Etanol é o ponto mais sensível do agro brasileiro para tarifas de Trump

A redução da tarifa de importação para o etanol de milho, conforme quer o presidente Donald Trump, pode desequilibrar cadeia de etanol se não houver um aumento interno da demanda.

A cadeia produtiva do etanol é no agronegócio brasileiro a mais ameaçada pelos potenciais impactos das políticas de comércio exterior do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na avaliação da sócia da PwC Brasil Mayra Theis. Ao Estadão/Broadcast Agro, ela avaliou que possíveis medidas dos EUA, como a adoção de tarifas de reciprocidade ou negociações que permitam a entrada do etanol americano no Brasil com taxação menor, podem afetar a relação entre oferta e demanda do produto internamente.

Theis explicou que, caso o Brasil reduza a tarifa de 18% sobre o etanol dos Estados Unidos, isso poderia gerar um aumento nas importações do produto. Contudo, ela alertou que, sem um arranjo adequado para a indústria nacional, como o aumento da porcentagem de mistura do etanol anidro na gasolina, essa mudança pode criar desequilíbrios no mercado interno. “Sem ajustes na demanda interna, como o aumento da mistura do etanol anidro, essa mudança poderia prejudicar a indústria nacional”, afirmou.

Na semana passada, o Estadão/Broadcast mostrou que os americanos querem abrir o diálogo a respeito do imposto de importação que o Brasil aplica sobre o etanol comprado dos Estados Unidos.

O aumento da entrada de etanol americano no Brasil poderia aliviar a pressão sobre os produtores de milho dos EUA, especialmente caso a China reduza suas compras do grão, explicou a sócia da PwC. No entanto, ela destacou que o impacto para o Brasil dependeria das contrapartidas negociadas e da capacidade do mercado interno de ampliar o consumo do biocombustível.

Atualmente, o mercado de etanol brasileiro é predominantemente interno, com volumes exportados praticamente insignificantes. Isso torna mais desafiador aumentar a demanda interna para absorver um maior volume de etanol importado. “Nosso mercado de etanol é majoritariamente interno, ao contrário do açúcar, que tem grande volume exportado. Se essa demanda não crescer, qualquer negociação nesse sentido se torna uma moeda de troca complexa, podendo prejudicar o setor nacional”, observou a executiva.

Theis também ressaltou que o Brasil poderia se tornar um destino atrativo para o etanol americano, mas que isso só seria vantajoso caso o País conseguisse expandir a demanda interna. Segundo ela, o setor de etanol no Brasil já enfrenta desafios como a concorrência com a gasolina, altos custos e a tributação elevada.

A especialista enfatizou que a introdução de mais etanol importado sem uma política pública para incentivar o consumo poderia prejudicar os produtores brasileiros. “Se a demanda não crescer, qualquer negociação nesse sentido pode prejudicar ainda mais o setor nacional”, alertou a sócia da PwC.

Outros reflexos no agronegócio

Além dos impactos diretos na cadeia do etanol, as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, no contexto de sua crescente disputa comercial com a China, devem provocar uma reorganização dos fluxos comerciais globais, afetando preços e cadeias produtivas, conforme a consultoria.

Para o agronegócio brasileiro, no entanto, a guerra comercial pode abrir novas oportunidades. Theis destacou que, se os EUA receberem novas tarifas da China, o Brasil pode aumentar ainda mais sua participação no mercado chinês, especialmente com produtos como a soja e a carne bovina.

No curto prazo, a tendência é de que o Brasil continue ganhando espaço nas exportações de soja para a China, com a guerra comercial já tendo estabelecido novos fluxos de mercado. “Com a manutenção dessas tarifas, há expectativa de que o Brasil possa registrar recorde de embarques para a soja”, afirmou (Estadão)

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