BNDES prepara projeto de US$ 3 bilhões em hidrogênio verde para 2025

Investimento pode chegar a US$ 7 bilhões (R$ 38,5 bi) numa segunda fase; banco também quer destravar projetos de biometano.

 

Com investimentos estimados entre US$ 2 bilhões (R$ 11 bilhões) e US$ 3 bilhões (R$ 16 bilhões) apenas na primeira fase, o maior projeto de produção de hidrogênio verde no Brasil tem o lançamento previsto para o ano que vem. A informação é da diretora de Infraestrutura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana Costa, que revela ainda, em entrevista ao Estadão/Broadcast, que o empreendimento pode chegar a US$ 7 bilhões (R$ 38,5 bilhões) nas fases posteriores de desenvolvimento.

A expectativa é de que a decisão final do investimento, a ser apoiado pelo banco de fomento, seja tomada até meados de 2025. O projeto vem sendo trabalhado pelo BNDES desde o ano passado. “Esperamos que, em 2025, o Brasil anuncie seu primeiro grande projeto de hidrogênio verde”, diz a diretora do BNDES.

A produção de hidrogênio com fontes de energia renováveis, que o faz ser classificado como “verde”, custa mais do que o dobro do produto gerado a partir de combustíveis fósseis, o hidrogênio cinza. Demanda assim o apoio do banco público para o investimento ser viável. “Talvez, perca dinheiro por um tempo até se tornar economicamente viável. Mas como toda tecnologia, ela é cara quando está sendo introduzida, e depois o preço cai”, comenta Luciana.

A vantagem do Brasil é que, além de ter já mais de 80% da energia elétrica gerada por fontes limpas, o preço da energia renovável do País é de aproximadamente metade da média de grandes economias, tendo como referência o custo nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A energia renovável corresponde a 70% do custo do hidrogênio verde, apontado como um dos mais promissores substitutos dos combustíveis fósseis.

“Somos muito competitivos em energia. Por isso que digo: o mundo está fazendo a transição energética e o Brasil está bem posicionado no setor de energia”, afirma a diretora.

O BNDES também pretende destravar investimentos em biometano – isto é, o gás combustível produzido a partir da decomposição de materiais orgânicos como o bagaço da cana-de-açúcar e restos de alimentos. O banco avalia que o Brasil pode ser o quinto maior produtor mundial de biometano.

Na entrevista, a diretora do BNDES antecipa que o banco de fomento mais do que dobrou as aprovações de financiamento em infraestrutura. O balanço com os resultados do BNDES no segundo trimestre será divulgado amanhã, 13 de agosto.

Um dos destaques recentes foi a aprovação do apoio financeiro de R$ 10,75 bilhões a obras, que somam R$ 15 bilhões, na via Dutra e na Rio-Santos, rodovias operadas pela CCR. Na esteira desse projeto, Luciana Costa conta que o BNDES aprovou na quinta-feira, 8, uma operação de R$ 1,3 bilhão para investimentos em rodovia no modelo de project finance non-recourse, estrutura também usada no contrato com a CCR. Nesse modelo de financiamento, o projeto entra como a garantia da dívida, sem a cobrança de aval ou fiança dos investidores.

Lembrando da promessa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de entrega da Transnordestina até 2027, a diretora do BNDES pontuou também que um ciclo de investimentos em ferrovias está no horizonte da instituição.

Crédito ao Aeroporto de Porto Alegre

O BNDES está afinando “os últimos detalhes” para a concessão de uma nova linha de crédito em socorro à Fraport, concessionária que opera o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre (RS). O banco está ainda em vias de aprovar uma operação financeira de apoio ao setor de saneamento no Rio Grande do Sul, em meio aos esforços de reconstrução da infraestrutura do Estado, após a tragédia climática.

“A logística e a infraestrutura precisam ser restabelecidas para a economia voltar. Então, o BNDES foi muito rápido na aprovação das linhas para a reconstrução da parte de infraestrutura do Rio Grande do Sul. O aeroporto está muito perto (da recuperação) e já há uma linha disponível para a Fraport também, só acertando os últimos detalhes”, contou Luciana Costa.

