Estudo da Embrapa com robusta indica que a maior emissão vem dos nitrogenados.
A cafeicultura é importante meio de subsistência para um grande número de produtores, e boa parte da atividade é exercida por pequenos. O setor passa por um período de forte influência climática e por ameaças comerciais, como a nova lei da União Europeia, que não permitirá a importação de café de áreas com a derrubada de florestas.
Diante desses desafios, pesquisadores da Embrapa buscaram avaliar o balanço das emissões de gases de efeito estufa do setor e o sequestro de carbono por meio da fitomassa e do solo. O resultado indicou que o sequestro de carbono é 2,3 vezes maior do que as emissões.
A emissão é de 2.991,5 kg CO2 equivalente por hectare por ano nos cafezais amazônicos da espécie robusta. O sequestro na planta é de 6.874,8 kg, com um balanço favorável de 3.883.3 kg, segundo Carlos Cesar Ronquim, pesquisador da Embrapa que esteve à frente do estudo ao lado do bolsista Guilherme Amorim Favero.
O trabalho toma como base a produção de robusta em 250 propriedades na região das Matas de Rondônia, a principal produtora de café da amazônia. Eles querem entender como mitigar o efeito das emissões e dar mais resiliência ao setor diante das mudanças climáticas.
O equilíbrio entre emissões e sequestro de carbono na cafeicultura depende de vários fatores, como práticas de manejo, tipo de solo, fatores climáticos, densidade de plantio, capacidade das espécies de armazenar carbono e reutilização da biomassa.
O estudo apontou que a emissão total de gases de efeito estufa na cafeicultura por área, na fase de produção, vem basicamente da aplicação de calcário (12,3%), fertilizantes nitrogenados (79,7%), fertilizantes orgânicos de palha de café (6,1%), óleo diesel dos tratores (0,5%), gasolina nas máquinas roçadeiras (0,9%) e energia elétrica na irrigação (0,4%).
Em algumas áreas indígenas, a emissão é muito pequena, mas com boa produtividade. Novos estudos serão necessários para avaliar essas áreas, que podem direcionar a produção para sistemas mais sustentáveis.
A produção na região é considerada de baixa emissão de carbono (0,84 kg CO2 equivalente por kg de café verde), principalmente devido à produtividade de 68,5 sacas por hectare, uma das mais elevadas do Brasil. Por ser cultivado em pequenas áreas (média de 3,3 hectares), o manejo do café é manual, com pouca emissão provocada por combustíveis fósseis.
A produção na região das Matas de Rondônia é promissora, mas tem desafios. É necessária a seleção de novos clones que visem não só a produtividade mas também resistência à seca, às elevadas temperaturas e à suscetibilidade a pragas e doenças.
Ronquim recomenda o uso eficiente de fertilizantes nitrogenados, redução do espaçamento das plantas e transição para a produção agroflorestal. “Talvez passar para um sistema mais sombreado, cultivado com cacau e com açaí. É uma nova fase à qual o produtor tem de se adaptar”, afirma.
O café de Rondônia, que passou por um ciclo de grande produtividade, agora deve visar mais a sustentabilidade. Esse esforço pode gerar novas receitas vindas da venda de crédito de carbono e facilidades nos financiamentos. O produtor terá uma planilha eletrônica que auditará suas emissões e servirá de base para os financiamentos bancários, diz o pesquisador (Folha)