Contratos de exportação precisarão ser revistos e os embarques ficarão “inviáveis” neste ano.
Os frigoríficos brasileiros “pausaram” a produção e o processamento dos cortes de carne bovina destinados especificamente aos Estados Unidos. Com a imposição da tarifa de 50% sobre os produtos nacionais, os contratos de exportação precisarão ser revistos e os embarques ficarão “inviáveis” economicamente neste ano, afirmou Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Com isso, a expectativa do Brasil de dobrar as exportações de carne bovina aos norte-americanos em 2025 será reavaliada. Há dúvidas também sobre os contêineres que estão nos portos brasileiros ou em alto mar a caminhos dos Estados Unidos. A maior parte das cargas que iriam para os norte-americanos deverá ser redirecionada para a China, Sudoeste Asiático e Oriente Médio.
“As indústrias brasileiras já decidiram pausar, temporariamente, a produção destinada aos Estados Unidos. As indústrias diminuíram muito o fluxo de produção da carne específica que vai aos Estados Unidos”, afirmou Perosa em conversa com jornalistas correspondentes estrangeiros nesta sexta-feira (11/7). Segundo ele, as empresas estão “apreensivas” com o que pode acontecer.
Em 2024, o Brasil exportou 220 mil toneladas de carne bovina aos norte-americanos. No primeiro semestre deste ano, o volume embarcado passou de 181 mil toneladas e havia expectativa de dobrar a quantidade até o fim do ano.
“Algumas questões ainda estão em aberto, estamos buscando verificar junto ao governo americano. Os contratos terão que ser revistos. Sob essa tarifação, é inviável economicamente que o Brasil envie carnes aos Estados Unidos”, comentou Perosa.
Não há clareza sobre o que acontecerá com as cargas que já estão nos portos ou em contêineres nos navios em direção aos portos norte-americanos. “É um momento de incerteza”, ressaltou o executivo.
Perosa explicou que o Brasil exporta aos Estados Unidos, basicamente, cortes do dianteiro do boi, usados como ingrediente para os hambúrgueres consumidos no país. Como essa carne não tem consumo pela população brasileira, as cargas deverão ser redirecionadas para destino onde haja demanda.
“O rearranjo é dado com novos parceiros que estamos procurando intermediar, com países ao redor do mundo, com a possibilidade de novas aberturas de mercado. Mas, imediatamente, o rearranjo é com países para os quais a gente já exporta, obviamente a China, o Sudoeste Asiático,o Oriente Médio. Esses são os redirecionamentos mais óbvios para as indústrias nesse momento em que os Estados Unidos não poderão receber as cargas”, disse no evento.
Ele disse que o setor ainda está “procurando entender” como precisará atuar para reescalonar e redirecionar a produção de carne bovina. Perosa está nos Estados Unidos, onde terá reuniões com importadores. “Estamos guardando as negociações governamentais e trabalhando do lado privado, com os importadores, para ver como podemos tentar influenciar o governo americano a retroceder nessa atitude que teve aos produtos brasileiros”, afirmou.
Segundo o presidente da Abiec, a visão dos importadores norte-americanos é de que a decisão de Donald Trump é “muito danosa” e que “não há fundamentos técnicos e econômicos para embasar” a medida.
“É assustador que o setor produtivo fique fragilizado e exposto a decisões não econômicas e comerciais. É do jogo comercial global que decisões comerciais sejam tomadas, como aumento de tarifa ou compensação de produto”, disse. Segundo ele, a decisão foi “política” e fomentada por grupos no Brasil.
“É muita imprevisibilidade. Isso faz com tenhamos que tomar decisões de redirecionamento, de reescalonamento de produção, impacta empregos no Brasil. Não queremos ser alvo de disputa política que prejudica o setor produtivo brasileiro. Os limites da atuação política não podem causar prejuízo à população brasileira e americana”, completou.
Perosa explicou que as exportações brasileiras têm sido complementares à produção pecuária norte-americana, que passa pelo menor ciclo em 80 anos, o que eleva os preços da proteína animal internamente. “Estamos ajudando a baratear o custo da carne dentro do país, em situação de parceria, com volume intenso para suprir esse momento americano”, disse. Segundo o executivo, a carne bovina produzida nos Estados Unidos custa cerca de US$ 80 o quilo, enquanto o produto brasileiro é vendido, em média, a R$ 50 (Globo Rural)