- Unidades de SP e RS das gigantes Cargill, Louis Dreyfus, CHS e 3Tentos foram suspensas
- Contaminação foi identificada em porão de navio com destino a Pequim
A China suspendeu a importação de uma carga de 69 mil toneladas de soja brasileira, após detectar a presença de trigo com pesticidas em meio aos grãos dentro do porão do navio que transportava o lote até o país asiático.
Foi determinada, ainda, a paralisação de compra de soja de cinco unidades brasileiras de grandes empresas que atuam no país.
Conforme informações obtidas pela Folha, estão suspensas, a partir desta quinta-feira, 27, as exportações de duas plantas na Cargill localizadas em São Paulo, além de outras controladas pela Louis Dreyfus e a CHS Agronegócio, também em território paulista. Uma unidade da 3Tentos que foi suspensa fica no Rio Grande do Sul.
A decisão tomada pela GACC (Administração-Geral de Aduanas da China) e enviada ao Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) classifica o evento como uma “infração grave” às normas chinesas de segurança alimentar, o que justificou as medidas de contenção. Como a sanção é direcionada a unidades específicas de cada empresa, outras plantas das companhias continuam aptas a exportar para China.
Segundo a autoridade chinesa, foram encontradas dentro do porão do navio “Shine Ruby”, que transportava as 69 mil toneladas de soja, cerca de dez toneladas de trigo tratado, com revestimento de pesticidas, um agrotóxico que não é permitido no mercado chinês.
A avaliação chinesa concluiu que o revestimento químico utilizado no grão é tóxico e destinado exclusivamente ao plantio, não ao consumo humano ou animal. Por isso, foi classificado como um risco sanitário inaceitável. Além disso, o trigo brasileiro não está habilitado para exportação à China, o que reforçou a violação das regras comerciais e sanitárias locais.
Em carta enviada à Embaixada do Brasil em Pequim, a qual a Folha teve acesso, a GACC afirma que sua decisão tem “o objetivo de proteger a saúde dos consumidores chineses e garantir a segurança da soja importada” pelo país asiático.
“Fica igualmente suspensa a aceitação das declarações de importação relativas a remessas de soja proveniente desses estabelecimentos embarcadas a partir de 27 de novembro de 2025”, diz a autoridade chinesa.
À Folha, o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Luís Rua, disse que recebeu a informação das autoridades chinesas e que o caso será analisado, mas que “é preciso relativizar essa situação”, diante do que ela representa nas relações comerciais entre os dois países.
“São cinco estabelecimentos diante de 2 mil aprovados para exportação de soja para a China. O Brasil nunca esteve tão bem com a China. Mais de 100 milhões de toneladas de soja serão exportadas neste ano”, comentou.
Rua afirmou que vai apurar detalhes do que ocorreu. “Vamos chamar imediatamente as empresas para conversar sobre isso. Levamos muito a sério qualquer questão que seja levantada por um parceiro comercial. Sempre avaliamos com muita transparência e rapidez.”
A China é o maior comprador mundial da soja brasileira, tendo respondido pela importação de US$ 31,5 bilhões em grãos em 2024, o que equivale a 73% da soja que o Brasil vendeu ao mundo, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Entre janeiro e outubro deste ano, essa fatia chinesa aumentou ainda mais, respondendo por 78% das exportações de soja do Brasil, com movimentação de R$ 31,6 bilhões.
A reportagem também procurou as quatro empresas citadas. Não houve resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para manifestação.
Em sua decisão de suspender as operações, Pequim faz questão de citar que esta não é a primeira vez que esse tipo de problema acontece. “Recorda-se que, em dezembro de 2024 e janeiro de 2025, o lado chinês já havia suspendido habilitações de cinco estabelecimentos brasileiros para exportação de soja para a China em razão da detecção de soja com revestimento de pesticidas em remessas brasileiras”, afirma.
Em abril de 2025, o lado brasileiro apresentou medidas corretivas e se comprometeu em garantir a segurança da soja exportada para a China, bem como a ausência de grãos com revestimento de pesticidas.
No documento, a China pede que “o lado brasileiro atribua elevada atenção à segurança dos produtos agropecuários destinados ao mercado chinês, intensifique o controle na origem, fortaleça a supervisão e fiscalização oficial, assegure a responsabilidade primária dos estabelecimentos exportadores e implemente medidas sanitárias/fitossanitárias rigorosas pré-embarque, de forma a assegurar a conformidade dos produtos exportados com as leis e regulamentos chineses”.
A aduana chinesa diz que a reabilitação das unidades suspensas dependerá de uma série de etapas. Cada estabelecimento deverá conduzir uma investigação formal sobre a origem da contaminação, sob supervisão do Mapa, implementar medidas corretivas para evitar reincidência e demonstrar capacidade de controle sanitário.
Até lá, a China manterá o bloqueio administrativo às exportações dessas unidades. “Com isso, os estabelecimentos devem ser recomendados pela autoridade competente brasileira para avaliação e aprovação da autoridade chinesa”, afirma a GACC (Folha)







