Acordo UE-Mercosul é adiado após Itália se unir à França em oposição

  • Apesar da frustração, auxiliares de Lula dizem que desfecho não é desastre completo
  • Assinatura do tratado estava prevista para sábado (20/12) em Foz do Iguaçu, mas ficará para janeiro

A decisão da União Europeia de adiar a assinatura do acordo com o Mercosul, inicialmente prevista para o próximo sábado (20), frustrou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e criou um anticlímax nos preparativos da cúpula do bloco sul-americano em Foz do Iguaçu.

Diplomatas de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai estão reunidos na cidade fronteiriça para organizar a reunião de chefes de Estado planejada para o sábado (20/12), quando se esperava a cúpula do bloco europeu para sacramentar o tratado em negociação há mais de 25 anos.

Quando o adiamento foi confirmado, nesta quinta (18/12), chegou a ser sugerida em reunião preparatória para a cúpula do Mercosul, do grupo mercado comum, uma pausa de alguns minutos para que os participantes pudessem processar a informação. Foi dada sequência à sessão, mesmo com o fluxo crescente de diplomatas nos corredores.

Apesar do clima de frustração, auxiliares de Lula dizem que o desfecho não é um desastre completo, porque deixa aberta a porta para a assinatura em um curto prazo. A expectativa, agora, é que o próximo passo seja dado em janeiro de 2026.

Ainda assim, a notícia foi considerada como desagradável para a presidência brasileira, que transmitirá a liderança rotativa do bloco sul-americano para o Paraguai no próximo ano. Para Lula, a assinatura do acordo UE-Mercosul poderia ser acrescentada a seu portfólio internacional em ano de campanha eleitoral.

Para não comprometer o acordo, os sul-americanos evitaram reagir às salvaguardas aprovadas pelos europeus, ainda que as regras não agradassem ao bloco, e demonstraram paciência com novos entraves para não dar munição aos opositores. Lula chegou a dizer publicamente que o acordo estava mais favorável à União Europeia que ao Mercosul.

No assunto das salvaguardas, por exemplo, foi estabelecido que uma investigação será aberta se houver diminuição nos preços de produtos sensíveis vindos do Mercosul, como carne bovina e açúcar, maior do que 8% em relação à média de três anos ou se houver um aumento no volume de importações superior a 8% no mesmo intervalo.

Mesmo contrariado, o Mercosul empurrou eventuais conflitos nesse tema para o futuro. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, um pacote de salvaguardas comerciais só seria feito pelo bloco depois da assinatura do tratado com a União Europeia.

Nos bastidores, membros do governo Lula eximem o Mercosul de responsabilidade pelo novo impasse e enxergam o adiamento como reflexo da incapacidade de articulação política do bloco europeu. Os dias que precederam a cúpula sul-americana foram marcados por tensas negociações na Europa e recados públicos dos países contrários e favoráveis ao tratado.

A França é um dos principais opositores à assinatura do acordo, diante da pressão de seus agricultores, e angariou o apoio da Itália às vésperas dos trâmites finais no Conselho Europeu, responsável por dar ou não o mandato para a assinatura do pacto.

Foi decisiva para o adiamento uma conversa telefônica entre Lula e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Em Brasília, o chefe do Executivo comentou que Meloni pediu um mês para convencer os agricultores italianos a aceitar o acordo UE-Mercosul.

Lula disse que levaria o pedido de postergação a outros presidentes do bloco sul-americano. Em Bruxelas, a resposta do presidente brasileiro foi lida como um sinal de que Lula aceitaria dar mais tempo aos europeus, mesmo tendo, um dia antes, ameaçado engavetar o acordo discutido há 26 anos se a assinatura fosse adiada pelos europeus.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou também ter conversado com o presidente da França, Emmanuel Macron, sobre o acordo entre a União Europeia e o Mercosul e defendeu dar um pouco mais de tempo aos europeus, como franceses e italianos pleiteavam.

Horas depois, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou aos líderes do bloco europeu que o tratado não seria mais assinado no Brasil, no sábado. Von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, eram esperados em Foz do Iguaçu para assinatura do acordo, mas solicitaram o cancelamento da viagem.

Marcos Troyjo, que era secretário de Comércio Exterior quando foi negociado o texto-base do acordo em 2019, viu diminuir as chances de possibilidade de parceria entre os blocos, mesmo com a Europa “ensanduichada” pela competição entre Estados Unidos e China.

“As coisas ficam mais difíceis para os países do Mercosul e também para a União Europeia. É uma grande derrota para a União Europeia não fazer o acordo”, afirma à Folha (Folha)


Produtores rurais da União Europeia protestam contra acordo com Mercosul

Semana é decisiva para as definições e a assinatura do tratado que cria uma zona de livre comércio entre os dois blocos.

Agricultores e pecuaristas protestaram e entraram em confronto com a polícia, em Bruxelas, Bélgica, em manifestação contra a assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Sindicatos rurais organizaram várias marchas com destino à Praça Luxemburgo, onde está o Parlamento Europeu, em oposição ao tratado que pode ser assinado ainda nesta semana, informam agências internacionais.

O acordo prevê a eliminação gradual de tarifas de importação de produtos dos dois blocos regionais, criando uma zona de livre comércio. Os produtores rurais europeus afirmam que as condições do acordo lhes são prejudiciais, podendo afetar seus meios de subsistência.

Durante a última edição da Agritechnica, feira de tecnologia agrícola, em Hannover, na Alemanha, ainda no mês de novembro, a reportagem da Globo Rural ouviu agricultores locais, que manifestaram sua preocupação.

