A China, maior compradora de soja do mundo, tem substituído a oferta dos Estados Unidos pela brasileira em meio às tensões comerciais entre Pequim e Washington. O movimento já preocupa agricultores americanos, que veem risco de prejuízos bilionários com a perda de mercado para o Brasil.
Em carta enviada nesta terça-feira (19/8) ao presidente dos EUA, Donald Trump, a American Soybean Association alertou que os produtores vivem “estresse financeiro extremo”, com preços em queda e custos de insumos em alta.
O documento pede que Trump avance em um acordo comercial com o país asiático para garantir contratos significativos de compra de soja.
Segundo a associação, a mudança nas importações chinesas pode ter efeitos graves de longo prazo. Na safra 2023-2024, a China comprou 54% das exportações americanas do grão, no valor de US$ 13,2 bilhões.
A ausência de pré-compras da nova safra — considerada incomum — acendeu o alerta entre agricultores e tradings.
O setor reagiu também a uma postagem de Trump, em 11 de agosto, pedindo à China que quadruplicasse suas compras de soja americana. Embora a declaração tenha impulsionado momentaneamente os preços, produtores classificaram a meta como pouco realista.
“Os produtores de soja dos EUA não podem sobreviver a uma disputa comercial prolongada com nosso maior cliente”, afirma a carta.
“Quanto mais avançarmos no outono sem chegar a um acordo com a China sobre a soja, piores serão os impactos para os produtores”, diz o texto.
A Casa Branca não se manifestou sobre o pedido.
Enquanto isso, as importações chinesas de soja registraram recorde em julho, beneficiando diretamente o Brasil, que ampliou sua presença como principal fornecedor do grão principalmente depois da sobretaxa aplicada pelos EUA ao país sul-americano, que agora busca diversificar os mercados pelo mundo (CNN Brasil)
Importações de soja do Brasil pela China aumentam 13,9% em julho
Maior comprador de soja do mundo importou 10,39 milhões de toneladas da oleaginosa do Brasil no mês passado, ou 89% do total das importações, segundo dados da Administração Geral de Alfândega
As importações de soja do Brasil pela China aumentaram 13,9% em julho em relação ao ano anterior, mostraram dados alfandegários nesta quarta-feira (20/8), enquanto os suprimentos dos Estados Unidos caíram 11,5%.
O maior comprador de soja do mundo importou 10,39 milhões de toneladas da oleaginosa do Brasil no mês passado, ou 89% do total das importações, em comparação com 9,12 milhões de toneladas no ano anterior, segundo dados da Administração Geral de Alfândega.
As chegadas dos EUA ficaram em 420.874 toneladas em julho, abaixo das 475.392 toneladas do ano anterior.
No geral, as importações de julho atingiram recorde histórico para aquele mês, com 11,67 milhões de toneladas.
“As importações elevadas foram impulsionadas pela forte oferta brasileira e pelas preocupações persistentes com o comércio entre os EUA e a China, que estimularam a formação de estoques”, disse Liu Jinlu, pesquisador agrícola da Guoyuan Futures.
“Os riscos para o cenário estão nas negociações comerciais entre os EUA e a China e o impacto das políticas domésticas de controle da capacidade de suínos sobre a demanda.”
De janeiro a julho, a China importou 42,26 milhões de toneladas do Brasil, uma queda de 3% em relação ao ano anterior, enquanto os embarques dos EUA totalizaram 16,57 milhões de toneladas, um aumento de 31,2%, segundo os dados.
A China não fez pré-compra de soja da próxima safra dos EUA devido às tarifas altas, um atraso incomum que os comerciantes alertam que pode fazer com que os exportadores dos EUA percam bilhões em vendas, conforme compradores garantem cargas brasileiras para embarque durante a principal temporada de comercialização dos EUA.
Em uma carta na terça-feira, os produtores de soja dos EUA pediram ao presidente Donald Trump que chegue a um acordo comercial com a China que garanta acordos significativos de compra de soja.
A China importou 561.027 toneladas de soja da Argentina em julho. As importações de soja do país de janeiro a julho atingiram 672.630 toneladas, um aumento de 104,7% em relação ao mesmo período do ano passado (Reuters)