O dirigente da China, Xi Jinping, se encontra novamente com Lula. Provavelmente terão pouco a discutir com relação ao agronegócio, mas a simples manutenção da estabilidade comercial entre os dois países é bom sinal para o setor.
Foram-se os tempos de apenas chá, lichia e especiarias nessa relação comercial, como citado pelo líder chinês em artigo na Folha. Os negócios subiram de patamar e se tornaram essenciais para os dois países.
O Brasil já caminha para US$ 500 bilhões em exportações do setor para a China. Nos últimos 25 anos, conforme cálculos da coluna, foram US$ 494 bilhões. Nesse mesmo período, o Brasil gastou US$ 62 bilhões na China. Os números levam em consideração alimentos e outros produtos relacionados à atividade agropecuária e florestal.
A urbanização, o aumento de renda e a necessidade de insumos na produção de proteínas na China foram os responsáveis pela evolução do agronegócio brasileiro. Inicialmente, os negócios giravam apenas em torno da soja. Do início de 2000 a outubro deste ano, saíram 785 milhões de toneladas de soja em direção à China, no valor de US$ 333 bilhões.
Além da soja, os chineses começaram a ter interesse pelas carnes brasileiras. Os negócios eram pouco expressivos entre os dois países até 2015, quando as exportações brasileiras de carnes “in natura” superaram US$ 1 bilhão.
Além da exigência da demanda interna, devido ao maior poder aquisitivo da população, a China foi obrigada a buscar no Brasil as proteínas que ficaram escassas no país devido a sérios problemas sanitários nos anos recentes.
Influenza aviária e peste suína africana abriram caminho para as carnes brasileiras de frango e de porco. Já a demanda pela carne bovina brasileira ocorreu principalmente pela renda e pela mudança de consumo dos chineses. O país asiático irrigou o setor de carnes brasileiro com US$ 52 bilhões nos últimos 25 anos.
O leque de importações chinesas aumenta nos últimos anos, incluindo açúcar, milho, algodão, madeira, celulose e, mas recentemente, o café.
Apesar dessa boa relação comercial com o Brasil, os chineses buscam alternativas em outras regiões, como a África, para a garantia da segurança alimentar. Esse objetivo ficou ainda mais claro após a guerra comercial com os Estados Unidos no primeiro governo de Donald Trump, que está de volta, e com as tentativas frustradas de Jair Bolsonaro de boicotar a China.
A guerra comercial com os Estados Unidos abriu caminho para novos produtos brasileiros na lista de exportação, e os volumes aumentaram. Em 2021, os chineses importaram 19 milhões de toneladas de milho dos EUA, e nada do Brasil.
Em 2023, o Brasil exportou 16,1 milhões de toneladas desse cereal para a China, e os Estados Unidos, 5,6 milhões.
Um novo produto entra na lista de interesses dos chineses: o café. O Brasil poderia tentar ocupar espaço no país asiático com café industrializado, o que não conseguiu em outras regiões, como Estados Unidos e União Europeia.
Entre as principais dependências brasileiras do mercado chinês no setor de agronegócio estão fertilizantes e agroquímicos. Os gastos com adubo somam US$ 14 bilhões em 25 anos, e os com agrotóxicos, US$ 11 bilhões, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) (Folha)