Por Roberto Rodrigues
Grande sabedoria e segredo é conciliar o uso de tecnologias sustentáveis com a remuneração ao produtor, com redução de custos e aumento da produtividade.
Vem crescendo no Brasil o apelo por uma agricultura menos dependente de insumos químicos, o que é uma “demanda” mundial que, de forma genérica, é chamada de “agricultura regenerativa”.
O que é exatamente isso? Diferentes grupos acadêmicos e técnicos – inclusive produtores rurais – buscam o conceito consensual a respeito, com ênfase para o campo tropical.
Em resumo, a Agricultura Tropical Regenerativa (ATR) objetiva a saúde do solo para, assim, garantir a saúde das plantas que asseguram a saúde humana. Produzir mais na mesma área, com o uso de insumos biológicos associados a químicos, sempre buscando a redução destes últimos.
A revolução verde ocorrida nos anos 70 do século passado trouxe o uso intensivo de defensivos e fertilizantes químicos, com o inegável aumento da oferta de alimentos e redução da fome no mundo, o que inclusive deu o Prêmio Nobel da Paz a seu idealizador, o agrônomo americano Norman Bourlaug. Mas, de outro lado, houve alguma degradação e poluição dos solos, e é imperioso recuperar esse passivo.
O grande segredo é conciliar o uso de tecnologias sustentáveis com a remuneração ao produtor, com redução de custos e aumento da produtividade. Caso contrário, não vai funcionar.
E também é importante lembrar que a ATR é diferente de agricultura orgânica. Na verdade, os agricultores brasileiros já fazem muita ATR. É o caso da integração lavoura/pecuária/floresta, plano lançado pelo MAPA em 2005 e que é utilizado em milhares de hectares pelo País a fora. O plantio direto é ainda mais antigo, e quase todo mundo o pratica, em especial no cultivo de grãos.
A fixação biológica de nitrogênio do ar no solo é processo usado por todos os produtores de soja. O uso de bioinsumos cresce no Brasil mais do dobro do que acontece no resto do mundo. Os biocombustíveis e seus subprodutos, inclusive o biometano, o DDG e o farelo de soja, compõem notável exemplo de agricultura circular, bem como os 10 milhões de hectares de florestas plantadas para produção de madeira e celulose.
Mas o maior avanço da ATR no Brasil é o uso integrado de insumos biológicos e químicos. É o item da maior atenção, ao lado da redução de combustíveis fósseis. Sabe-se que a substituição total de químicos por biológicos ainda é um sonho utópico. Talvez nunca aconteça. Portanto, a grande sabedoria é reduzir o uso dos químicos sem destruir a renda (Roberto Rodrigues é ex-ministro da Agricultura e professor emérito da Fundação Getúlio Vargas; Estadão)