Técnicos do estado afirmam que é cedo para avaliações, mas produtividade recua.
A safra de trigo do Paraná, que já estava afetada pela seca, principalmente no norte do estado, recebeu mais um impacto negativo. Desta vez, o das geadas da semana.
O estado está com 1% colhido, e 21% das lavouras estão em estado de maturação, sem problemas. Outros 57%, porém, se encontram em um período suscetível, da floração à frutificação. Esse estágio vai do espigamento ao final do enchimento de grãos nas lavouras.
Carlos Hugo Winckler Godinho, analista de trigo do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná, diz que dos 57% mais suscetíveis, pelo menos um terço da área vai merecer uma atenção especial nas próximas avaliações de produtividade e de produção.
Ele acredita que parte dessa área poderá ter de perda total a efeitos mínimos provocados pela geada. Outros 22% estão em áreas que foram as mais afetadas pelo frio intenso, mas as lavouras serão beneficiadas pela forte queda de temperaturas. Esse frio intenso gera algum controle de praga e, possivelmente, um melhor perfilhamento da planta.
O pesquisador do Deral afirma que ainda é difícil uma avaliação correta do ocorrido, uma vez que cada região do estado foi afetada de forma diferente. Parte das lavouras já estava fora de perigo, outra era passível de problema. Nem toda ela, no entanto, será afetada. Além disso, dependendo do estágio dessas lavouras, o frio pode até ter beneficiado o desenvolvimento da cultura.
Na avaliação preliminar dele, porém, o benefício causado em algumas regiões não deve suplantar o efeito negativo trazido pela geada. A tendência é uma produtividade inferior ao que o Deral estava esperando.
Na próxima semana, os técnicos do Paraná vão atualizar os números de produção do estado. A geada deverá reduzir ainda mais a produção esperada, que poderá ficar abaixo dos 3,65 milhões de toneladas de 2023. A produção do ano passado já havia sido afetada por seca e geadas.
Rio Grande do Sul, que tem as lavouras em estágio mais atrasado, e Paraná são os principais produtores nacionais. A colheita do Paraná se concentra mais nos meses de setembro e de outubro, quando o trigo dá lugar para a soja ou milho verão.
Os dados mais recentes da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) indicam uma produção nacional de 8,8 milhões de toneladas, acima da de 2023, mas abaixo do recorde de 10,5 milhões de 2022.
Nas contas da Conab, o Rio Grande do Sul lidera com 4,2 milhões de toneladas, enquanto o Paraná colherá 3,1 milhões.
Na área internacional, o Itaú BBA aponta uma redução constante nos estoques finais em relação ao consumo mundial. Na safra 2024/25, eles deverão ficar em 32,4%, abaixo dos 40,2% de 2019/20.
Os analistas do banco estimam um consumo interno de 11,9 milhões de toneladas, e as exportações em 2 milhões.
A Stonex também revisou seus números neste mês. A consultoria subiu a produção nacional para 8,4 milhões de toneladas, com o Rio Grande do Sul ficando com 3,6 milhões, e o Paraná, com 3,4 milhões.
No cenário mundial, o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estima produção e consumo próximos de 798 milhões de toneladas em 2024/25. A Rússia, principal fornecedora do cereal no mercado internacional, terá uma quebra de safra para 83 milhões de toneladas, após ter atingido o recorde de 92 milhões em 2023/24 (Folha)