É necessária uma nova ‘porta’ de financiamento para ações de adaptação à nova realidade. Por Gustavo Inácio de Moraes
Os ciclos e eventos naturais permanecem conectados à atividade primária, ainda que o avanço técnico e a produtividade tenham alcançado níveis expressivos nas últimas décadas: é que em paralelo as ocorrências extremas se tornaram mais frequentes e afetam, sobretudo, as regiões de transições climáticas, como a região Sul do Brasil.
Para o Rio Grande do Sul, líder nacional na produção de arroz, trigo, uva e aveia, além de relevante em soja, carne bovina, carne de frango e batata, a agropecuária sempre foi uma vocação que caracterizou o estado. Logo, o impacto na cesta de alimentos dos brasileiros dos problemas climáticos é relevante e de difícil substituição em caso de quebras de safra e inviabilização das culturas.
O problema posto pelas sucessivas ocorrências, que se acumulam pelo menos há uma década e que fazem com que haja crescente necessidade de investimentos em empregos de novas técnicas, se soma, atualmente, a: (1) pagamentos de seguro maiores; (2) uma queda generalizada nos preços das commodities; (3) aumentos significativos nos preços dos insumos e, portanto, menor margem de lucratividade; (4) além de recursos para o Plano Safra em menor volume do que o desejado; (5) e de taxas de juros desfavoráveis no financiamento agrícola público e privado.
Esses desafios se unem aos já antigos como a dificuldade de escoamento logístico no leste do Rio Grande do Sul, com estradas que são comparativamente piores do que as dos vizinhos nacionais ou internacionais, dificultando e encarecendo o acesso aos portos. Como exemplo adicional, o porto de Rio Grande, no sul do estado, habitualmente fecha as atividades pelas condições de tempestade no litoral, dificultando o desempenho produtivo dos terminais.
Desse modo, não é difícil mapear as ações estratégicas necessárias para que o setor primário gaúcho possa estabelecer níveis crescentes de produtividade. Complicado é fazê-lo em um contexto em que não há sensibilidade das autoridades à urgência na resolução desses problemas e os recursos são escassos ou em um contexto de orçamento estadual em que os investimentos são baixos, devido à pressão das despesas com funcionalismo acumuladas ao longo das décadas.
Logo, é necessária uma nova “porta” de financiamento para ações de adaptação à nova realidade, mais competitiva. Possivelmente, com a ampliação do comércio com países da bacia do Pacífico, já predominantes na balança comercial estadual, o capital externo deva ser atraído para obras.
Para listar as prioridades de atuações, que alcançam toda a economia brasileira, podemos elencar: reforçar a indústria de máquinas agrícolas, presente e dinâmica no RS, como instrumento do aumento de produtividade agrícola é um imperativo para oferecer soluções para todo o Brasil; realizar um esforço concentrado em logística nas estradas e portos é uma maneira de entregar a todos os consumidores brasileiros um alimento mais barato em suas mesas; e redesenhar as disponibilidades financeiras voltadas para a agropecuária, seguros e financiamentos, à luz dos novos parâmetros climáticos e de volatilidade de preços dos produtos e dos insumos nos mercados de commodities internacionais (Gustavo Inácio de Moraes é economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS; Folha)