- Objetivo é arrecadar US$ 25 bi em aportes públicos de países, além de outros US$ 100 bi em recursos privados
- Noruega anuncia investimento de US$ 3 bi, e França, 500 milhões de euros em Cúpula de Líderes antes da COP30
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (o TFFF), aposta do Brasil para a COP30 —a conferência sobre mudança climática da ONU— chegou a US$ 5,6 bilhões em investimentos, após anúncios feitos por Noruega e França durante a Cúpula de Líderes em Belém nesta quinta-feira (6/11).
Os valores foram comemorados pelo governo brasileiro, embora ainda representem menos de um quarto (22%) do que o Brasil espera reunir dos diferentes países participantes.
Até esta quinta, 53 países anunciaram apoio político à iniciativa. Na lista estão, por exemplo, Alemanha, Reino Unido, China, União Europeia, França e Emirados Árabes Unidos. O documento segue aberto para que novas assinaturas sejam coletadas.
Apesar de o Ministério da Fazenda ter afirmado desde a concepção do fundo que o objetivo era arrecadar US$ 25 bilhões dos países patrocinadores, às vésperas da COP30 o ministro Fernando Haddad disse que a meta é chegar ao fim de 2026 com US$ 10 bilhões em aportes públicos.
O ajuste no discurso possibilitou a Haddad afirmar que os valores obtidos no primeiro dia de reuniões em Belém ultrapassaram em 50% a meta estipulada para o fim do ano que vem. Segundo ele, anúncios de novos investimentos podem se intensificar nos próximos meses, e a marca de US$ 10 bilhões pode ser alcançada antes do imaginado.
“Acredito que talvez isso aconteça antes do previsto porque nós tivemos aqui alguns anúncios e outros serão feitos nos próximos dias, ainda durante a COP”, disse Haddad.
O presidente Lula (PT) afirma que o fundo deve ser o principal resultado concreto a ser entregue durante a COP30, mas o ritmo de adesões tem desafiado o clima de otimismo. Segundo a imprensa britânica, o Reino Unido, por exemplo, decidiu não investir no fundo até que a viabilidade seja comprovada.
O maior valor até agora foi anunciado pela Noruega. Eles afirmaram nesta quinta que pretendem fazer um aporte de US$ 3 bilhões em dez anos. O primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, disse ser fundamental que seu país apoie a iniciativa. “A interrupção do desmatamento é essencial para reduzir os impactos das mudanças climáticas e conter a perda de biodiversidade.
Não temos tempo a perder se quisermos salvar as florestas tropicais do mundo”, afirmou.
O investimento da Noruega será feito gradualmente até 2035 e obedece a algumas condições. Entre elas, que ao menos 100 bilhões de coroas norueguesas (o equivalente a quase US$ 10 bilhões) devem ser garantidos por outros doadores até 2026.
Além disso, a contribuição norueguesa não poderá ultrapassar 20% do total arrecadado.
Os franceses disseram que planejam investir € 500 milhões. Assim, os dois países se juntam ao Brasil, o primeiro a anunciar um investimento (de US$ 1 bilhão), e à Indonésia, que se comprometeu com o mesmo valor.
Segundo Haddad, a Alemanha prometeu que fará um anúncio nesta sexta-feira (7), após encontro bilateral com Lula. Membros do governo brasileiro esperam de Berlim mais do que o montante investido pelo Brasil. A Holanda sinalizou, mas ainda não formalizou, € 5 milhões para custos operacionais do fundo (estimados em US$ 30 milhões), e Portugal afirmou que entrará com € 1 milhão para os mesmos fins.
A expectativa agora é que o fundo chegue ao seu total de US$ 125 bilhões (20% de investimentos de países, e o restante, alavancado no setor privado) em cerca de três anos.
Apesar de os números a serem atingidos ainda demandarem negociações, o fundo foi elogiado pelas autoridades estrangeiras e por ambientalistas.
