Brasil encerra COP30 com protagonismo diplomático, mas ainda enfrenta desafios para transformar ambição climática em resultados no território

COP30 chegou ao fim com o Brasil consolidado como uma das principais lideranças da agenda climática global. A atuação da diplomacia brasileira foi amplamente reconhecida durante as negociações, reforçando o papel estratégico do país na formulação de instrumentos inovadores para o financiamento climático e para a proteção das florestas tropicais. Ao mesmo tempo, o evento evidenciou pontos de atenção que ainda precisam de avanços concretos, especialmente nas frentes de mercado de carbono e implementação de novos mecanismos anunciados ao longo da conferência.

Para o especialista em negócios climáticos Pedro Plastino, um dos principais pontos de preocupação foi a ausência de acordos bilaterais que permitissem o uso de créditos de carbono brasileiros em mercados regulados internacionais. Mesmo com negociações em andamento com Suíça, Japão e Singapura, o Brasil não firmou memorandos de entendimento nem avançou nas cartas de ajuste correspondente, instrumento essencial para garantir integridade e liquidez nas transações internacionais.

“O setor privado esperava ver o Brasil dar um passo decisivo para destravar o acesso aos mercados regulados globais. Sem esses acordos, seguimos dependentes do mercado voluntário e perdemos novamente a chance de ampliar nossa participação em um segmento que movimenta bilhões de dólares”, afirma Plastino.

Outro ponto central foi o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), mecanismo inovador articulado pelo governo brasileiro para atrair grandes volumes de financiamento internacional dedicados à conservação de florestas. Embora a concepção e a diplomacia por trás do TFFF tenham sido amplamente elogiadas, o especialista destaca que a efetividade do mecanismo dependerá inteiramente de sua implementação prática.

“O TFFF é uma inovação admirável e o Brasil merece reconhecimento por ter liderado essa agenda, mas ainda não está claro como o dinheiro será distribuído. Precisamos garantir que os recursos cheguem diretamente aos proprietários de terra e às comunidades que protegem a floresta. Se o recurso ficar concentrado no nível federal, corremos o risco de perder eficiência e reduzir o impacto esperado”, avalia.

Entre as boas notícias, um dos avanços mais relevantes foi o lançamento do ARPA Comunidades, iniciativa do Ministério do Meio Ambiente desenvolvida com apoio direto do secretário-executivo João Paulo Capobianco. O programa cria um mecanismo de financiamento direto para associações ribeirinhas, extrativistas e moradores de Reservas Extrativistas, reforçando o papel dessas comunidades na conservação da floresta. A iniciativa já recebeu aportes de diferentes países e instituições, incluindo o Bezos Earth Fund.

“O ARPA Comunidades representa um marco importante porque finalmente reconhece, de forma prática, o protagonismo das comunidades tradicionais. É uma política estruturada para levar recursos a quem realmente cuida da floresta no dia a dia. Agora, o ponto crucial é garantir que esse dinheiro chegue de fato às associações e produza impacto real no território”, diz Plastino.

Apesar das lacunas, o saldo final da COP30 é visto como positivo. O Brasil se posicionou como liderança global, apresentou soluções inovadoras e reforçou sua capacidade diplomática em um momento decisivo para a agenda climática internacional.

Na avaliação do especialista, o Brasil saiu maior da COP30. “Trouxemos ideias relevantes, demos um passo à frente no cenário internacional e mostramos ao mundo que temos potencial para liderar a transição climática. O desafio agora é transformar ambição em impacto real para a floresta e para quem vive dela”.

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