Carta aponta como o agro pode ser solução para os problemas climáticos

As discussões promovidas na 35ª Conferência Mundial de Agronegócio e Alimentos (Ifama), realizada nesta semana em Ribeirão Preto (SP), resultaram em uma carta, que será apresentada na COP 30 e que aponta como o agronegócio pode ser um aliado para combater os problemas climáticos no planeta. 

O documento, resultado da colaboração entre cientistas, políticos, pesquisadores, estudantes e outros agentes do agronegócio global, expõe, em cinco tópicos, os principais caminhos para aumentar a produção de alimentos e bionergia, de forma a atender às demandas do crescimento populacional, combater a fome e, de forma concomitante, preservar o meio ambiente. 

A carta é assinada pelo presidente do Ifama, Aidan Connoly, e por Marcos Fava Neves, presidente da conferência, reitor da Harven Agribusiness School, instituição que sediou o evento, e professor da Universidade de São Paulo (USP). Eles destacam que, em 2050, a população do planeta deverá chegar a 9,6 bilhões de habitantes — contra 8,2 bilhões em 2024 — e que esse incremento, aliado ao aumento da renda per capita, ao envelhecimento das pessoas e aos movimentos de urbanização, vai gerar uma elevação significativa da necessidade de alimentos. 

“Um estudo publicado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, USDA (2025), mostra que as importações das principais commodities agrícolas devem crescer nos próximos 10 anos, com destaque para arroz (+30,7%), carne suína (+26,6), soja (+25,6%), frango (+25,3%), milho (+22,1%), algodão (+21,0%), carne bovina (+17,8%) e trigo (+12,1%)”, informa a carta. 

Outra constatação do estudo do USDA é que, no ano passado, mais de 295 milhões de pessoas em 53 países já enfrentavam níveis agudos de fome, 14 milhões a mais na comparação com 2023. “Em suma, o mundo precisa aumentar a produção, protegendo o meio ambiente e otimizando o uso dos recursos. Este é o grande desafio. E como o agronegócio pode ajudar?”, questionam os autores da carta. 

1) Crescimento horizontal da produção, com aumento do uso da terra para o cultivo agrícola, por meio da destinação de áreas subutilizadas ou com baixos níveis de produtividade — como áreas de pastagem degradadas — para aumento da produção;

2) Maior produtividade por área, com desenvolvimento de inovações e tecnologias que possibilitem ganhos de produtividade e reduzam o desperdício de recursos. 

Para cumprir com esses compromissos, os cinco tópicos listados são: 

a utilização de sistemas de produção sustentáveis e agricultura regenerativa; 

o uso de tecnologias aplicadas às cadeias alimentares; 

o uso de bioinsumos e tecnologias genéticas; 

o uso de tecnologias para conversão de energia; 

políticas públicas voltadas à descarbonização. 

“O objetivo de apresentar este inventário na COP 30 [que será em novembro em Belém (PA)] é demonstrar, de forma sólida e consistente, que a agricultura pode ser parte da solução para as mudanças climáticas se políticas públicas e estratégias privadas forem adotadas para a expansão do uso dessas tecnologias climáticas inteligentes”, conclui o documento. 

Diretora-geral da FAO chamou atenção para segurança alimentar e nutricional

Na apresentação, intitulada “Criando mercados alimentares resilientes para o futuro”, ela destacou que o fortalecimento de sistemas alimentares passa por inovação científica, políticas públicas inclusivas, sustentabilidade e transformação na forma como o mundo produz, distribui e consome alimentos. Um desafio, segundo ela, que se torna cada vez mais complexo diante das mudanças climáticas, da perda de biodiversidade, da escassez de água, da poluição, de crises econômicas e da intensificação de conflitos geopolíticos.

Nesse contexto, garantir acesso de agricultores e comunidades vulneráveis a insumos essenciais como sementes, fertilizantes e vacinas para animais, é fundamental. “Políticas públicas associadas à inovação científica e sustentabilidade são essenciais para garantir a segurança alimentar e nutricional. A transformação é urgente”. Por outro lado, Beth demonstrou preocupação com a redução de recursos para respostas humanitárias e a intensificação de conflitos internacionais, que enfraquecem a cooperação entre países. 

