Ex-dirigente de várias entidades, Christian Lohbauer destaca sucesso do setor a tecnologia, capital humano e mercado interno.
Símbolo de atraso econômico até meados da década de 1980, o agronegócio brasileiro reúne condições únicas que o tornou produtor e exportador de alimentos, fibras e energia.
O setor ganha importância simultaneamente ao processo de desindustrialização brasileiro. Após conseguir uma das maiores plataformas industriais manufatureiras do mundo, a competividade nacional foi reduzida a ponto de não ter aproveitado novos ciclos tecnológicos.
O Brasil é capaz de produzir quase tudo dentro de seu território, mas não é competitivo em quase nada. O sexto ciclo de inovação tecnológica já começou com inteligência artificial, robôs, drones e tecnologias com impacto ambiental negativo. O país não terá condições de participar desse novo ciclo se não for com a participação do agronegócio.
As avaliações são de Christian Lohbauer, ex-dirigente de várias entidades do agro, no lançamento de um novo documento do Instituto Millenium. Ele alerta, no entanto, que ainda há desafios estruturais na formação de capital humano e na infraestrutura, além da necessidade da busca de um fortalecimento da estabilidade institucional e de garantias do desenvolvimento da sociedade brasileira no longo prazo.
Lohbauer, que passou por várias instituições ligadas ao agronegócio, diz que o avanço do setor ocorre devido à combinação de uma série de fatores, que ele classifica como “as sete maravilhas” que viabilizam essa condição brasileira de fornecedor de proteínas, fibras e energia.
São muitas as causas de transformação, entre elas estão o afastamento dos governos do controle de preços, a não interferência nos mecanismos de mercados, a migração de produtores do Sul e Sudeste para outras regiões e a utilização de novas tecnologias na tropicalização da agricultura.
Ele destaca entre essas sete maravilhas, além da abundância de água e de terra, a tecnologia desenvolvida e adaptada às condições tropicais, o que explica e sustenta a vocação brasileira para a produção de alimentos, fibras e energia.
Para Lohbauer, a tropicalização da atividade agropecuária provocou uma revolução na agricultura moderna. Os brasileiros passaram a investir na correção do solo, com ganhos de produtividade bem superior ao da média global.
O país desenvolveu também um aprimoramento genético das plantas, integração lavoura-pecuária e floresta e tecnologia de defesa vegetal em um ambiente tropical. Esta última ganhou destaque com o desenvolvimento dos defensivos biológicos, que já somam 3% do mercado brasileiro, o principal no mundo.
Lohbauer destaca também o capital humano como uma das sete maravilhas do setor. Apesar da enorme desigualdade social, o país desenvolveu uma rede de instituições geradoras de conhecimento e de ciência. A idade mais jovem do produtor agrícola brasileiro é fator essencial para a incorporação dessas novas tecnologias.
Outra vantagem brasileira é o tamanho do mercado interno consumidor. O país, além de ser um dos maiores produtores mundiais de alimentos, está entre os grandes consumidores. Essa escalada da produção fez do Brasil um dos principais exportadores mundiais do setor.
O surgimento de empresas ligadas ao setor é mais uma das sete maravilhas classificadas por Lohbauer. Elas são importantes nessa consolidação. As empresas de proteínas ligadas a processos de integração de pequenos produtores se tornaram gigantes e grandes participadoras do mercado internacional.
As cooperativas agrícolas, classificadas por ele como máquinas de produção e de exportação, têm papel importante nesse processo do agronegócio. Em todos os setores, como os de suco, café, açúcar, frutas e outros foram desenvolvidos modelos de processamento industrial e de logística tecnológica.
O desenvolvimento do agronegócio brasileiro movimentou toda a cadeia e atrai a atenção de empresas de insumos, equipamentos agrícolas, indústria química e tradings. Muitas passaram a ter o Brasil como a principal área de negócios do mundo.
Como sétimo pilar das maravilhas do país, Lohbauer coloca a estabilidade institucional. Embora a história brasileira das últimas quatro décadas não possa ser descrita como um período de tranquilidade econômica e política, as instituições foram preservadas.
O país, no entanto, ainda é desorganizado e indisciplinado na utilização de recursos públicos e na política fiscal. Apesar disso, o ambiente é favorável ao investimento e ao desenvolvimento da produção de alimentos.
Para ele, porém, “a percepção da sociedade e da opinião pública sobre a realidade e a oportunidade do agronegócio como força de propulsão da prosperidade e da segurança do país não estão claras para todos” (Folha)