Wanjira Mathai, diretora-gerente para a África e Parcerias Globais do Instituto de Recursos Mundiais (WRI), uma organização internacional de pesquisa dedicada ao desenvolvimento sustentável e à preservação do meio ambiente, elogiou o fundo e a destinação prevista nas regras de ao menos 20% dos rendimentos de cada país para comunidades indígenas ou locais.
“Iniciativas como essa demonstram uma grande e bem-vinda mudança no reconhecimento do papel central que os povos indígenas, os afrodescendentes e as comunidades desempenham na proteção das florestas que sustentam a todos nós”, afirmou.
O que é o TFFF
O TFFF é uma proposta inédita para usar recursos públicos e privados no financiamento da conservação ambiental. O mecanismo remunera tanto quem preserva a natureza quanto quem investe nele. É visto pela gestão Lula como um legado a ser deixado pela COP30.
O ritmo de adesões, no entanto, desafia o otimismo de governo. Pelo modelo proposto, mais de 70 países em desenvolvimento –entre eles, o Brasil– poderão receber pagamentos do fundo se mantiverem suas florestas de pé. As checagens, hectare por hectare, serão feitas via satélite de forma recorrente e os recursos serão repassados diretamente a governos nacionais, incentivando esforços ambientais.
O Brasil vê chance de outros países anunciarem seus aportes também, em especial os que participaram da concepção do fundo, como os Emirados Árabes Unidos.
Rendimentos
Pela proposta, o fundo, a ser administrado pelo Banco Mundial, usará os US$ 125 bilhões totais para investir em uma carteira de investimentos diversificados de renda fixa. Os rendimentos obtidos por essas aplicações são estimados em 7% a 8% ao ano.
Os investidores devem ficar com uma fatia de aproximadamente 4% do valor investido ao ano, o mesmo gerado pela aplicação em títulos do Tesouro americano (referência global por ser considerado o investimento mais seguro do mundo e, por isso, pagar juros menores).
O valor a ser repassado é de US$ 4 por hectare, ajustado anualmente pela inflação. Quando houver desmatamento ou degradação por fogo, o pagamento é reduzido –o que faz o fundo gerar um mecanismo de penalização quando houver perda da vegetação.
O governo brasileiro vê o TFFF como um complemento ao mercado de carbono. Enquanto o primeiro se volta à preservação da floresta já existente, o segundo funciona principalmente na recuperação de áreas já desmatadas.
“A gente espera que o TFFF seja uma das grandes entregas da COP, mesmo que a gente não chegue no momento inicial nos US$ 25 bilhões [de aportes de países] e a gente consiga isso ao longo dos meses subsequentes. Só ter o engajamento dos países em um fundo com essa ordem de grandeza já vai ser uma grande entrega”, disse Rafael Dubeux, secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda.
Veja a lista completa de apoios ao TFFF até aqui
Investidores e potenciais investidores
- Alemanha
- Armênia
- Austrália
- Áustria
- Bélgica
- Canadá
- China
- Dinamarca
- Emirados Árabes Unidos
- Finlândia
- França
- Holanda
- Irlanda
- Japão
- Mônaco
- Noruega
- Portugal
- Reino Unido
- Suécia
- União Europeia
Detentores de florestas tropicais
- Antigua e Barbuda
- Bolívia
- Brasil
- Burkina Fasso
- Camboja
- Colômbia
- Costa Rica
- Cuba
- Dominica
- Equador
- Gana
- Guiana
- Guiné
- Guiné do Sal
- Honduras
- Indonésia
- Libéria
- Madagascar
- Malásia
- México
- Mianmar
- Moçambique
- Nigéria
- Panamá
- Papua-Nova Guiné
- Peru
- República Democrática do Congo
- Ruanda
- São Tomé e Príncipe
- Serra Leoa
- Suriname
- Sudão do Sul
- Zâmbia (Folha)






