Por José Roberto Mendonça de Barros
Trump inicia um período caótico no mundo com sua agenda equivocada e extremamente agressiva; o objetivo é ‘mover-se rápido’, sem se preocupar em construir nada
Tudo junto, misturado e ainda sem um rumo claro. Esta é a mais simplificada descrição que se pode fazer do cenário global nos dias de hoje.
Entendo que existam cinco tendências globais que vêm se fortalecendo há um certo tempo e que já apontavam para grandes mudanças no cenário, na direção de um sistema multipolar.
A primeira destas tendências é a mudança do papel da China no sistema econômico global, de complementar as economias maduras de mercado para um gigante que busca afirmar seu papel no mundo e ampliar sua influência. Isto ensejava uma resposta dos EUA já no governo Biden e este é o ponto mais importante no entendimento da situação atual.
A segunda tendência é a progressiva perda de efetividade dos organismos internacionais de governança criados após a 2ª Guerra Mundial: ONU/Conselho de Segurança, FMI, Banco Mundial e a OMC.
A terceira é a aceleração da transição demográfica com a drástica queda nas taxas de natalidade ao redor do mundo.
Vários países já se encontram na fase de queda absoluta da sua população, elevando o número de nações com o risco de ficarem velhas antes de ficarem ricas. A questão migratória passa a ser tão central quanto divisória nas políticas nacionais.
A quarta é a mudança climática, sobre a qual não existem mais dúvidas. É um vetor novo a complicar o quadro.
A necessária transição energética que daí decorre, implica numa mudança de paradigma da dupla petróleo/motor a combustão.
Entretanto, à medida que a transição começou a andar, resultou claro que o processo será muito mais desafiante do que se imaginava, por razões técnicas, econômicas e políticas.
Finalmente, vemos uma enorme mudança tecnológica tipificada pelo desenvolvimento e as consequências da inteligência artificial. Há uma aceitação generalizada de que esta tecnologia será transformacional, mas que coloca desafios regulatórios enormes.
É neste quadro, já complexo, que irrompe o novo presidente americano, iniciando um período caótico no mundo com sua agenda equivocada e extremamente agressiva.
Ao contrário do antecessor, o objetivo é “mover-se rápido, quebrando as coisas”, sem se preocupar em construir nada.
No plano econômico trata-se de submeter antigos aliados através de um nível elevado, mas incerto, de tarifas, ao lado de uma política fiscal bastante expansionista.
O cenário global passa a depender do que vai ocorrer nos EUA. A inflação vai mesmo se elevar, como acredito? E o que fará o FED?
Apertem os cintos (Estadão)