aspecto criminoso. Nesse aspecto, disse que o ministro Ricardo Lewandowski vai enviar um conjunto de medidas para tornar a legislação criminal mais severa para quem provoca queimadas.
Costa ainda completou que, além da liberação dos R$ 514 milhões, outros R$ 400 milhões serão liberados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) para apoiar os corpos de bombeiro dos estados da Amazônia Legal (Folha)
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Rui Costa diz que incêndios têm presença articulada e organizada do crime
Chefe da Casa Civil afirmou que governadores destacaram aspecto criminoso por trás das queimadas e se queixaram de punições brandas aos detidos.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou nesta quinta-feira (19/9) que os incêndios no país têm presença “articulada e organizada do crime”.
Esta foi a fala mais categórica do governo federal atribuindo ao crime às queimadas, cuja fumaça já cobriu 60% do território brasileiro. A declaração foi dada após uma reunião no Planalto com governadores de áreas atingidas pelas queimadas, para discutir formas de combater essa crise ambiental.
O ministro evitou fazer maiores comentários, porque há investigações em andamento, mas disse que todos os governadores dos estados com queimadas disseram que há aspecto criminoso nos incêndios. Ele afirmou ainda que o ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) prepara medidas para aumentar a pena incêndios florestais.
“As motivações podem ser diversas, mas por trás delas estão sempre intenções criminosas. E o que caracteriza diferença dos outros anos para esse é uma presença articulada e organizada do crime tocando fogo em vários lugares do país”, disse a jornalistas.
“Ficou claro para todos pela extensão e ocorrência simultânea, em áreas diversas a distâncias muito grandes, parece algo sincronizado. Na mesma hora, mesmo dia, regiões a 300 km, 400 km [distantes] uma da outra. Todos começam a tocar fogo na mesma hora. Assim como se um raio caísse em todos lugares ao mesmo tempo e fogo começasse ao mesmo tempo. Fica claro o caráter criminoso”, completou.
Rui Costa disse ainda que os governadores se queixaram de que os presos até o momento foram “imediatamente” soltos, sob pagamento de cerca R$ 200, após terem ateado fogo a extensas regiões. E mencionou as medidas que Lewandowski deve fazer o tema e enviar para a Casa Civil na sexta-feira (20).
Questionado se haveria caráter político nas queimadas, Costa disse que está sob investigação na Polícia Federal e que não ficaria especulando.
O presidente Lula (PT) disse, em reunião com representantes dos três Poderes nesta terça-feira (17/9), que “há indícios fortes” de ação criminosa nos incêndios. Marina Silva (Meio Ambiente), por sua vez, chamou de “terrorismo climática”.
Participaram os governadores Helder Barbalho (Pará), Ronaldo Caiado (Goiás), Mauro Mendes (Mato Grosso), Wilson Lima (Amazonas), Gladson Cameli (Acre), Ibaneis Rocha (Distrito Federal), Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul), Wanderlei Barbosa (Tocantins) e Antonio Denarium (Roraima).
Também estiveram no Palácio do Planalto os vice-governadores Sérgio Gonçalves da Silva (Rondônia) e Antônio Pinheiro Teles Júnior (Amapá).
Do lado do governo, estavam na reunião os também ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), Simone Tebet (Planejamento), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional).
Durante a reunião, Marina Silva informou que foram registrados 690 incêndios em todo o território nacional. Desse total, 298 foram extintos e 179 estão controlados. As unidades ainda combatem 108 focos em todo o país.
A ministra ainda acrescentou que há 106 incêndios que não contam com nenhuma forma de combate, “inclusive devido a situações de difícil acesso”, segundo afirmou.
O ministro da Casa Civil disse ainda que serão anunciados novos recursos na medida em que estados pedirem mais dinheiro, e anunciaram que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) disponibilizará R$ 400 milhões para o apoio aos bombeiros dos estados da Amazônia Legal.
O Brasil passa pela maior seca já registrada, com rios atingindo níveis baixos nunca antes vistos, enquanto registra recordes de incêndio pelo país.
Pressionado pela dificuldade de ter ações efetivas para o combate às queimadas que se espalham pelo país, o governo federal tenta dividir responsabilidades com estados e passa a cobrar governadores.
O movimento vem acompanhado, por outro lado, de reclamações de chefes dos estados sobre falta de articulação, diálogo e agilidade.
O combate aos incêndios cabe aos estados, que também podem proibir o manejo do fogo, por exemplo. A gestão só cabe ao governo federal em áreas da União, como terras indígenas e unidades de conservação. No entanto, historicamente, é de praxe uma cooperação entre os órgãos.
O governo Lula anunciou, em reunião com representantes dos três Poderes nesta terça-feira (17), medidas que tocam alguns dos pontos de entrave até aqui —como a flexibilização do Fundo Amazônia e a reestruturação dos bombeiros. Mas ainda faltam detalhes sobre quais mudanças serão feitas (Folha)