Nesta semana, o Parlamento Europeu aprovou a adoção de mecanismos de salvaguarda caso as importações de produtos agrícolas do Mercosul cresçam até um determinado patamar. O texto é mais rigoroso que a proposta original. Na quarta-feira, a Comissão Europeia divulgou o que seria a versão definitiva das regras de proteção local.

O acordo entre Mercosul e União Europeia vem provocando divisões entre governos do bloco europeu. Enquanto Espanha e Alemanha defendem a assinatura do tratado.

“Este acordo comercial é o primeiro de muitos que devem vir para que a Europa ganhe peso geopolítico e geoeconômico num momento em que está sendo questionada por adversários declarados, como (o presidente russo Vladimir) Putin, ou mesmo por aliados tradicionais”, disse o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

A principal força de oposição vem da França e da Itália. Polônia, Bélgica, Áustria e Hungria também estão entre os críticos.

O presidente da França, Emmanuel Macron, exigiu a inclusão de salvaguardas, o que, conforme agências internacionais, seria também um movimento para evitar uma ascenção da extrema-direita francesa. Macron pediu também regulamentações masi rigorosas para os países do Mercosul, como restrições ao uso de químicos e aumento do rigor nas inspeções.

A primeira-ministra da Itália, Georgia Meloni, disse considerar “prematuro” um acordo neste momento. A expectativa inicial era a de lideranças dos dois blocos assinarem o acordo neste fim de semana. A criação de uma zona regional de livre comércio está em negociação há pelo menos 25 anos.

Também nesta quinta-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von Der Leyen, defendeu a assinatura do acordo e pediu o apoio dos 27 países da União Europeia. “É de enorme importância que obtenhamos o sinal verde para o Mercosul e que possamos concluir as assinaturas para o Mercosul”, disse.

A zona de livre comércio entre os dois blocos seria a maior do mundo. Da parte do Brasil, maior economia do Mercosul, o governo defende a assinatura do acordo e considera que o momento atual é positivo para uma conclusão das negociações.

Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou do que chamou de indecisão dos europeus. Reiterando críticas aos governos de França e Itália, disse que os sul-americanos cederam em tudo o que foi possível.

Neste sábado, em Foz do Iguaçu (PR), o Mercosul realiza sua reunião de Cúpula. Lula disse que o encontro estava marcado para novembro, mas a pedido dos europeus foi adiado, esperando pelo sinal verde dos governos da Europa para, enfim, assinar o acordo (Globo Rural)


Maior economia do Mercosul tem o bloco como destino de 15% de suas exportações neste ano

Maior economia do Mercosul, o Brasil tem na União Europeia um dos mercados mais importantes para exportações agropecuárias. Como bloco, fica atrás apenas da China, principal parceiro comercial do país, situação que ajuda a explicar o interesse do governo brasileiro na assinatura do tratado que deve criar a maior zona de livre comércio do mundo.

De janeiro a novembro de 2025, os chineses responderam por 34% dos embarques, de acordo com o sistema Agrostat, de estatísticas do Ministério da Agricultura. Os europeus responderam por 15%, mesmo com uma redução do valor das exportações em relação ao ano passado.

Nos onze primeiros meses de 2025, as exportações agropecuárias do Brasil para a União Europeia totalizaram US$ 22,89 bilhões, valor menor que o do mesmo período no ano passado, quando foram US$ 27,71 bilhões. Café, complexo soja, produtos florestais e carnes lideram a pauta.

Entre os principais destaques das exportações para o bloco nos primeiros onze meses do ano, está a carne bovina. O valor dos embarques somou US$ 820,15 milhões, um aumento de 83,2% em relação ao mesmo período no ano passado. A união Europeia só ficou atrás de China e Estados Unidos no segmento.

Já na carne de frango, o bloco é o sexto principal comprador do produto brasileiro, atrás de Arábia Saudita, China, Emirados Árabes, Japão e México. Os embarques para o bloco somaram US$ 457,99 milhões nos onze primeiros meses de 2025.

Já no café em grão ou café verde, o bloco é o principal destino das exportações brasileiras. De janeiro a novembro, os embarques do produto renderam US$ 6,43 bilhões (US$ 1,22 bilhão a mais que no mesmo intervalo em 2024), o equivalente a quase metade do valor total do segmento no período e superando os Estados Unidos.

Na celulose, mesmo com a queda de 12,9% nas exportações nos onze primeiros meses do ano, a União Europeia se manteve como segundo principal destino do produto brasileiro, com participação de 21,1% do total. De janeiro a novembro, os embarques renderam US$ 1,98 bilhão, informa o Ministério da Agricultura.

No complexo soja, a União Europeia está entre os principais compradores do farelo brasileiro. De janeiro a novembro, foi o terceiro principal destino, atrás de Irã e Indonésia. Em um ano em que o mercado sentiu os efeitos da queda de preços, o valor dos embarques diminuiu em US$ 157,66 milhões, mesmo com o volume subindo 1,65 milhão de toneladas.

Importações aumentaram

Se as exportações para a União Europeia caíram no intervalo de janeiro a novembro, as importações de produtos agropecuários do bloco pelo Brasil aumentaram no período. O valor das compras foi de US$ 3,57 bilhões nos onze primeiros meses do ano, de acordo com o sistema Agrostat, de estatísticas do Ministério da Agricultura. Em 2024, foram US$ 3,5 bilhões.

Produtos oleaginosos (com exceção da soja), bebidas, produtos florestais, cereais farinhas de preparações, hortaliças e frutas (incluindo nozes e castanhas) estão entre os principais itens da pauta de importações (Globo Rural)

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