Entrada dos EUA na guerra contra o Irã coloca custos do agro em risco

Por Miguel Daoud

A escalada militar no Oriente Médio ameaça o fechamento do Estreito de Ormuz, com impactos diretos nos custos de fertilizantes, combustíveis e logística.

A entrada oficial dos Estados Unidos no conflito entre Israel e Irã neste sábado (21/6) elevou de forma dramática o risco geopolítico global e acendeu um alerta vermelho para o agro brasileiro.

Ao autorizar ataques aéreos contra três instalações nucleares iranianas, o governo norte-americano selou seu envolvimento direto na guerra. A reação do Irã foi imediata: parlamentares do país afirmaram que podem fechar o Estreito de Ormuz, caso considerem seus interesses ameaçados.

O Estreito de Ormuz é uma artéria vital do comércio global. Por ele passam cerca de 20% de todo o petróleo transportado por via marítima no mundo — aproximadamente 18 a 20 milhões de barris por dia. Também trafegam por ali derivados petroquímicos, como gás natural liquefeito e fertilizantes nitrogenados, amplamente utilizados na agricultura. Qualquer interrupção nessa rota teria efeito dominó sobre cadeias produtivas em todos os continentes.

Impactos diretos para o agro brasileiro

O agro brasileiro, embora geograficamente distante do conflito, é profundamente dependente da estabilidade logística e energética mundial. Traço quatro principais impactos reais e imediatos ao agravamento do conflito:

  1. Disruptura logística global: com um possível bloqueio do Estreito de Ormuz, navios teriam que contornar longas rotas alternativas, aumentando tempo e custos de transporte. Isso afetaria diretamente o frete marítimo de fertilizantes e insumos agrícolas, que o Brasil importa em grande volume.
  2. Alta nos preços dos combustíveis e fertilizantes: o petróleo já começou a subir com a tensão no Golfo Pérsico, e analistas não descartam que o barril do tipo Brent ultrapasse os US$ 100 se houver de fato o fechamento do estreito. Isso encarece diesel, transporte, e também fertilizantes — que já vinham sofrendo pressões de preço após sanções sobre Rússia e restrições logísticas globais.
  3. Pressão sobre margens dos produtores: com custos logísticos, de insumos e de energia em alta, a rentabilidade das lavouras brasileiras pode ser comprometida. O milho, a cana-de-açúcar e a soja, culturas altamente dependentes de ureia e adubos nitrogenados, serão diretamente afetadas.
  4. Instabilidade cambial e inflação interna: o real tende a se desvalorizar diante do aumento do risco global. Isso gera dois efeitos simultâneos: aumenta o custo das importações e pressiona a inflação — justamente no momento em que o produtor já enfrenta margens apertadas e uma temporada de incertezas climáticas.

A guerra no Oriente Médio ganhou uma nova dimensão com a entrada dos EUA, e as ameaças do Irã ao fechamento de Ormuz transformaram o que era uma crise regional em uma ameaça global. Para o Brasil, essa escalada representa mais do que um alerta: é uma evidência de que o agro — mesmo sendo altamente produtivo — segue vulnerável à geopolítica e à logística mundial.

Em tempos de incerteza, planejamento e reação rápida são as melhores ferramentas para manter a competitividade e a resiliência do campo brasileiro. O produtor precisa estar atento, e o governo precisa agir para garantir que o Brasil não seja penalizado por uma guerra que está longe de nossas fronteiras, mas perto demais de nossa realidade econômica (Canal Rural)

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