Na semana passada, o ministro da Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, anunciaram a autorização para o aeroporto retomar a venda de passagens aéreas à população. Segundo o governo, o aeroporto será parcialmente reaberto em 21 de outubro, e a concessionária previa operar com plena capacidade a partir de 16 de dezembro.

“Então, a infraestrutura está bem coberta do ponto de vista de aprovação (de linhas). E acompanhamos o restabelecimento dos serviços e a reconstrução da infraestrutura”, afirmou Costa.

Em julho, a Fraport divulgou que o valor das obras de recuperação da estrutura do aeroporto internacional de Porto Alegre, incluindo a pista de pousos e decolagens, está estimado em R$ 700 milhões. O BNDES já tinha anunciado em junho a suspensão por 12 meses dos pagamentos de empréstimos para o aeroporto de Porto Alegre.

“Em 2018, o BNDES aprovou financiamento de R$ 1,25 bilhão à Fraport Brasil para ampliação, modernização e manutenção da infraestrutura do Aeroporto Salgado Filho. Com prazo de 20 anos na modalidade Project Finance, o apoio correspondeu a mais de 60% do total dos R$ 1,6 bilhão investido”, lembrou o banco de fomento.

Na semana passada, o BNDES comunicou já ter mobilizado R$ 8,5 bilhões para empresas gaúchas afetadas pela tragédia climática. Mais de 33,3 mil contratos tiveram pagamentos suspensos por 12 meses, totalizando cerca de R$ 1,6 bilhão, sendo 59 operações diretas com grandes empresas, que somam R$ 398,8 milhões.

Houve aprovação também de um financiamento de R$ 1,394 bilhão à RGE Sul Distribuidora de Energia S.A. (RGE Sul) “para adaptação às mudanças climáticas e mitigação dos seus efeitos decorrentes dos eventos climáticos extremos que afetaram o Rio Grande do Sul em maio”.

A distribuidora é responsável por cerca de 65% da energia elétrica consumida no Estado, atendendo a 7,1 milhões de pessoas em 3,1 milhões de unidades consumidoras. A operação incluiu uma cláusula específica para preservação de empregos, e a população gaúcha também seria beneficiada com a suspensão da correção tarifária que seria adotada neste ano.

O banco aprovou ainda R$ 100 milhões em crédito emergencial à concessionária Caminhos da Serra Gaúcha S/A, que opera 271,54 km de rodovias em 18 municípios gaúchos, e outros R$ 125 milhões para a Concessionária das Rodovias Integradas do Sul S.A. (Viasul), que também teve sua malha de 473,4 km afetada pelos eventos climáticos.

“Já aceleramos muita coisa de reconstrução de infraestrutura. Já aprovamos duas operações de rodovias, já aprovamos para energia, estamos em vias de aprovar saneamento, porque a logística precisa ser restabelecida”, enumerou Luciana Costa.

Risco climático

Luciana Costa lembrou ao Estadão/Broadcast que o BNDES já tem linhas de financiamento para adaptação e resiliência às mudanças climáticas, no âmbito do Fundo Clima, mas também está começando a testar modelos de riscos climáticos para serem incorporados aos processos de aprovação de financiamentos do banco de fomento. A executiva diz que o trabalho tem o apoio do cientista Carlos Nobre, que integra o Conselho de Administração do banco de fomento, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Imagina que esses investimentos que aprovamos, às vezes, são de 30 anos. Em 30 anos, vai mudar a tecnologia, pode ter uma catástrofe onde está o aeroporto. Estamos incorporando modelos de riscos climáticos nos nossos processos de aprovação”, afirmou a diretora do BNDES, acrescentando que o aquecimento global já aconteceu, portanto, é preciso adaptar a infraestrutura do País a suas consequências.

