Suplementação é aliada da eficiência produtiva nas fases iniciais do desenvolvimento dos bovinos
A eficiência produtiva na bovinocultura de corte e leite está diretamente ligada à qualidade da nutrição oferecida nos estágios iniciais do desenvolvimento dos animais. As fases de cria e recria são particularmente decisivas, pois é nesse período que se estabelece a base estrutural, funcional e imunológica que sustentará o desempenho do bovino ao longo de toda a sua vida produtiva.
Essas etapas envolvem intensas transformações fisiológicas e elevadas exigências metabólicas, que demandam uma abordagem nutricional mais precisa e estratégica. Em vez de focar apenas no aporte calórico e proteico, é essencial pensar a nutrição como um instrumento de modulação funcional, capaz de contribuir para a saúde, o crescimento e a eficiência dos processos biológicos dos animais.
Cria: o início da trajetória produtiva
Durante a fase de cria, os bezerros passam por uma etapa crítica de adaptação. Nascem com o sistema imunológico imaturo, dependentes da imunidade passiva adquirida via colostro, e com um trato digestivo ainda em desenvolvimento. A transição do leite para o alimento sólido ocorre em paralelo ao crescimento acelerado de tecidos e órgãos.
É uma fase em que o equilíbrio nutricional faz toda a diferença. Os aminoácidos, pilares para a produção das proteínas no organismo, além de outras funções importantes, são fundamentais. Eles participam da geração de energia, do desenvolvimento corporal, da produção de hormônios, anticorpos (imunoglobulinas), hemoglobina e hemácias. A glutamina, por exemplo, serve como fonte energética para células do sistema imune, a lisina contribui diretamente para o crescimento linear e a formação de colágeno, com impacto direto sobre o desenvolvimento estrutural do animal.
Para atender a essas demandas específicas, a suplementação estratégica se mostra uma aliada valiosa. Ao promover condições para melhora no desenvolvimento corporal e ganho de peso, o produto ajuda os animais a atingirem seu máximo potencial. Além disso, fortalece o sistema imunológico, proporcionando maior resistência em períodos de desafios infecciosos, como infecções bacterianas ou virais.
Como destaca Marcos Malacco, gerente de serviços veterinários da Ceva Saúde Animal:
“A cria não é só o começo da vida do animal. É o ponto de partida da eficiência produtiva. Investir em suplementação adequada nessa fase, além de outros cuidados sanitários, é uma forma de evitar perdas silenciosas que só se revelam ao final do ciclo.”
Recria: consolidando o desempenho
Inicia-se com o desmame dos animais, momento geralmente marcado por grande estresse. Nessa fase, o principal objetivo passa a ser maximizar o crescimento muscular e esquelético, o que aumenta a taxa metabólica e as exigências para o rápido desenvolvimento e o alcance das condições mínimas para a entrada na reprodução, início da engorda e terminação. As fêmeas devem receber atenção para que emprenhem e mantenham a gestação, ao mesmo tempo em que ainda estão em desenvolvimento corporal.
A nutrição continua desempenhando papel central, mas com foco redirecionado: transformar o potencial genético e o aproveitamento dos nutrientes com máxima eficiência. Aminoácidos, como metionina, treonina e valina são importantes aliados nesse processo. A metionina participa da síntese de antioxidantes endógenos, como a glutationa; a treonina é vital para a manutenção da mucosa intestinal e síntese de imunoglobulinas; já a valina está ligada à construção muscular, geração de energia, produção de hormônios e exerce papel importante na reprodução.
Malacco reforça: “Na recria, o foco da suplementação muda. Produto passa a ser um catalisador metabólico, que garante que os nutrientes ingeridos sejam bem utilizados, apoiando o crescimento, a resposta vacinal e o preparo do animal para as fases finais do ciclo. Ainda possibilita o aproveitamento do pool completo de aminoácidos fornecidos e da colina sem perdas relacionadas a passagem pelo rumen.”
De acordo com o profissional, a suplementação deve ser vista como um instrumento de ajuste fino da nutrição funcional. “Sua atuação vai além do reforço nutricional: trata-se de um suporte fisiológico que responde de maneira estratégica às necessidades de cada fase do desenvolvimento. Segundo ele, a escolha do que, quando e como suplementar deve sempre levar em conta o momento fisiológico do animal, os desafios sanitários do ambiente e os objetivos zootécnicos da fazenda”, afirma.
Como visto, cria e recria são fases distintas, mas unidas por um mesmo propósito: formar um bovino produtivo, saudável e eficiente, capaz de converter alimento em desempenho com rentabilidade. A suplementação estratégica representa uma forma inteligente de alinhar nutrição e fisiologia, de forma rápida e eficiente, antecipando resultados e prevenindo perdas ocultas.
Mais do que um reforço nutricional, trata-se de uma ferramenta de manejo zootécnico, pensada para garantir que o investimento feito em genética, sanidade e alimentação se traduza em produtividade de forma previsível.
O sucesso da terminação começa com a precisão na cria e na recria. E essa precisão está em fornecer exatamente o que o animal precisa — na dose certa e no momento certo.