Geopolítica no agro foi debatida durante o Fórum do Agronegócio, promovido pela Sociedade Rural do Paraná (SRP), em Londrina (PR).
O setor de café está tentando replicar o modelo que foi usado pelos empresários do suco de laranja e contratou escritórios especializados em lobby e técnicos das áreas comercial e agropecuária. O objetivo é mostrar ao governo dos Estados Unidos que a taxação imposta a diversos produtos brasileiros pode ser prejudicial aos habitantes daquele país.
A informação foi dada pelo deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), Pedro Lupion (PP-PR), na manhã desta quinta-feira (4/9), durante o Fórum do Agronegócio, promovido pela Sociedade Rural do Paraná (SRP), em Londrina (PR).
De acordo com Lupion, que esteve nos Estados Unidos na última semana, no caso da laranja, os números provaram que o café da manhã do americano ficaria mais caro com uma eventual taxação e a fruta cítrica escapou do tarifaço.
“Para o café, estamos no mesmo caminho”, ressaltou. O deputado, no entanto, evitou dar um prazo para que os cafeicultores brasileiros recebam efetivamente a boa notícia. “Infelizmente, a questão também envolve política, mas estou otimista e creio que teremos boas novidades para quem produz café”, justificou.
As declarações do presidente da FPA aconteceram durante um painel intitulado “Geopolítica no agro: produção eficiente e acesso a mercados”, que teve mediação de Cassiano Ribeiro, editor-executivo da Globo Rural. Ele conduziu o debate, que reuniu também o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD); o presidente da SRP, Marcelo Janene El-Kadre; e Wagner Kronbauer, sócio-diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Questionado sobre o atual momento da geopolítica mundial, marcado por guerras e brigas comerciais e ideológicas, Ratinho Júnior destacou que o grande problema do mundo para o futuro próximo é a segurança alimentar, com a perspectiva de a população mundial chegar a 10 bilhões de habitantes até 2050.
“O Brasil é a única nação que pode aumentar a sua produção de alimentos sem desmatar, utilizando terras degradadas e investindo em irrigação”, destacou o governador. Para ele, com foco em agroindustrialização, o país pode se tornar um grande protagonista na economia mundial. “Temos que deixar de fazer o mero extrativismo agrícola”, detalhou.
Para exemplificar, Ratinho Júnior destacou o exemplo do Paraná, que é o segundo maior produtor de grãos do Brasil, mas precisa comprar soja e milho de outros Estados para a sua produção de carne animal, principalmente frango e peixe, que, depois de industrializados, são exportados a 170 países, com valores agregados.
“Outra vantagem de nosso país será a geração de energia limpa e renovável, como biogás, solar e eólica. Podemos ser uma Arábia Saudita da energia verde. É só parar de ficar brigando com os outros”, enfatizou Kronbauer também defendeu que as negociações com outros países sejam sempre conduzidas tecnicamente e apoiadas em dados, os quais comprovam a eficiência e a sustentabilidade da produção agropecuária brasileira. “Nossa diplomacia ainda usa pouco o poder de nossos números. O agro não pode se prestar a ser palco de discussões ideológicas”.
Anfitrião do evento, o presidente da SRP ressaltou que os agropecuaristas estão atentos à geopolítica, mas não podem perder o foco em produzir. “Hoje, apesar das intempéries climáticas, os nossos desafios estão mais da porteira para fora do que da porteira para dentro, mas a nossa grande obrigação é produzir bem, em quantidade e qualidade, e isso sabemos fazer”, argumentou Marcelo Janene El-Kadre.
PIX e etanol
Participando diretamente de rodadas de negociações com técnicos do governo americano, Pedro Lupion comentou que as barreiras de importações para o etanol de milho americano e a crescente produção de etanol a partir do milho no Brasil geram grande preocupação para o governo de Donald Trump, além do Pix, que causa prejuízo a empresas americanas de operações financeiras e, claro, as questões políticas. “São detalhes que formam um pano de fundo complexo”, explicou.
Questionado por Cassiano Ribeiro sobre quando efetivamente anunciará para qual cargo deve concorrer nas eleições de 2026, Ratinho Júnior preferiu despistar, respondendo que está orgulhoso com o bom momento, principalmente do ponto de vista da economia, pelo qual passa o seu Estado, e que uma decisão sobre concorrer ou não à Presidência da República deve ficar para o próximo ano (Globo Rural)