“E num país que tem de construir tanta infraestrutura, precisa ter o risco climático incorporado”, defendeu. “Já analisamos o impacto ambiental do projeto, o impacto social e agora vamos começar com impacto de risco climático. Porque todo projeto tem um rating, tem uma nota de risco. Vamos ter de incluir uma nota de risco climático, fazendo eventualmente sugestão como ‘olha, para essa rodovia ser mais resiliente, precisa acontecer isso e aquilo’”, completou (Estadão)



Por que quase ninguém está comprando hidrogênio verde

Empresas que poderiam usar o gás relutam por conta de gastos, desafios logísticos e receio de pouca demanda a curto prazo.

O potencial do hidrogênio como combustível sem carbono tem gerado um entusiasmo sem fim. Desde os desertos da Austrália e Namíbia até os estreitos ventosos da Patagônia, empresas e governos ao redor do mundo planejam construir quase 1.600 plantas para produzi-lo.

O gás pode ser produzido de forma limpa usando energia eólica ou solar, em um processo que separa a molécula da água. Há apenas um problema: a grande maioria desses projetos não tem um único cliente disposto a comprar o combustível.

Entre os poucos com algum tipo de acordo de compra de combustível, a maioria tem arranjos vagos e não vinculativos que podem ser silenciosamente descartados se os compradores em potencial desistirem. Como resultado, muitos dos projetos agora anunciados com grande alarde por países que competem para se tornar “a Arábia Saudita do hidrogênio” provavelmente nunca serão construídos.

Apenas 12% das plantas de hidrogênio consideradas de baixo carbono, porque evitam o gás natural ou mitigam emissões, têm clientes com acordos para usar o combustível, de acordo com a BloombergNEF.

“Nenhum desenvolvedor de projetos sensato vai começar a produzir hidrogênio sem ter um comprador, e nenhum banqueiro sensato vai emprestar dinheiro a um desenvolvedor de projetos sem confiança razoável de que alguém vai comprar o hidrogênio”, diz o analista da BNEF, Martin Tengler.

É fácil entender por que os entusiastas do hidrogênio veem tanto potencial. Na luta contra mudanças climáticas, a molécula pode ser essencial para o mundo alcançar emissões zero de carbono. Quando queimada em uma turbina ou alimentada por uma célula de combustível, gera energia sem emitir gases de efeito estufa no ar. Quase todo o hidrogênio usado hoje é extraído do gás natural, mas produzi-lo a partir de água e fontes renováveis não emite carbono algum.

Muitos analistas não veem outra maneira de descarbonizar a produção de aço, transporte marítimo e outras indústrias que não podem facilmente funcionar com eletricidade. A BNEF prevê que precisaremos usar 390 milhões de toneladas de hidrogênio por ano em todo o mundo em 2050 para eliminar as emissões de carbono da economia global, mais de quatro vezes a quantidade usada hoje.

Mas não é uma mudança simples. A maioria das empresas que poderiam funcionar com hidrogênio precisaria de novos equipamentos caros para usá-lo, um salto que elas relutam em dar. O hidrogênio produzido usando energia limpa custa quatro vezes mais do que o hidrogênio feito a partir do gás natural, de acordo com a BNEF. E é difícil construir a infraestrutura para fornecer hidrogênio —não apenas plantas para produzi-lo, mas também gasodutos para movê-lo— quando a demanda pode não se materializar por anos.

“Não é diferente de qualquer outro desenvolvimento de energia em grande escala. Gasodutos de gás natural não foram construídos sem clientes”, diz Laura Luce, CEO da Hy Stor Energy. Sua empresa tem uma carta de intenção exclusiva para fornecer hidrogênio a uma usina siderúrgica que a SSAB SA da Suécia planeja construir no Mississippi.

Países com potencial para gerar energia renovável abundante, como o Chile com energia eólica e a Austrália e o Egito com energia solarsolar, anunciaram grandes metas para produzir o combustível, muitas vezes para exportação. Mais de 360 plantas foram anunciadas apenas na China, de acordo com a BNEF.

