Realizar a cura correta do umbigo e possibilitar ao animal o consumo do colostro são ações importantes para prevenir doenças oportunistas e evitar infecções
O nascimento dos bezerros demanda cuidados especiais que começam logo após o parto, a fim de evitar intercorrências que possam comprometer a produtividade da fazenda e o bem-estar dos animais. Mamar o colostro para fortalecer o sistema imunológico e fazer a cura correta do umbigo nos primeiros dias de vida para evitar infecções são algumas das medidas necessárias para que o rebanho atinja um bom índice de taxa de desmame.
“Esse é um dos principais indicadores para estabelecer uma boa eficiência numa propriedade, buscar uma taxa de desmame de 75% e produzir em torno de 160 kg de bezerros desmamados por vaca exposta na estação de monta”, observa o zootecnista e diretor técnico comercial da Connan, Bruno Marson.
Para atingir essa meta, o cuidado com o bezerro a partir do seu nascimento é crucial. Se a fazenda não tem um bom cuidado a partir desse momento, o animal pode desenvolver uma doença ou infecção e até mesmo vir a óbito, o que impacta na taxa de desmame, prejudicando o desempenho da propriedade.
Marson destaca que um dos pontos principais desse manejo inicial é fazer com que o bezerro mame o colostro da mãe. O período ideal para que isso ocorra é em até quatro horas após seu nascimento. Isso é essencial porque a cria nasce sem nenhuma imunidade, que chega até ela via esse colostro.
“Nesse momento os intestinos do bezerro ainda conseguem absorver as imunoglobulinas que fazem com que seu sistema imunológico se prepare para combater eventuais infecções. Porém, se ele não mamar o colostro na quantidade e no tempo correto, o animal pode ter uma infecção muito grave e vir a óbito ou ter seu crescimento prejudicado”, alerta.
O zootecnista destaca que é importante a equipe da fazenda monitorar as vacas prenhas para que, ao nascer do bezerro, verificar se ele realmente ingeriu o colostro. Se, ao passar o período de quatro horas isso ainda não tiver ocorrido, o indicado é intervir e, se necessário, conter a fêmea e fazer esse animal mamar. Se a cria ingerir esse colostro em até quatro horas, a transferência de imunidade passiva em relação ao tempo do nascimento tem 80% de eficácia de absorção. Já 12 horas após o nascimento, a eficácia cai a 50%.
Ele observa que alguns trabalhos apontam que a transferência de imunidade via colostro tem um índice muito variável de falhas, no qual de 7% até 45% dos bezerros ficam sem mamar o colostro adequadamente. “Normalmente essas falhas ocorrem com as novilhas, por serem mais jovens e inexperientes e no primeiro parto não saberem muito bem como lidar com o bezerro. Além disso, elas têm o úbere normalmente mais sensível, por isso sentem mais dor e acabam rejeitando essa primeira mamada do bezerro”, detalha.
A intervenção, se necessário, deve ser feita com cuidado, pois logo após o parto ocorre a estampagem ou imprinting, que é um processo comportamental de reconhecimento e criação do vínculo materno-filial. Porém, se esse processo falha, a fêmea pode rejeitar a cria e gerar um problema, uma vez que aquele bezerro terá de ser alimentado pelo banco de colostro da fazenda. “Quando a vaca começa a lamber e vocalizar, ela estimula o bezerro na questão auditiva e ele consegue identificar sua mãe. Porém, se entra um funcionário nesse momento, a fêmea pode reagir e, se esse processo não ocorrer do jeito certo, o bezerro pode ser rejeitado”, avisa.
Marson também enfatiza a importância da cura do umbigo, que deve ser feita com bastante atenção para evitar que o local se transforme um uma porta aberta para infecções que podem desencadear um desempenho muito ruim ou possível óbito. O zootecnista explica que o processo é bem simples, com a imersão do umbigo em uma solução de iodo 10% por 20 segundos. Ele lembra que não há necessidade de cortá-lo, a não ser que fique muito comprido, aí pode ser reduzido em quatro ou cinco dedos.
“A cada imersão é preciso trocar o iodo, pois o líquido acaba perdendo sua diluição e eficácia, além de ficar contaminado. O ideal é fazer a cura até o quarto dia e jogar um mata-bicheira em sua volta para evitar a aproximação de moscas. A equipe deve observar se realmente o umbigo está bem curado e tomar cuidado porque às vezes ele está seco, mas pode haver fonte de infecção em alguma dobra. Por isso é importante revisar essa cura de umbigo com frequência”, afirma Marson.
Nutrição dos bezerros
Durante seu primeiro mês de vida o bezerro se alimenta apenas de leite. A partir do quarto mês, mais da metade da sua alimentação já vem do pasto ou do suplemento. Com o passar do tempo, o animal vai ficando mais velho e buscando outras fontes de alimento, que podem ser supridas através do creep feeding, um método de complementar a dieta de animais jovens, principalmente em bezerros de corte, oferecendo ração aos animais que ainda estão com suas mães.
“A partir do quarto mês a adição do suplemento à alimentação do animal pode ser bastante benéfica, pois ele desenvolve mais papilas ruminais para absorção de nutrientes, fica muito mais bem preparado e com um desempenho superior àquele que se alimentou apenas de leite ou de leite e pasto”, compara Marson. “É um animal que vai conseguir aproveitar muitos os ácidos graxos que estão sendo produzidos no rúmen. O grande objetivo do creep feeding é melhorar o desenvolvimento do trato digestivo para que esse animal consiga ganhar mais peso, além de suprir a quantidade de nutrientes que o leite já não supre mais.”
A união de cuidados a partir do nascimento e nutrição adequada são primordiais para que a fazenda tenha um bom desempenho produtivo. “Adotando essas cautelas, o produtor garante o bem-estar e bom desempenho do animal. A complementação alimentar com suplemento pode ser o incremento que falta para o retorno financeiro mais vantajoso para a propriedade”, finaliza Marson.