Por Celso Ming e Pablo Santana
Produção cresce a passados largos, mas a falta de capacidade estática para armazenagem ameaça ganhos e produtividade do agronegócio brasileiro.
As safras de grãos vão batendo recordes de produção, mas a infraestrutura de armazenamento vai ficando para trás e impõe perdas para o agronegócio e para as exportações do Brasil.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê para a atual temporada uma colheita de 322,2 milhões de toneladas de grãos, para um parque de armazenagem com capacidade estática para 210 milhões de toneladas – uma diferença de 112,2 milhões de toneladas entre o que será colhido e o que poderia ser estocado.
Ou seja, os espetaculares ganhos em produtividade na produção, que emprega tecnologias de ponta e também se vale da expansão das fronteiras agrícolas, não são acompanhados por investimentos em estocagem. A capacidade de armazenagem cresceu, em média, 2,80% ao ano, muito abaixo do que o País precisa para guardar e escoar a produção, o que leva a situações negativas já vistas nos últimos anos: milhares de toneladas de soja e de milho empilhadas a céu aberto, com perdas pela exposição à umidade e a temperaturas inadequadas. É fator que gera perda de qualidade e perda de competitividade do produto nacional.
Nesse campo, as cooperativas nem sempre estão em condições de ajudar. Assim, um dos grandes desafios é o de aumentar a capacidade de armazenagem dentro das fazendas. Hoje, apenas 16% das fazendas possuem capacidade de armazenamento, o que deixa os produtores dependentes de terceiros para armazenar, a maioria das vezes em centros urbanos.
A necessidade de investimentos em infraestrutura é outra questão-chave, já que os terminais portuários se encontram no limite de capacidade e são cada vez mais sujeitos a intempéries.
Como observa Paulo Bertolini, presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas, uma política voltada para garantir o armazenamento nas fazendas ajudaria a reduzir a ineficiência em toda a cadeia de produção e distribuição, melhoraria a dinâmica das colheitas e amenizaria custos, sobretudo os de logística. Também diminuiria a demanda por caminhões que formam filas quilométricas para descarregar nos terminais.
Um jeito de ajudar a atenuar esse problema seria reduzir as restrições às linhas de financiamento dedicadas para essa expansão.
O Plano de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), do Plano Safra, é hoje a principal fonte de recursos, mas tem se esgotado rapidamente – o que obriga o produtor a investir em outras prioridades, como a expansão vertical da atividade. Outro fator que dificulta a expansão da capacidade de armazenamento é, muitas vezes, a má qualidade da energia elétrica distribuída no campo.
São entraves que precisam ser superados com urgência, tendo em vista a relevância do agro para a economia brasileira (Estadão)