O economista José Roberto Mendonça de Barros: para ele, sucesso do Brasil na contenção da gripe aviária reforçou mensagem de que o agro brasileiro é confiável
A política internacional dos Estados Unidos terá consequências negativas para os produtores rurais americanos, que estão por enfrentar uma “grave crise”, disse o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, durante sua participação no CBN Talks Agro, evento que a Rádio CBN realizou ontem (3/12) em São Paulo. Para ele, esse quadro seguirá favorecendo o Brasil.
“A maior parte dos analistas aponta para uma crise financeira no mercado americano. Para a agricultura dos Estados Unidos, o governo [do presidente Donald] Trump vai ser muito ruim. Ele está repetindo seu primeiro mandato, [repetindo] o que fez com a China”, avaliou.
Recentemente, China e Estados Unidos assinaram um acordo em que os chineses assumiram o compromisso de importar uma série de produtos agrícolas americanos. Pequim comprometeu-se com a compra de 12 milhões de toneladas de soja ainda neste ano e de 25 milhões de toneladas em 2026. Mas, para Mendonça de Barros, o acordo já nasce fragilizado.
“O mais provável é que a China não cumpra isso. Até agora, ela comprou apenas 5 milhões de toneladas. Isso porque o sinal que Trump dá é: não confie nos Estados Unidos”, disse ele. “Prevejo uma grande crise no agro americano”, sintetizou.
Na avaliação do economista, mesmo que a China execute integralmente os termos do acordo em 2026, isso apenas consolidaria a compra de cerca de 80 milhões de toneladas do Brasil, ratificando a posição brasileira de principal fornecedor de soja no mercado internacional.
Segundo ele, o caso único de gripe aviária em granja comercial, que o Brasil detectou no primeiro semestre, atestou a eficácia do manejo e da defesa agropecuária do país, o que reforçou ainda mais a percepção global de que o agronegócio brasileiro é confiável. “Todos os outros países tiveram sequência de casos, não conseguiram controlar”, observou.
Cadeia do leite precisa evoluir, avalia pecuarista
O agro do Brasil tem diferenciais competitivos no mercado internacional, mas isso não significa que o país tem posição de destaque em todas as frentes – e nem que não tenha que evoluir em muitos aspectos. É o caso, por exemplo, da pecuária leiteira, opina Andres Rojas, proprietário da Fazenda Sertãozinho, de Virgínia (MG).
“Os Estados Unidos produzem três vezes mais produtos lácteos com a metade do número de produtores do Brasil”, relatou. Com um contingente de 1,5 milhão de produtores, o mercado brasileiro produz cerca de 30 milhões de toneladas de lácteos. Já no americano, são 700 mil produtores e 100 milhões de toneladas de lácteos.
Rojas lembrou que, nos últimos anos, 20% dos produtores de leite deixaram a atividade. Para ele, esse enxugamento expõe falhas de gestão e amadorismo no segmento.
“Muitos tratam a atividade como extensão do sítio, não como empreendimento”, disse. “Eficiência é o retorno para cada real investido. Os produtores realmente profissionais e que trabalham sério vão prevalecer”.
Pontos de atenção em 2026
Seja qual for o nível de eficiência de produtores e empresas, o fato é que todos experimentarão um quadro econômico bastante complexo em 2026, acredita Andre Glezer, fundador da Agrolend. “Todas as variáveis estão complicadas. Vai ser ano eleitoral, os juros podem cair, mas seguirão em patamar alto”, afirmou.
Glezer defendeu que, para enfrentar eventuais dificuldades, os produtores adotem uma postura conservadora. “Minha sugestão é que deem muito foco a custo e eficiência. Não é momento de grandes investimentos, mas de olhar para dentro de casa”, disse.
Sem deixar de reconhecer que há problemas no campo, como endividamento e aperto de margens em diversas atividades, ele chamou a atenção para o “paradoxo” do setor. “Mesmo com crédito caro, a área de plantio deve crescer, especialmente a do milho. Isso demonstra a força do agronegócio do Brasil”, disse.
Para o executivo, os contratempos têm reforçado a maturidade do setor. “O agro brasileiro é de fato um tanto contraditório. Talvez isso ocorra porque o posicionamento do país esteja em seu melhor momento. A Rússia sumiu, a Europa é um continente velho, a África do Sul tem problemas e a Índia é cara”, pontuou (Globo Rural)




