Clima preocupa cafeicultores, mas obter certificação ainda é desafio

Pesquisa mostra que a maioria dos produtores de café especial pratica ou quer aderir a manejo regenerativo ou agroecológico. Por David Lucena

A questão climática é uma das maiores preocupações do setor de café especial, sobretudo entre os agricultores, que elencam o assunto como um dos principais desafios. Ao mesmo tempo, mais de 40% dos cafeicultores dizem não ter certificação.

O meio ambiente é citado como o segundo tema de maior interesse para os produtores de café especial, atrás apenas do empreendedorismo. Além disso, a maioria diz já praticar ou ter interesse em aderir a manejos regenerativos ou agroecológicos.

Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Sebrae Nacional em parceria com a empresa Hongi que ouviu 1.355 pessoas em 24 estados brasileiros, entre janeiro e fevereiro deste ano. O levantamento, obtido em primeira mão pelo Café na Prensa, é um dos mapeamentos mais extensos já feitos no setor de café especial do Brasil.

Segundo Juliano Tarabal, diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, a preocupação com as questões climáticas é latente entre os produtores porque eles tiveram que lidar nas últimas safras com muitos eventos climáticos adversos, como geadas, secas e ondas de calor.

Por isso, explica Tarabal, os cafeicultores buscam aderir a práticas capazes de tornar sua produção mais resiliente a eventos extremos. Assim, as práticas regenerativas são vistas como o conjunto mais completo de técnicas de proteção da lavoura.

Apesar disso, mais de 41,1% dos produtores rurais dizem não ter nenhuma certificação ambiental. A discrepância entre a alta preocupação com o tema e a baixa certificação se deve, em parte, ao alto custo necessário para obter essas chancelas.

Como são donos de pequenas propriedades –em geral, entre 4 e 100 hectares–, os ganhos não costumam ser elevados o suficiente para conseguir obter essas certificações.

Além disso, essas certificações têm uma motivação econômica, e não apenas ambiental. Afinal, elas são necessárias para acessar certos mercados, uma vez que há diversos países e empresas que exigem determinados selos de boas práticas ambientais e sociais.

“Hoje o produtor tem uma preocupação constante com a questão da mudança climática, mas está muito mais ligado ao manejo agronômico que ele vai inserir na sua propriedade –e as ferramentas para aumentar a resiliência climática– do que necessariamente a apenas um protocolo de certificação”, diz Tarabal.

“No final do dia esses protocolos de certificação estão muito mais associados a questões mercadológicas do que a questões essencialmente de sustentabilidade”, afirma.

Para os produtores que querem acessar mercados que exigem certificações, as cooperativas e associações costumam ser importantes aliadas nesse processo. Elas oferecem suporte, seja por meio de conhecimento ou até econômico, para que o cafeicultor consiga obter o selo.

Carlos Eduardo Pinto Santiago, gerente do Sebrae Nacional, diz que a entidade disponibiliza uma ferramenta aos agricultores chamada Sebraetec, que, além de oferecer apoio técnico para ações que possam embasar a obtenção de certificações, ainda subsidia em até 70% os custos para esse processo.

Além das práticas regenerativas e orgânicas, os produtores de café especial manifestaram interesse em saber mais sobre o mercado de crédito de carbono –o que Santiago diz ver com bons olhos, pois agrega valor e pode abrir mercados para esses produtores.

Tarabal explica, contudo, que esse é um aspecto da cafeicultura que está em estágio embrionário. “Ainda não estamos vendo esse mercado acontecer na prática. Tem muita gente falando, tentando criar estratégia, projeto, etc. Mas a gente não vê essa demanda no mercado”, diz.

As mudanças climáticas já estão impactando agricultores não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Elas representam uma ameaça significativa para os meios de subsistência de cerca de 25 milhões de produtores de café ao redor do planeta, como disse ao Café na Prensa Maximo Torero, economista-chefe da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

Torero diz que há ao menos cinco dimensões nas quais as mudanças climáticas impactam a agricultura: temperaturas extremas; falta ou excesso de água; variabilidade de indicadores climáticos, que tornam as decisões dos agricultores mais difíceis; evolução de pragas e doenças; e migração de espécies e de seres humanos.

Estima-se que até 50% das áreas atualmente cultiváveis –não efetivamente cultivadas, mas que têm clima propício para o cultivo de café– serão perdidas por causa da mudança climática (Folha)

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