Especialista em inovação digital apaixonado pelo Brasil participa da Conferência do Ifama em Ribeirão Preto.
O Brasil terá melhores oportunidades de negócios à medida que outros países se conscientizarem da impressionante história do desenvolvimento da produção sustentável de alimentos no país. Essa é a avaliação do professor norte-americano Allan Gray, diretor-executivo do Dial Ventures, o Laboratório de Inovação Digital em Sistemas Agroalimentares do Instituto de Pesquisa Aplicada da Universidade de Purdue. A instituição é focada na construção de startups para ajudar a digitalizar a indústria agrícola e alimentícia nos EUA.
Gray será um dos palestrantes internacionais da 35ª Conferência do Ifama (International Food and Agribusiness Management Association ou Associação Internacional de Gestão de Alimentos e Agronegócios), que acontece em Ribeirão Preto, no interior paulista, de 23 a 26 de junho. Será a primeira vez que o maior congresso de agronegócio do mundo será realizado no Brasil.
Em entrevista exclusiva, Gray, que morou em Ribeirão Preto em 2018 e 2019, disse que a realização do Congresso da Ifama é uma excelente oportunidade de o país apresentar o enorme potencial que tem para ser o principal recurso alimentar do mundo e comprovar a sustentabilidade de sua produção.
“É claro que queremos alimentar a população sem destruir os recursos deste planeta para as gerações futuras. O Brasil, que possui o código florestal mais rigoroso do mundo, tem capacidade substancial para aumentar sua produtividade agrícola sem destruir suas florestas.”
Segundo Gray, o país tropical que ele visita todos os anos e ama por suas “belezas naturais, sua cultura maravilhosa e sua forte presença no agronegócio” adotou rapidamente tecnologias para tornar suas terras atuais mais produtivas e possui uma reserva de pastagens subutilizadas que não contém florestas e pode ser usada para ajudar a expandir a produção para ser um dos fornecedores de alimentos mais sustentáveis do mundo.
Em sua palestra “Inovações Sustentáveis: Alcançando Mais com Menos”, no dia 25 de junho, o especialista que coleciona prêmios educacionais em economia agrícola deve falar sobre o trabalho desenvolvido na Universidade de Purdue, no estado da Indiana, de construção de startups com potencial de investimento.
Segundo ele, os operadores tradicionais de um setor têm dificuldade em inovar fora de seu núcleo. A Dial Ventures atua como esse inovador externo para o setor de alimentos e do agronegócio e recebe financiamento desses setores para administrar o estúdio e fazer os investimentos iniciais nas startups que cria.
Ele acredita que as maiores inovações do agro até o momento são a agricultura de precisão e a automação. A primeira levou a melhorias significativas na produtividade e a uma produção mais sustentável por meio da redução de insumos necessários para produzir mais. A automação aumentou a produtividade da mão-de-obra, aumentou a segurança e reduziu a fadiga dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que criou um setor agropecuário mais produtivo.
“Em um futuro próximo, as tecnologias de IA, aprendizado de máquina e blockchain vão impulsionar a eficiência em todo o sistema, tornando-o mais transparente, rastreável e produtivo. Isso nos permitirá alimentar mais pessoas, de forma mais acessível e com ainda menos impacto ambiental.”
Sobre a guerra de tarifas iniciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, Gray diz que o Brasil pode ser beneficiado como fornecedor de alimentos para a China à medida que as novas tarifas tenham força de permanência e sejam impostas unilateralmente entre os EUA e a China.
“Agora, se as tarifas forem táticas de renegociação que resultem em barreiras menores, os EUA continuarão sendo um fornecedor competitivo significativo de produtos agrícolas para a China.”
Na questão da deportação em massa de estrangeiros, o especialista diz que, como a agricultura dos EUA depende fortemente de mão-de-obra estrangeira, os impactos de curto prazo são bem desafiadores, mas há também efeitos devastadores sobre as famílias que moram e trabalham no país há muitos anos.
No longo prazo, o texano prevê um maior acesso à imigração legal para os EUA no setor agrícola e um foco renovado na adoção de tecnologias para reduzir a dependência de mão-de-obra estrangeira (Globo Rural)