Café: Mercado firme; os fundamentos podem ter mudado!

Por Marcelo Fraga Moreira

O próximo vencimento dez-25 encerrou a semana @ 386,10 centavos de dólar por libra-peso. Durante todos os dias o mercado tentou “jogar” os preços para baixo mas encontrou forte suporte nos 363/365/370 centavos de dólar por libra-peso. A média-móvel dos 9 dias conseguiu mostrar sua força.

No último pregão do mês o dez-25 chegou a cair nas primeiras horas -645 pontos e a negociar “em cima do suporte da média-móvel dos 9 dias” @ 371,05 centavos de dólar por libra-peso. Mesmo com novas previsões para chuvas durante os próximos 5-10 dias, após as 11hs, o mercado voltou às compras e empurrou o dez-25 para as máximas do dia @ 388,70 centavos de dólar por libra-peso. Provavelmente os “vendidos” procuraram zerar suas posições e evitar passar o final de semana prolongado “protegidos”. Segunda-feira será feriado nos EUA (dia do trabalho) e NY só voltará a funcionar na terça-feira!

Na semana – vencimento dez-25: fechamento anterior / mínima / máxima / nova mínima / nova máxima / fechamento atual respectivamente @ 378,30 / 363,90 / 391,30 / 371,05 / 388,07 / 386,10 centavos de dólar por libra-peso! E o set-25 chegou a cravar 400,80 centavos de dólar por libra-peso!!

As notícias referentes as quebras na safra 25/26 brasileira continuam sendo destaque na imprensa. Nessa semana a OIC, através da sra. Vanúsia, diretora executiva da OIC, voltou a sustentar a realidade da safra recém colhida no Brasil em reportagem para a Reuters durante evento na Colômbia:

 “A imposição de tarifas pelos Estados Unidos, as mudanças climáticas e a menor safra brasileira estão elevando os preços do café”. Ela ainda afirmou que “apesar da tendência de alta, o mercado de café lida com volatilidade e incerteza, à medida que o consumo aumenta e os estoques diminuem. É a questão da quebra da safra brasileira, o anúncio de que não teremos o que era esperado, que teremos menos café, somado aos eventos climáticos, além das tarifas”.

Na quinta-feira o governo brasileiro informou que irá abrir estudos para analisar a possiblidade para aplicar a “Lei de Reciprocidade” contra os Estados Unidos.

Segundo matéria da BBC News: “O governo brasileiro autorizou nesta quinta-feira (28/08) o início de uma análise sobre a possível aplicação da Lei da Reciprocidade contra os Estados Unidos — que impuseram uma tarifa de 50% sobre vários produtos brasileiros, a qual começou a valer no início do mês. A autorização foi confirmada por uma fonte do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) à BBC.

O governo americano vai ser notificado pelo Itamaraty sobre o início da análise nesta sexta-feira (29).

O Itamaraty, em coordenação com outros ministérios do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), encaminhou à Câmara de Comércio Exterior (Camex) o pedido de análise, que vai durar até 30 dias (não está claro se úteis ou corridos).”

Se o governo americano decidir retaliar o governo brasileiro elevando novamente as tarifas de importação da atual lista (que já inclui o café), então poderemos ver o mercado explodir com outras origens aumentando seus preços para equiparar os preços origem X com o café “origem Brasil” entregue nos portos americanos (café brasileiro custo + frete + tarifas base porto americano).

Os compradores americanos estão prorrogando ao máximo seus embarques/compras já assumidas e aguardando para entrar no mercado e realizar novas compras. Segundo muitos analistas os Estados Unidos possuem estoques internos para os próximos 45-60 dias. Já estão procurando originar café em outras origens. A próxima safra colombiana só começará em outubro e a do Vietnam apenas em novembro! Em breve os compradores americanos deverão voltar ao mercado brasileiro para comprar o “mínimo necessário” para manter seu abastecimento durante os próximos 3-6 meses.

Da mesma forma, mesmo com rumores onde a Europa poderá prorrogar e/ou promover mudanças significativas nas falsas “leis antidesmatamento” (EUDR) – previstas para entrar em vigor a partir do dia 01 de janeiro de 2026 – o mercado europeu já está no mercado e irá competir com os Estados Unidos por produto e por logística!

O produtor segue “senhor da situação” vendendo apenas o necessário para pagar suas contas. No mês de agosto, no mercado interno, mesmo com as tradings/cooperativas aumentando o diferencial de compra contra o produtor (passando dos -35/-40 pontos para -60/-70 pontos) o café arábica chegou a subir +700 R$/saca e o café robusta +650 R$/saca! O café arábica tipo 6 voltou a negociar acima dos 2.500 R$/saca e o café robusta acima dos 1.450 R$/saca!