A União Europeia estabeleceu uma meta de produzir 10 milhões de toneladas métricas de hidrogênio sem carbono até 2030, enquanto importa uma quantidade igual. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden destinou US$ 8 bilhões para criar “centros de hidrogênio”, clusters de empresas que produzem e usam o combustível.

Andy Marsh, CEO da Plug Power Inc., diz que sua empresa está realizando trabalhos de engenharia e design em projetos europeus que juntos usariam cerca de 4,5 gigawatts de energia renovável para gerar hidrogênio. “Se metade disso se concretizar, ficaremos felizes”, diz ele. “Se um quarto disso se concretizar, ficaremos felizes.” Embora a UE tenha estabelecido metas ambiciosas, Marsh diz que os estados membros ainda estão incorporando-as em suas próprias regulamentações, atrasando os investimentos privados.

Nos EUA, a indústria e a administração Biden continuam a discutir os requisitos para reivindicar créditos fiscais de hidrogênio sob a lei federal. Projetos destinados à exportação, por sua vez, enfrentam obstáculos adicionais. Ao contrário do gás natural ou petróleo, um sistema global para transporte de hidrogênio ainda não existe. Transportar hidrogênio requer super-resfriamento, compressão ou transporte em outra forma mais manejável, como amônia, que combina hidrogênio com nitrogênio.

Werner Ponikwar, CEO da fabricante de equipamentos de hidrogênio Thyssenkrupp Nucera AG, considera os gasodutos uma boa opção, mas muitos potenciais exportadores de hidrogênio não conseguiriam alcançar clientes potenciais via tubulação. “Se você tem que atravessar um oceano, isso é mais difícil”, diz ele. Muitos esperam uma eliminação silenciosa de projetos mais aspiracionais. Algumas plantas propostas já foram arquivadas.

Ponikwar diz que os projetos com maior probabilidade de sucesso hoje são aqueles que incluem “todo o ecossistema”, localizando uma planta de hidrogênio perto de uma fonte de energia limpa, com um cliente pronto nas proximidades. Sua empresa, por exemplo, está fornecendo equipamentos para uma planta de hidrogênio no norte da Suécia que, por sua vez, abastecerá uma usina siderúrgica sendo desenvolvida pela H2 Green Steel, que garantiu US$ 6,9 bilhões em financiamento para o projeto. A abundante energia hidrelétrica da região fornecerá a eletricidade, e o Grupo Mercedes-Benz concordou em comprar 50 mil toneladas métricas de aço da usina por ano. “Com o aço verde, há um mercado interessado em comprar, e eles estão dispostos a pagar um prêmio por isso”, diz Ponikwar.

A Hy Stor seguiu um caminho semelhante, projetando um projeto que será localizado perto de seu cliente SSAB. O projeto da empresa no Mississippi usará energia eólica e geotérmica no local para produzir o hidrogênio, armazenando-o em uma caverna de sal subterrânea. Outros clientes agora estão interessados no hidrogênio do projeto, diz Luce. Embora a construção ainda não tenha começado, ela pretende ter o projeto em funcionamento até 2027. “Não construímos um projeto e depois tentamos vendê-lo para as pessoas. Construímos um projeto em torno de um cliente”, diz Luce. “Eu sempre acho que projetos alinhados com o cliente encontram uma maneira de serem construídos” (Bloomberg)

Related Posts

  • All Post
  • Agricultura
  • Clima
  • Cooperativismo
  • Economia
  • Energia
  • Evento
  • Fruta
  • Hortaliças
  • Meio Ambiente
  • Mercado
  • Notícias
  • Opinião
  • Pecuária
  • Piscicultura
  • Sem categoria
  • Tecnologia

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Quer receber notícias do nosso Diário do Agro?
INSCREVA-SE

You have been successfully Subscribed! Ops! Something went wrong, please try again.

© 2024 Tempo de Safra – Diário do Agro

Hospedado e Desenvolvido por R4 Data Center