China: Plano para dominar o mundo e se tornar uma superpotência industrial

Donald Trump não está conseguindo impedir a ascensão da China; participação do país nos contêineres de exportação globais é superior a 36%, embora a nação represente cerca de um quinto do PIB mundial.

O poder industrial da China é difícil de capturar em números. O país responde por mais de 30% da produção global, ou mais do que os Estados Unidos, Alemanha, Japão e Coreia do Sul juntos. Esse número subestima o crescente medo que os produtos fabricados na China inspiram em concorrentes e governos estrangeiros.

Os produtos chineses são baratos e estão ficando mais baratos, porque as empresas locais são eficientes e estão presas em uma guerra de preços doméstica épica. Após quase três anos de quedas contínuas nos preços de fábrica, muitas empresas estão perdendo dinheiro e desesperadas para vender em mercados estrangeiros, onde as margens são maiores. O crescimento das exportações chinesas é impressionante quando medido em valor. É positivamente fantástico quando medido em volume.

Pouco antes da pandemia de covid-19, um terço de todos os contêineres que transportavam exportações ao redor do mundo continham coisas montadas, cultivadas ou processadas na China. Hoje, a participação do país nos contêineres de exportação globais é superior a 36%, embora a nação represente cerca de um quinto do PIB mundial. Um chefe de negócios estrangeiros na China prevê um acerto de contas: “Chegará um momento em que a China e o mundo simplesmente não poderão absorver mais produtos chineses, e acho que esse ponto está se aproximando.”

Enquanto isso, mercados valiosos na China estão sendo isolados. Novas regras limitam as importações de chips de computador, dispositivos médicos e muito mais, já que o Partido Comunista prioriza a segurança econômica e nacional acima do crescimento de curto prazo. Embora as exportações para os Estados Unidos tenham despencado, afetadas pelas tarifas em constante mudança do presidente Donald Trump, o superávit comercial geral da China está a caminho de ultrapassar US$ 1 trilhão este ano, com embarques recordes para a África, Ásia, Europa e América Latina.

De Brasília a Berlim e Bangkok, políticos ouvem apelos para proteger as indústrias estabelecidas da concorrência chinesa. No entanto, muitos desses mesmos políticos querem que investidores chineses os ajudem a construir as indústrias do futuro, abrindo fábricas para produzir baterias, por exemplo. Isso limita seu desejo de confrontar a China.

A China sabe que tem muitas fábricas deficitárias. O líder supremo, Xi Jinping, preocupa-se em voz alta com a concorrência “desordenada”, já que os fabricantes cortam preços para sobreviver. Os governos locais foram instruídos a parar de sustentar empresas condenadas. As autoridades lançaram esquemas para promover a demanda interna, e o consumo aumentou.

A produção industrial aumentou em um ritmo mais rápido do que a demanda interna. Como resultado, a sobra de produção precisou ser escoada para fora do país, ou seja, as exportações cresceram para “absorver” esse excedente. Mais importante ainda, Xi continua a elogiar a manufatura como fonte de poder econômico e geopolítico. Nas palavras de um economista chinês, os líderes de seu país e a maioria dos cidadãos acreditam que “a participação da China no total mundial da manufatura é adequada” e pode, de fato, crescer.

A portas fechadas, chefes do partido e tecnocratas trabalham arduamente no próximo plano quinquenal da China, abrangendo o período de 2026 a 2030. As previsões sugerem que o plano incluirá esforços redobrados para se tornar uma “potência científica e tecnológica” e um foco na inovação “disruptiva” feita na China para combater “a contenção e a repressão do Ocidente liderado pelos EUA “.

As autoridades não cedem quando líderes europeus e outros líderes estrangeiros viajam a Pequim para pedir que suas empresas sejam tratadas de forma mais justa ou que a China reequilibre sua economia. Em vez disso, diz um diplomata ocidental, os anfitriões chineses combinam palavras de simpatia sobre as intimidações de Trump com ameaças de represálias, caso os governos estrangeiros restrinjam o fluxo de produtos chineses.

Quando solicitados a parar de fornecer peças de drones usados pela Rússia para matar ucranianos, eles negam. Os líderes da China parecem “extraordinariamente encorajados”, relata o diplomata. Eles acreditam que estão vencendo batalhas importantes contra Trump, se não toda a guerra comercial.

Até agosto, Sarah Beran era uma diplomata americana sênior, especializada em China. Ela teme que tanto os Estados Unidos quanto a China estejam “excessivamente confiantes” em relação à guerra comercial. A China tem motivos para estar satisfeita. Em contraste com o passado, incluindo durante o primeiro mandato de Trump, o segundo governo americano não está exigindo mudanças estruturais no modelo econômico chinês.

“Não há um esforço conjunto para lidar com o excesso de capacidade ou nivelar o campo de atuação para as empresas americanas”, diz ela. Desta vez, os negociadores americanos estão mais focados em “coisas importantes para o presidente”. Isso inclui a venda de soja e aviões da Boeing e a criação de uma versão exclusiva para os Estados Unidos do TikTok, um aplicativo de mídia social chinês, talvez licenciando sua tecnologia subjacente para investidores americanos.

Beran, agora na consultoria Macro Advisory Partners, acredita que a China ficou surpresa quando sua medida para restringir as exportações de minerais raros e ímãs permanentes se mostrou “extremamente bem-sucedida”, causando pânico entre os fabricantes em todo o mundo. Por outro lado, a China deveria se preocupar com o fato de que suas ações levarão os países a buscar fontes diversificadas de insumos vitais, sugere ela.

A seguir, fábricas chinesas de robôs com inteligência artificial

A China está confiante em sua influência sobre os Estados Unidos. Essa arrogância é difícil de aceitar para os parceiros comerciais. Mas sua intransigência tem raízes ainda mais profundas. Os governantes chineses gostam de seu plano para dominar os setores estratégicos da manufatura global e não desejam mudar.

Os chineses reformistas compartilham dos temores dos estrangeiros de que essa iniciativa industrial seja insustentável. Mas os líderes do partido veem a adoção por Trump de políticas industriais ao estilo chinês, incluindo exigências do governo por participações em empresas líderes, como um endosso à sua própria abordagem.

Da mesma forma, eles se sentem justificados em sua obsessão pela autossuficiência. Sua desconfiança em relação aos Estados Unidos é agora quase total, após as tentativas de Trump de sufocar o acesso da China às tecnologias americanas, intercaladas com campanhas para vender mais dessas tecnologias à China.

Os Estados Unidos “cometeram um grande erro”, diz o economista chinês. Isso “acordou a China”, mas não impediu o país de desenvolver indústrias líderes mundiais. Trump chegou ao poder prometendo um boom industrial para a eternidade. Seria estranho se ele tivesse sucesso, mas na China… (The Economist)     

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