O spread entre o café arábica x o café robusta continua acima dos 1.000 R$/saca! E o café arábica tipo “rio” ainda negociando aproximadamente 300/400 R$/saca acima do café robusta! Atenção produtores do café robusta: VALORIZEM o seu produto. Como já mencionado várias vezes não faz sentido vender o seu café de excelente qualidade e bebida abaixo do café tipo rio!

A próxima safra 26/27 já está sendo questionada.

Segundo o último podcast da Procafé: “Safras 2025 e 2026: O que foi e o que esperar…” (http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=119868), das recentes publicações do Gustavo Renno e da analista Maja Wallengren (da consultoria Spilling the beans – por enquanto a única analista que indicava uma safra brasileira 25/26 ao redor dos 48 milhões de sacas e preços ainda explosivos), a próxima safra 26/27 já está comprometida e dificilmente será superior a safra 20/21 (quando a safra brasileira foi estimada ao redor dos 70 milhões de sacas).

Essas informações também podem ter contribuído para a alta dos preços pois o “mercado” estava trabalhando com uma safra 25/26 em +63/+65 milhões de sacas e a safra 26/27 acima dos +70 milhões de sacas! 

Com a quebra atual (previsão para a safra atual 25/26 entre 48-53 milhões de sacas) e a previsão para a próxima safra 26/27 entre 58-65 milhões de sacas o mundo irá assistir novamente a 2 anos com a produção mundial x consumo mundial em déficit (-18/-20 milhões de sacas na safra 25/26 e novamente entre -10/-12 milhões de sacas na safra 26/27).

Se a safra atual 25/26 vier realmente abaixo das 53 milhões de sacas e a próxima ao redor dos 63 milhões de sacas então o mundo só voltará a equalizar a sua “produção x consumo mundial” a partir da safra 27/28 e a construir estoques apenas a partir da safra 28/29!

Confirmando essas quebras na principal origem do mundo então os estoques mundiais tenderão a “zero” e os preços poderão mesmo atingir novos recordes, onde o “céu será o limite”… Difícil colocar “preço” com tantas variáveis mas 450/500/550 centavos de dólar por libra-peso poderão ocorrer se/quando os fundos + especuladores sentirem “cheiro de sangue” e “pânico” nesse mercado. As chamadas de margem poderão ajudar nesse movimento de alta com os “vendidos” correndo atrás para “estopar” suas posições.

Nesse movimento de alta novamente existem rumores onde muitas empresas/produtores se machucaram com as famosas operações com os “acumuladores”, com as “operações estruturadas” que “aparecem, desaparecem, dobram”… Caso você estiver “vendido” nesse mercado, nessas operações, coloque um “stop” e “caia fora”. O “primeiro prejuízo será o menor prejuízo”. Muito cuidado!

Desde a geada dos últimos dias 7-8 de agosto, junto com as chuvas de granizo, os vendavais, o frio extremo e prolongado desse inverno, a confirmação da quebra da safra atual para <= 53 milhões de sacas, o atraso atual nas chuvas, e com as recentes floradas irregulares os fundamentos e o quadro da “oferta x demanda” mundial mudaram! Não tem como não voltar a ficar “altista” para o médio prazo.

No curto prazo o mercado está em região “sobrecomprado” e uma correção está sendo esperada a qualquer momento! O efeito “florada” poderá ajudar nesse movimento de realização e poderá ser uma oportunidade para os “vendidos” ajustarem suas posições.

O Dez-25 encontra agora suporte @ 371 / 353 / 332 / 309 e 292 centavos de dólar por libra-peso. E resistências @ 391,30 / 399,65 (máxima do contrato dia 29 de abril de 2024) / 440,85 (máxima do contrato Março-25 dia 12 fevereiro 2025). E depois? Quem viver verá!

Para o produtor que teve problemas na safra atual e já realizou vendas/travas futuras para 26/27 e 27/28 proteja-se comprando uma opção de compra “cal” e/ou uma estrutura “call-spread”.

Para o produtor que não vendeu (como não temos bola de cristal) então a recomendação segue a mesma dos últimos meses: “compre uma estrutura “put-spread” para garantir os preços atuais para as próximas safra 26/27 e 27/28 (nessa semana os preços encerraram acima dos 2.000 R$/saca para 26/27 e acima dos 1.800 R$/saca para 27/28) e continue aproveitando / surfando a onda da alta.

Ainda teremos muitas emoções nos próximos meses!

PS: Você produtor (arábica e/ou robusta), caso queira saber mais sobre nossa consultoria para as operações de hedge, entre em contato conosco através dos emails: priscilla@archerconsulting.com.br ou mmoreira66@yahoo.com; Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 33 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting)

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