O café, uma cultura que já convive com preços voláteis, enfrentou um 2024 com uma série de eventos climáticos extremos que afetou a produção e o mercado do grão. Na semana passada, o arábica atingiu novas máximas de preços em 47 anos, a US$ 3,36.
A safra 24/25, colhida em maio, ficou em 65,9 milhões de sacas (21,2 milhões de sacas de robusta e 44,7 milhões de sacas de arábica), um pequeno avanço de 2,49% ante 23/24, segundo a StoneX.
Para 25/26, a expectativa da casa é 65,6 milhões de sacas, com uma queda de 10,5% para a produção do arábica (40 milhões de sacas) e um crescimento de 20,9% para o robusta (26,6 milhões de sacas).
No início de agosto, no cinturão cafeeiro do Brasil, foi vista uma queda nas temperaturas, incluindo uma geada de fraca intensidade, e principalmente, tempo seco e quente no final de agosto, em setembro e no início de outubro, períodos críticos para o desenvolvimento das plantas e o processo de abertura da florada. Com isso, a grande questão fica por conta dos impactos produtivo da safra 2025/2026, a ser colhida em 2025.
O ano de 2024 do café
De acordo com Fernando Maximiliano, gerente de inteligência de mercado café da StoneX, foi visto um cenário de muita valorização do robusta frente ao arábica na temporada passada (24/25), que aconteceu por conta dos problemas de produção no Vietnã e Indonésia, que sofreu com o El Niño no começo do ano.
“Essa oferta menor deu suporte aos preços de robusta em Londres e puxou os preços do arábica para cima. Fora isso, há todo o conflito no Oriente Médio, que provocou uma escalada nos spreads marítimos, lembrando que ali passa a rota principal para café robusta que vem da Ásia, visto que o Vietnã é o maior produtor mundial da variedade, sendo esse um outro impacto direto na cadeia”, explica.
Após isso, houve um segundo momento, que gerou problemas de oferta para o arábica do Brasil. Segundo ele, até o final de julho, existia um certo otimismo com relação ao potencial produtivo do Brasil na temporada 2025/2026.
“Em agosto, a coisa começou a desandar, com o início de geadas e ondas de calor, um momento marcado por extremos no clima. Setembro foi o mês critico que marcou o potencial produtivo do arábica, com frustrações na florada. Para o robusta, não houve problemas climáticos, com o mercado digerindo o cenário de oferta muito reduzida para o arábica”, pontua.
Preços podem cair em 2025?
Para Maximiliano, o ciclo 2025/2026 será mais um ano com discrepância de estimativas, com diferentes projeções para casas de análise, o que deve continuar a alimentar a volatilidade.
“Ainda existem etapas que são críticas para o desenvolvimento do ciclo 25/26. Estamos no período de expansão do fruto, e se você tem problemas climáticos nesse período, os grãos são menores. Em janeiro/fevereiro, ocorre o processo de enchimento dos frutos, e qualquer questão climática pode impactar o rendimento. O clima está sendo bom, mas não estamos isentos de qualquer risco climático, o que pode resultar em revisão das estimativas”.
No acumulado de 2024 até novembro, os preços do café moído acumularam alta de 32,66% no ano, enquanto o solúvel avançou 6,52% no período. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Consumo pode mexer com os preços
Para o analista, um ponto importante fica sobre como o aumento dos preços deve impactar o consumo de café, visto que até novembro a alta nos preços ainda não tinha sido repassada.
“Se os preços se mantiverem nesses patamares que temos observado, a indústria será forçada a repassar ainda mais o aumento dos preços para o consumidor final. Inclusive, várias indústrias já apontaram para essa tendência. A dúvida fica sobre como isso deve impactar o consumo nos próximos meses”.
Além dessa questão, há o aumento da inflação dos EUA, que fez com que o país importasse 16% menos café que em 2023, enquanto a UE viu uma queda de 10%.
“No médio prazo, não vemos grandes fatores que devem mexer com esse viés de alta nos preços, já que a safra do ano que vem será menor. O clima favorável é importante para não vermos maiores perdas, mas já foram impostas perdas irreversíveis para esse novo ciclo. Para 2025, não há milagre que faça com que a gente tenha uma safra abundante. O que poderia mexer com preços é uma queda no consumo” (Money Times)