Belém simboliza ainda como a desordem e a insegurança internacionais alteraram as agendas.
A COP30, que começa na próxima segunda-feira (10/11), teve como pré-evento a Cúpula de Líderes, iniciada nesta quinta-feira (6/11), em Belém (PA). O evento retomou as origens de um antigo ritual — um ritual iniciado no Brasil, em 1992, no Rio de Janeiro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, que se tornaria a “mãe de todas as COPs”.
O das portentosas negociações, seguidas de portentosas promessas, que, por sua vez, são seguidas de portentosos lamentos diante do fato de que os resultados ficaram muito aquém do necessário.
O Rio de Janeiro foi, sem dúvida, um símbolo. A conferência ocorreu logo após o fim da Guerra Fria, em um contexto de “dividendos da paz”, no qual antigos adversários pareciam ter encontrado terreno sólido para entendimentos em torno de um objetivo comum: salvar o planeta. Combater as mudanças climáticas está na agenda internacional há 33 anos.
Belém, agora, também se tornou um símbolo — mas de um mundo em desordem, no qual os principais atores globais, inclusive os maiores poluidores, se afastaram dessas tratativas. A cidade simboliza ainda como a desordem e a insegurança internacionais alteraram as agendas.
Hora de unir forças contra a crise climática, diz Lula
A transição energética, que é a chave para enfrentar a mudança climática, transformou-se em um problema de segurança nacional. O próprio Brasil demonstra isso: enquanto pede o fim dos combustíveis fósseis, avança na exploração desses mesmos combustíveis, ali mesmo, diante de Belém, na Foz do Amazonas.
Há países que buscam garantir energia — qualquer tipo de energia — porque precisam sobreviver em meio a guerras. Outros, como o Brasil, procuram garantir energia porque dispõem de recursos naturais que podem ser monetizados.
Na chamada comunidade das nações, ficou em segundo plano a urgência de combater aquilo que a ciência identifica como um perigo para todos. O que restou, no fim, foi o ritual iniciado lá atrás, no Rio de 1992 (CNN Brasil)
Discursos na COP30 são bonitos, mas nada está sendo feito, diz especialista
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. Foto Divulgação
Secretário-executivo do Observatório do Clima destaca que os últimos 10 anos após o Acordo de Paris foram os mais quentes da história.
Os discursos proferidos durante a COP30 seguem um padrão já conhecido, mas carecem de ações práticas efetivas para combater as mudanças climáticas, alerta Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, durante participação no WW.
Segundo ele, as manifestações dos líderes mundiais repetem palavras como “ciência”, “ambição” e “respeito à natureza”, sem resultados concretos.
Um dado particularmente alarmante ressaltado por Astrini é que os dez anos posteriores ao Acordo de Paris foram os mais quentes já registrados na história da humanidade.
Além disso, 2023 marcou um recorde de emissões de gases de efeito estufa, evidenciando a disparidade entre o discurso e a prática no combate às alterações climáticas.
“Os discursos são muito bonitos. Você até tem uma sensação de alívio quando ouve esses líderes falarem, mas eles não vão para o papel. Muito menos para ação prática”, disse Astrini.
Impactos e desigualdades
As consequências das mudanças climáticas já são visíveis e letais. Estima-se que ocorrerão mais de 250 mil mortes incrementais no mundo apenas devido às ondas de calor, sem contar as perdas causadas por secas e enchentes.
Astrini ressalta que esses impactos afetam de forma desproporcional as populações mais vulneráveis, aumentando as desigualdades entre países e dentro deles.
O especialista aponta ainda para a falta de comprometimento de nações que contribuíram significativamente para a crise climática. Os Estados Unidos, por exemplo, permaneceram mais tempo fora do que dentro do Acordo de Paris, uma situação que ele classifica como “absurda”.
“Então essa mudança do clima, ela vai aumentando as desigualdades entre os países, vai castigando inclusive os que contribuíram pouco para a situação. E aqueles que contribuíram muito, como é o caso americano, dos Estados Unidos, virou as costas para o problema e disse: ‘Olha, se virem aí que eu não quero nem saber'”, disse o secretário-executivo.
Conferências como solução imperfeita
Apesar das críticas, Astrini reconhece que as conferências climáticas, mesmo com suas limitações, representam a melhor alternativa disponível até o momento.
Ele argumenta que, sem esses encontros, a situação poderia ser ainda mais grave, embora os resultados ainda estejam aquém do necessário para enfrentar a emergência climática global.
“[…] é a melhor alternativa que encontramos até agora. Ela pode não ser boa, mas é o melhor que nós temos. Tem algum efeito porque a coisa poderia ser bem pior se não houvesse essas conferências”, concluiu Astrini (CNN Brasil)







