Artigo assinado pelo conselho editorial do jornal britânico aponta que ratificação do acordo é ‘chance de reforçar o livre comércio’
O jornal britânico Financial Times anunciou apoio à aprovação do acordo entre União Europeia e Mercosul. O artigo de opinião, assinado pelo conselho editorial do jornal, foi publicado na última quarta-feira, 11, e traz argumentos a favor da ratificação do acordo, que teve sua conclusão anunciada na semana passada. O jornal afirma que a ratificação do acordo é uma “chance de reforçar o livre comércio”.
O veículo destaca que o acordo, cujas negociações começaram em 1999, chegou a entrar na fase de conclusão em 2019, mas essa versão não chegou a ser assinada. O FT aponta agora o desafio da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para enfrentar a oposição ao tratado dentro da UE.
“A UE continua sendo o principal obstáculo para colocar (o acordo) em prática, o que é uma prova do trabalho realizado pelos governos do Mercosul na construção de consenso dentro de seu bloco”, diz o texto. “Von der Leyen terá que ver se consegue criar o ímpeto entre os governos da UE para superar as objeções da França, Polônia e alguns outros, que dizem que o acordo cria muitos desafios para seus agricultores. Aqueles que se importam com o sistema de comércio global devem torcer para que Von der Leyen prevaleça.”
O anúncio da conclusão do acordo não garante que o tratado se tornará realidade: o texto final ainda passará por revisões, entrará em fase de tradução e só depois é efetivamente assinado. Então, precisa ser aprovado pelo Conselho Europeu e pelo Parlamento Europeu, fase em que países opositores podem tentar bloquear o seu avanço.
O Financial Times afirma que o acordo abre oportunidades comerciais e também tem “importância global simbólica”, principalmente com a eleição de Donald Trump como próximo presidente dos Estados Unidos e a expectativa de que o país poderá se isolar do cenário internacional.
“Mesmo sob Joe Biden, os EUA essencialmente ignoraram as regras comerciais em um nível multilateral e consideraram todos os acordos comerciais significativos como anátema. A atitude de Donald Trump em relação a um sistema baseado em regras provavelmente será ainda mais desdenhosa. Este seria um excelente momento para mostrar que a UE e os grandes mercados emergentes podem continuar a construir uma infraestrutura de direito comercial regional – a segunda melhor opção em relação aos acordos da OMC, mas melhor do que nada”, diz o artigo.
Quanto à oposição da França ao acordo, o jornal britânico aponta que as dificuldades políticas do presidente francês, Emmanuel Macron, não são triviais, mas que seria “tolice” deixar passar a oportunidade de fortalecer os laços com um grande bloco comercial de mercados emergentes em meio à perspectiva de tornar a UE uma força geoeconômica.
“Os laços comerciais não se traduzem diretamente em influência geopolítica, mas uma UE que não consegue se unir para assinar acordos comerciais preferenciais – uma competência centralizada – terá pouca credibilidade para projetar poder em outro lugar”, diz o texto.
O jornal conclui pontuando que falhar uma vez na aprovação do acordo “foi lamentável” – mas “falhar duas vezes seria reprovar uma oportunidade-chave de defender o livre comércio diante da ameaça da Casa Branca” (Estadão)