Mapa do Ensino Superior mostra crescimento de mais de 1000% no número de graduações ligadas ao setor; investimento maior foi em educação a distância.
Cursos de ensino superior ligados ao agro, ambiente e veterinária tiveram crescimento de mais de 1000% em dez anos. O aumento tanto da oferta quanto do número de matriculados foi mais expressivo na graduação a distância e instituições particulares, mas também aparece entre cursos presenciais. Os dados são do Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado dia 12/3, pelo Instituto Semesp.
O curso de Agronomia a distância, por exemplo, sequer existia em 2013 e, em 2023, último ano com dados disponíveis, tinha 45 mil alunos. Já os de Gestão de Agronegócio, também em EAD, cresceram 26 vezes em dez anos, passando de cerca de 200 alunos para 7,3 mil.
Medicina Veterinária registra 3,5 mil estudantes atualmente e tinha apenas 314 em 2017, ano em que passaram a ser autorizados cursos na modalidade EAD. O crescimento entre as graduações presenciais também se dá especialmente por causa da Veterinária, que aumentou 148%, a grande maioria em instituições particulares.
Outros cursos que tiveram o número de alunos bastante aumentado em educação a distância foram Gestão Ambiental, Engenharia Ambiental e Zootecnia. Essas graduações foram agrupadas no relatório com o nome de Agrossistema. Essa é a primeira vez que o Semesp, entidade que representa as instituições de ensino superior privado, dá destaque a esse grupo de cursos.
“É uma área pujante da economia brasileira, que muita gente acha que não precisa de ensino superior para atuar, mas que na verdade requer cada vez mais profissionais muito qualificados”, diz o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato.
Segundo ele, apesar do crescimento, há espaço para aumento ainda mais expressivo porque os estudantes em cursos ligados ao setor representam só 4,5% do total no País.
A área se destaca mesmo em um cenário já de grande crescimento em EAD nos últimos anos. Enquanto, no mesmo período, a quantidade de cursos a distância das demais áreas aumentou 700%, os que fazem parte do Agrossistema cresceram 1077%. Capelato acredita que o maior investimento em cursos a distância se deu porque muitos dos jovens interessados nessas áreas estão foram dos centros urbanos.
Já as matrículas em cursos presenciais em outras áreas tiveram queda de 19% entre 2013 e 2023, enquanto as direcionadas ao setor cresceram 26%.
O Ministério da Educação (MEC) tem prometido maior regulação para o setor de EAD. Esta semana, como mostrou o Estadão, foi prorrogada por mais um mês a proibição da criação de novos cursos e vagas em educação a distância no ensino superior privado. O governo federal prometia entregar um novo marco regulatório para a área, o que também ainda não saiu.
Há questionamentos sobre qualidade dos cursos que têm pouca ou nenhuma interação presencial. Por outro lado, eles são opção para estudantes mais velhos, mais vulneráveis e que moram longe dos grandes centros.
Estudantes têm renda maior e não trabalham
A estimativa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda é de que o crescimento no PIB agropecuário em 2025 será de 6%, ante aumento de 2,5% do PIB geral. Com isso, o setor tende a ampliar sua participação no PIB nacional, historicamente entre 6,5% e 7%.
O crescimento dos últimos anos chamou a atenção do ensino superior privado, que viu como uma possibilidade de investimento. Enquanto o número de instituições particulares com cursos nessas áreas foi de 436 para 625 em dez anos, a quantidade de universidades públicas praticamente não mudou, foi de 173 para 178.
O relatório mostra que o perfil dos estudantes dessa área é um pouco diferente da média no País, assim como as mensalidades também são mais altas. São mais homens, com renda maior e com menor parcela de pretos e pardos.
Quase 60% deles têm até 24 anos e não trabalha, quando, nos demais cursos, esses índices são de 43,7% e 33%, respectivamente.
Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins têm a maior proporção de alunos em cursos do Agrossistema em comparação ao restante das áreas (Estadão)