Em diversas áreas, haverá necessidade de replantio do trigo; etapa final da colheita de milho e feijão também está prejudicada.
O plantio do trigo no Rio Grande do Sul avançou apenas 2% na última semana e atingiu 39% da área estimada de quase 1,2 milhão de hectares para a safra atual. A informação é do boletim Informativo Conjuntural divulgado pela Emater/RS-Ascar nesta quinta-feira (26/6). Segundo o relatório, o atraso no calendário das culturas de inverno é consequência das precipitações frequentes e volumosas que atingiram o Estado.
Segundo a Emater, em grande parte da região produtora do Rio Grande do Sul, os volumes de chuva chegaram a 300 milímetros, o que dificultou a entrada de máquinas no campo e provocou danos nas lavouras já semeadas.
O órgão técnico informou que “a maioria dos danos corresponde à erosão laminar, concentrada em pontos de convergência do escoamento superficial, o que não exigirá replantio, apesar da redução no estande de plantas”.
Em outras regiões, no entanto, como na fronteira Oeste, incluindo Bagé, os alagamentos e as erosões severas “arrastaram sementes, plântulas e fertilizantes”, gerando a necessidade de replantio. A avaliação preliminar é de que o potencial produtivo dessas lavouras já está comprometido. Em Manoel Viana, por exemplo, 65% da área estava semeada, mas há necessidade de replantio em diversas propriedades.
No entanto, onde os produtores adotaram práticas de manejo como a semeadura de culturas outonais, como nabo ou ervilhaca, logo após a colheita da soja, os danos foram menores.
“O replantio será necessário apenas em algumas lavouras, situadas em solo mais arenoso, onde não foram adotadas práticas adequadas de conservação, ou em regiões de relevo inferior, em que houve acúmulo de água e transbordamento de cursos d’água”, detalha o boletim.
A Emater-RS alerta que, caso as condições climáticas adversas se estendam, o calendário da safra de inverno no Estado pode sofrer novos atrasos.
Demais culturas de inverno
A umidade excessiva tem dificultado a semeadura, o manejo e o desenvolvimento de lavouras de aveia-branca, canola e cevada.
Na cultura da aveia-branca, as precipitações limitaram os tratos culturais e o avanço do plantio. Apesar disso, as plantas apresentam bom vigor, mas com coloração verde-pálida devido à baixa luminosidade.
Na região de Ijuí, a semeadura foi concluída, mas há registro de acamamento em lavouras nas fases de emissão de panícula e floração. A área estimada é de 401.273 hectares, com produtividade projetada em 2.254 kg/ha.
A semeadura de canola foi interrompida pelas chuvas, que dificultaram a emergência das plantas. Em Frederico Westphalen, 65% das lavouras estão em fase vegetativa e 35% em floração. Em Santa Maria, 92% da área foi semeada, com predominância de plantas em desenvolvimento vegetativo. Em Soledade, o plantio foi finalizado.
Segundo a Emater, as chuvas provocaram perdas de fertilidade do solo por erosão hídrica, especialmente em áreas de escoamento concentrado. A estimativa é de 203.206 hectares plantados, com produtividade de 1.737 quilogramas por hectare, representando aumentos de 37,41% na área e 22,56% na produtividade em relação à safra anterior.
Na cevada, a semeadura foi temporariamente suspensa, mas as lavouras já implantadas têm bom desenvolvimento e não registram danos. Na região Norte do Estado, os volumes de chuva foram menores, o que evitou enxurradas e manteve o estande e a sanidade das plantas. A área prevista é de 27.337 hectares, com produtividade estimada em 3.198 quilogramas por hectare.
Colheita do milho e do feijão
O milho enfrenta dificuldades na etapa final da colheita no Rio Grande do Sul, interrompida pela ocorrência contínua de chuvas, aponta a Emater-RS. A umidade tem afetado a qualidade dos grãos, com aumento na incidência de fungos e grãos ardidos. Ainda restam áreas a serem colhidas, especialmente em regiões de minifúndios, onde a operação é realizada de forma manual, conforme a demanda de uso na propriedade.
No caso do feijão da segunda safra, aproximadamente 2% das lavouras ainda não haviam sido colhidas e foram severamente atingidas pelas chuvas. Em muitas dessas áreas, a colheita foi considerada inviável devido à deterioração dos grãos.
A Emater observou casos de germinação ainda nas vagens, comprometendo a qualidade comercial do produto. A elevada umidade relativa e a saturação das plantas favoreceram a proliferação de microrganismos e a aceleração de processos de degradação fisiológica e sanitária.
A soja, por outro lado, teve sua colheita concluída em todo o Estado. A área cultivada na safra 2024/25 foi estimada em 6,7 milhões de hectares, com produtividade média de 1.957 quilos por hectare.
Pastagens e pecuária
O excesso de umidade e a escassez de sol afetaram o desenvolvimento das pastagens e a rotina de manejo nas criações de bovinos, ovinos e abelhas, afirma a Emater. Nas áreas de pastagem, enquanto as forrageiras cultivadas apresentaram bom desenvolvimento graças à umidade e ao frio, o pastejo foi prejudicado pela falta de sol e pelo apodrecimento das folhas mais próximas ao solo.
Por outro lado, o crescimento das pastagens nativas desacelerou devido ao encharcamento do solo, mas essas áreas passaram a ser utilizadas para evitar o pisoteio excessivo nas pastagens cultivadas, que estão mais sensíveis neste período. Como alternativa, cresce a semeadura de cereais de inverno para silagem, buscando reduzir custos e garantir a alimentação dos rebanhos.
Na bovinocultura, tanto de corte quanto de leite, o frio intenso e a umidade aumentaram a necessidade de suplementação alimentar e intensificaram os cuidados sanitários. Na criação de corte, o desconforto térmico reduziu o ganho de peso dos animais e obrigou o uso de pastagens de inverno, segundo o boletim. A incidência de carrapatos recuou, apesar da resistência aos produtos, e a comercialização de animais segue aquecida, especialmente os de reposição e prenhes, com expectativa de valorização dos exemplares de melhor qualidade.
Já na bovinocultura leiteira, a produção foi diretamente afetada, com queda no volume de leite e maior incidência de problemas como mastite, doenças respiratórias e lesões de casco.
Na região de Bagé, os rebanhos de ovinocultura enfrentam condições mais adversas, com estresse causado por enchentes, frio e umidade, resultando em perdas de escore corporal, mortes e aumento de doenças nos cascos. Na área de Soledade, apesar de os ovinos estarem concentrados em campos nativos, já que as pastagens cultivadas foram ocupadas por bovinos, os animais mantêm bom estado corporal, e teve início o período de parição dos cordeiros. A oferta de animais para abate segue baixa, e a comercialização de lã ainda é reduzida.
Na apicultura, as condições climáticas reduziram a atividade das abelhas e das floradas, comprometendo a produção de mel e levando à necessidade de suplementação alimentar e manejo especial das colmeias.
Em regiões como Erechim e Frederico Westphalen, os apicultores adotaram estratégias como unificação de colmeias, controle térmico e combate a pragas como a varroa. Em Santa Maria, a colheita de mel foi interrompida pelas enchentes e pelo frio, resultando em perdas significativas. Já em Pelotas, a colheita está em fase final, mas a produtividade varia conforme a mortalidade dos enxames e a exposição a agrotóxicos. Em Santa Rosa, os produtores iniciaram a adaptação para o inverno com alimentação suplementar e uso de coberturas plásticas nas colmeias (Globo Rural)