Representantes de mais de 40 países

O congresso do Ifama reuniu pesquisadores, executivos, formuladores de políticas públicas e estudantes de mais de 40 países, que participaram de fóruns, debates e competições. 

O Ifama é uma associação global que existe desde 1990 e que congrega mais de 70 instituições de ensino e pesquisa pelo mundo. A Harven, de Ribeirão Preto, é a única brasileira no grupo. Segundo o sócio-fundador da universidade Roberto Fava Scare, um dos objetivos de trazer o congresso pela primeira vez para o Brasil foi o de demonstrar a capacidade de inovação do agronegócio nacional em questões vinculadas à segurança alimentar e aspectos políticos, que “começam a ficar cada vez mais importantes”. 

Outro motivo foi apresentar a diversidade do agro paulista, que responde por 24% do PIB da Agropecuária do país. “Essa diversidade é única, o que acaba atraindo as atenções internacionais. Aqui, falamos sobre laranja, café, bioenergia, cana, entre vários outros produtos. Por ser um território com solo muito rico, mercado consumidor próximo e canais de escoamento, São Paulo fica muito competitivo”, afirma Scare (Agro Estadão)


Na Conferência Mundial da IFAMA, Diretor Geral do IICA pediu a construção de uma nova narrativa da agricultura, para que seja reconhecida como um setor essencial das soluções para os desafios do planetaManuel Otero, Diretor Geral do IICA, na Conferência Mundial de Agronegócios e Alimentos (IFAMA 2025).

O Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, participou no Brasil de uma das maiores conferências globais do setor agropecuário, IFAMA, na qual realçou a necessidade de construir uma nova narrativa que realce o papel essencial da agricultura das Américas como parte da solução para os desafios da humanidade.
Ante um auditório de uns 600 participantes de mais de 50 países, com forte presença de organizações dos Estados Unidos, da Argentina e da União Europeia, Otero enfatizou a necessidade de mostrar o verdadeiro rosto atual da agricultura, ligada à ciência, à tecnologia, ao desenvolvimento econômico e social e à conservação dos países.
“Chegou o nosso momento. Podemos oferecer uma nova imagem do setor agrícola das Américas, com novas políticas públicas em prol dos produtores, da inovação e da natureza. O IICA, por meio de alianças estratégicas, está comprometido com a formação de uma nova geração de líderes para a transformação da agricultura”, assegurou.
A Conferência Mundial de Agronegócios e Alimentos (IFAMA, em inglês) 2025 ocorreu no principal centro agroindustrial do Brasil, Ribeirão Preto, cidade do interior de São Paulo.
Contou com a participação de uma rede única de líderes de opinião globais, convocados para explorar como impulsionar modelos agroindustriais inovadores e garantir um fornecimento de alimentos sustentável.
Os participantes viveram quatro dias de conferências e mesas redondas, exposições de tecnologias agrícolas de vanguarda e workshops centralizados em práticas agroindustriais sustentáveis e inovadoras.
Aproveitaram a sua estadia no Ribeirão Preto, também, para visitar algumas das instalações agroindustriais mais inovadoras do Brasil, país que nas últimas décadas se converteu em uma potência agroalimentar, um processo transformador fortemente apoiado na pesquisa, a ciência, a tecnologia e as inovações.
O evento reuniu profissionais da agroindústria (executivos, gerentes, acadêmicos, produtores e pesquisadores) em debates sobre as tendências do setor, os desafios, as novas tecnologias de produção alimentar e as propostas de sustentabilidade.
Um dos principais objetivos foi impulsionar ainda mais o desenvolvimento de tecnologias e práticas sustentáveis na agricultura, em um âmbito propício para o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre profissionais da agroindústria.
Temas centrais
Os temas centrais da IFAMA 2025, cuidadosamente escolhidos para refletir as tendências emergentes e os desafios da indústria, foram os seguintes: inovações em agricultura e sustentabilidade, transformação digital e automação, desenvolvimento de talentos e diversidade no agronegócio, energia renovável e bioenergia, mercados globais e segurança alimentar, desenvolvimento de cooperativas e associações e biotecnologia e agricultura de precisão.
Participaram da conferência a Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Silvia Massruhá, e destacados pesquisadores dessa instituição pública, que é referência mundial em pesquisa, inovação e tecnologias para o agro.
Massruhá recebeu Otero esta semana em Brasília, que anunciou a instalação do pavilhão “Casa da Agricultura Sustentável das Américas” na próxima COP30, no Brasil, dentro do espaço chamado “AgriZone”, coordenado pela Embrapa.
Durante sua apresentação na IFAMA 2025, Otero destacou a necessidade de uma nova narrativa para a agricultura e os sistemas agroalimentares das Américas.
Enfatizou que o continente fornece ao mundo 23% da produção agrícola mundial, 29% das exportações alimentares e é líder em cultivos essenciais como soja, açúcar, café, milho, carne de vaca e de frango, entre outros. Também abriga 50% da biodiversidade mundial conhecida.
Destacou, neste sentido, o extraordinário desenvolvimento agropecuário brasileiro, que passou de ser importador neto de alimentos na década de 1970 a ser hoje o maior exportador de soja, carne de vaca e de frango, açúcar, café e suco de laranja, entre outros produtos. Ao mesmo tempo, é um dos países mais biodiversos do planeta.
Otero se referiu à necessidade de deixar atrás as velhas narrativas que alguns setores não querem abandonar, que vinculam a agricultura com a pobreza e a contaminação e que, entre outros efeitos, são a causa de que menos de 5% do financiamento climático global seja destinado à essa atividade.
“Uma nova narrativa para a agricultura deve ser construtiva, de olho no futuro e se concentrar nas oportunidades. O contexto da agricultura de hoje nos mostra um setor fortemente ligado à ciência e à tecnologia, que é parte da solução para os desafios globais. A agricultura das Américas deve ser reconhecida como uma plataforma estratégica para criar valor econômico, social e ambiental”, assegurou.
Em sua apresentação, o Diretor Geral do IICA falou sobre a necessidade de mostrar os sucessos do setor, sem esconder os desafios não resolvidos, que incluem a persistência de mais de 50 milhões de pessoas que passam fome no continente.
De todas as formas, sublinhou que 100 milhões de pessoas trabalham no setor agropecuário e agroindustrial das Américas e que os sistemas agroalimentares representam até 25% do Produto Interno Bruto (PIB) em alguns países. Também falou da necessidade de comunicar de forma consistente que a agricultura do continente produz alimentos enquanto gera benefícios ambientais, já que o solo e os bosques servem para o sequestro de carbono e seus ecossistemas são sustento de ciclos de água e oxigênio. Enfatizou, também, a contribuição da agricultura hemisférica para a transição energética, baseada na potência da sua produção de biocombustíveis.
“A construção de uma nova narrativa é um processo em andamento, vital para o futuro dos sistemas agroalimentares, para o qual o IICA convocou atores críticos. Deve ser implementada por meio de uma nova geração de políticas públicas, baseadas na ciência e que empoderam os produtores como agentes de mudança. Também é fundamental que contemple a colaboração entre o setor público, o setor privado, o setor acadêmico e outros atores. Outro elemento essencial é a formação de uma nova geração de líderes fortemente comprometidos com a inovação e a sustentabilidade, que conectam as realidades locais com as agendas globais”, concluiu.
Sobre o IICAÉ o organismo internacional especializado em agricultura do Sistema Interamericano. Sua missão é estimular, promover e apoiar os esforços de seus 34 Estados-membros para alcançar o desenvolvimento agrícola e o bem-estar rural, por meio da cooperação técnica internacional de excelência.

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