‘Comida barata’ gera novo ciclo de confinamento em MT

Instalação de indústrias de biocombustíveis no Estado elevou oferta de alimentos, como o DDG.

A instalação de indústrias de biocombustíveis e o consequente aumento na disponibilidade de “comida barata” para o gado, com os coprodutos do processamento de soja e milho, têm possibilitado o surgimento de um “novo ciclo” de confinamento de animais em Mato Grosso, diz a Associação dos Criadores do Estado (Acrimat).

Agricultores de municípios ao longo da BR-163 passaram criar pequenos rebanhos, de 200 a 300 cabeças, alimentados com o DDG (grãos secos de destilaria) das indústrias de etanol de milho e farelo de soja das fábricas de biodiesel, em áreas de 10 a 20 hectares nas fazendas dominadas pelo cultivo de grãos. A atividade extra ajuda a gerar mais renda, completar escalas em abatedouros e a manter ainda firme a oferta de gado.

“Tem um pessoal novo chegando e tem oferta maior. Acredito que é um novo ciclo de confinamento, um ciclo pulverizado no Estado, ao longo do eixo da BR 163, onde tem muita boia barata”, afirmou Oswaldo Ribeiro Júnior, presidente da Acrimat. “Muita gente está soltando gado nos confinamentos, os agricultores estão engordando bezerro e fazendo terminação na propriedade mesmo, e isso lota escalas”, completou.

Segundo ele, não houve escassez de animais no último trimestre do ano e os preços da arroba se estabilizaram e até recuaram. A média de preço no Estado está em torno de R$ 320 por arroba. O boi-China, animal abatido com até 30 meses de idade, recebe R$ 5 a mais por arroba.

O movimento de “confinamento pulverizado” já gera reflexos na manutenção da oferta firme de bovinos para o abate mesmo com a inversão do ciclo pecuário no Estado, disse o dirigente.

Com a competição mais acirrada no mercado, o “pecuarista raiz” de Mato Grosso deve investir no processo de cria para se manter na atividade e lucrar, disse o presidente.

Como os frigoríficos do Estado também passaram a investir em confinamentos, há uma oferta contínua de animais para abate, sem grandes oscilações de preço, que “salvavam” a rentabilidade de parte dos criadores em determinados momentos do longo ciclo pecuário, desde a inseminação até o boi ir para o gancho.

“Não tem mais esse prazer da variação do preço, virou um platô e o produtor está se contentando com pouco. O movimento está tirando a competitividade do pecuarista raiz, sem as oscilações para cima que salvavam”, disse ao Valor. Com a competição mais acirrada, o dirigente aponta a necessidade de repensar custos e fazer contas. “Para o pecuarista raiz sobra a cria, o futuro vai ser esse, pois na ponta vai ser muito disputado”, completou.

São quase 1 milhão de cabeças de gado confinadas no último trimestre em Mato Grosso, segundo levantamento mais recente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), alta de 67% na comparação com o mesmo período de 2023 (555,1 mil cabeças). “Todos os frigoríficos têm confinamento e garantem escala por 7 a 10 dias, e tirou essa pressão. Mercado é mercado”, disse o presidente da Acrimat.

Projeções favoráveis

Mesmo com esses movimentos e desafios, ele é otimista e diz que as expectativas são boas para o setor. “A demanda do ciclo não vai sofrer por conta da segurança alimentar do mundo”, disse. Ele ressaltou a manutenção das vendas para China e EUA, a consolidação do mercado do Chile, as expansões para o México e o retorno da Rússia, além do avanço em mercados do sudeste asiático, como Indonésia, Filipinas, Cingapura e Vietnã. “Todo mundo está comprando a carne do Brasil. O mercado externo está explodindo”, disse.

Esse movimento é reflexo dos ganhos de produtividade do rebanho, disse Ribeiro Júnior, com mais aplicação de tecnologia, genética e alimentação com mais proteína na criação. Com isso, a idade de abate diminuiu e a carne melhorou de qualidade.

“Com dois anos, estamos matando garrote e fêmea com 18 arrobas. Baixou muito a idade do abate, está virando tudo carne gourmet, não tem mais carne dura”, avaliou. Segundo ele, o “boi-China”, abatido com até 30 meses para cumprir exigências dos chineses, “educou” o pecuarista mato-grossense. “Mesmo quem não faz boi-China, baixou a idade de abate do rebanho. Isso melhora a oferta de carne mais macia, mais jovem”, apontou.

A preocupação está com a virada do ciclo. “Não tem matriz produzindo para todo mundo. Uma hora isso explode, seja de 2026 para frente. Vai ter escassez de bezerro, com preços próximos de R$ 4 mil”, vislumbrou.

Ele afirmou que já há procura firme por boi magro no Estado, principal produtor de carne bovina do país, com 32,1 milhões de cabeças de gado, segundo o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT). “Os investimentos em fêmeas têm que ser feitos agora, para tirar bezerro no fim do ano e dar tempo de valorizar. Em 2027, vai precisar de muita matriz e bezerro”, avaliou (Globo Rural)

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