Evento em Piracicaba reuniu especialistas, produtores e pesquisadores para debater desafios agronômicos da cana e apresentou avanços inéditos em produtividade e fitossanidade
O CTC – Centro de Tecnologia Canavieira realizou hoje, em sua sede em Piracicaba (SP), a primeira edição da Arena de Debates Esfera, reunindo especialistas, produtores e consultores do setor sucroenergético em torno dos principais desafios agronômicos da cana-de-açúcar. O encontro marcou dois avanços de grande relevância: o lançamento da plataforma Esfera e a apresentação de uma nova descoberta científica sobre a Síndrome do Murchamento da Cana.
A Esfera nasce como um espaço de conexão permanente para todos os elos da cadeia da cana, oferecendo um ambiente de troca de conhecimento e colaboração genuína em busca de soluções para os desafios mais complexos do setor. “O Brasil é referência na cultura da cana de açúcar e a Esfera chega para ser o palco de debate do setor nos temas técnicos mais relevantes que visam expandir o conhecimento e aplicabilidade de diferentes práticas de manejo que levarão ao aumento da produtividade. Nossa proposta é fomentar a colaboração e manter o protagonismo da cultura da cana-de-açúcar na agenda da transição energética. Junto com os nossos clientes nós vamos impulsionar essas conexões, colocando ciência e inovação a serviço de um futuro mais competitivo para o setor”, destacou César Barros, CEO do CTC.
Ao longo do dia, os debates foram marcados por análises técnicas e relatos práticos de usinas e produtores, que reforçaram a gravidade da murcha da cana para a produtividade dos canaviais. Painéis sobre clima, fitossanidade e manejo destacaram como a doença vem impactando diretamente a longevidade das lavouras e aumentando os custos de produção. Produtores relataram perdas significativas e a necessidade urgente de soluções conjuntas, reforçando a importância de uma mobilização ampla como a que foi promovida pelo CTC.
Rogério Bremm, diretor agrícola da BP Bioenergy, participou do lançamento e destacou a importância dessa ação para o setor “Essa iniciativa é de extrema importância, principalmente diante da estagnação da produtividade. Reunir pesquisadores e produtores em prol de soluções é exatamente o que a cana-de-açúcar precisa neste momento”.
Além dos encontros presenciais, a Esfera conta com uma comunidade virtual, para impulsionar a participação de todos os elos da cadeia sucroenergética. Para Suzeti Ferreira, diretora de marketing do CTC, a essência da Esfera é a força da colaboração: “Estamos unindo diferentes atores em torno de um objetivo comum. A Esfera é a materialização de como a cooperação pode acelerar respostas aos maiores desafios da cana, fortalecendo a competitividade e a sustentabilidade do setor”.
Avanço científico sobre a murcha da cana fortalece mobilização do setor
O evento também foi marcado por um anúncio científico inédito: a identificação do agente causal da murcha da cana. Antes tratada como uma síndrome multifatorial, a doença foi comprovada como resultado da ação de um único patógeno, o colletotrichum, descoberta validada por meio do Postulado de Koch. Essa revelação abre espaço para avanços importantes, desde estratégias de manejo mais assertivas até o desenvolvimento futuro de variedades geneticamente resistentes.
“O estudo comprova aquilo que já vínhamos investigando de que a murcha da cana tem um agente causal específico. Essa constatação representa um avanço significativo para toda a cadeia produtiva e permite direcionar esforços em busca de soluções para esse desafio do setor”, afirma Luciana Castellani, gerente executiva de Melhoramento Genético do CTC.
Outro ponto central foi o Fórum Científico, iniciativa que consolida a essência da Esfera. Mais do que abrir espaço para diálogos técnicos, o Fórum reuniu em um mesmo ambiente as discussões que já vinham acontecendo em diferentes frentes, unindo esforços em busca de uma solução conjunta para um problema agronômico que afeta toda a cadeia.
“Identificar o agente causal da murcha da cana é um passo fundamental para todo o setor. Só conhecendo a causa é possível avançar em pesquisas, desenvolver estratégias de manejo mais assertivas e dar segurança aos produtores para controlar a doença. Essa descoberta abre caminhos concretos para soluções que irão fortalecer a produtividade e a sustentabilidade da canavicultura”, destaca Lilian Amorim, doutora, professora e pesquisadora da ESALQ/USP, que é membro do fórum científico sobre a Murcha da Cana.
Com esses anúncios, o CTC consolida sua posição de liderança em inovação e reforça sua missão de transformar ciência em resultados práticos para os produtores, contribuindo para uma canicultura mais produtiva, resiliente e sustentável.
Identificado patógeno da doença mais danosa aos canaviais do Brasil
Especialistas descobriram que o patógeno da Síndrome do Murchamento da Cana, principal doença dos canaviais brasileiros, é o fungo Colletotrichum, de acordo com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que promoveu nesta terça-feira evento em Piracicaba (SP) para discutir o assunto e traçar estratégias de combate.
A doença, que pode causar perdas de até 50% na produtividade dos canaviais, especialmente em momentos de estresse hídrico, está presente em cerca de 30% das lavouras nas principais regiões produtoras do Brasil, maior produtor global de açúcar, disse a diretora de P&D do CTC, Sabrina Chabregas.
O fungo, que deixa “fofa” a parte central do colmo (caule) da cana, prejudica a qualidade do produto colhido, afetando a produtividade e a concentração de açúcares.
Questionados, especialistas do CTC evitaram dimensionar o quanto a produtividade da safra atual tem caído por conta do Murchamento da Cana. Mas ressaltaram a gravidade da doença.
“Hoje, no aspecto de doenças, é aquela que mais tira o sono dos produtores, ele não tem ferramentas para controlar”, afirmou o CEO do CTC, Cesar Barros, à Reuters, acrescentando que o segmento suspeita que o alastramento do fungo esteja também relacionado a mudanças climáticas.
Até o momento, produtores trataram o problema de forma “empírica”, com fungicidas, ou realizando a colheita antes do agravamento dos sintomas, mais presentes em lavouras em fim de ciclo.
“Agora que a gente sabe qual é o agente causal da doença, mudamos de jogo, podemos buscar resistência genética, podemos trabalhar em protocolos para controle, produtos químicos e biológicos, abre-se porta muito maior para endereçar o problema e reduzir os prejuízos”, disse Chabregas, após evento em Piracicaba que marcou o lançamento da plataforma Esfera, espaço de conexão permanente para discussão de questões de todos os elos da cadeia canavieira.
O CEO do CTC lembrou que produtores começaram a identificar os sintomas da doença nos últimos quatro a cinco anos, e espera que a definição do patógeno facilite os trabalhos de combate ao fungo.
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“Sempre que tem um estresse no campo, essa doença se manifesta… Ela rouba a produtividade, quebra a cana se bate um vento, prejudicando a qualidade da cana“, disse.
Os pesquisadores também estão se debruçando sobre estudos para entender melhor como o fungo se alastra nos canaviais.
“A ciência tem que explorar ainda de que forma ela (doença) entra na cana. Muitas perguntas que precisam ser respondidas”, disse.
Em termos de pragas, o setor tem a broca como o problema mais relevante para os canaviais, mas o CTC já tem uma cana transgênica que oferece resistência ao inseto.
O CTC tem compromisso público de dobrar a produtividade do canavial até o final da próxima década.
“Estamos apostando na Esfera para ouvir os nossos clientes e experimentar soluções que vão endereçar os problemas”, afirmou o executivo da empresa de biotecnologia e inovação, líder global em ciência da cana–de-açúcar (Reuters)