Segundo a entidade, os recursos anunciados estão abaixo das necessidades do agronegócio.
O Plano Safra 25/26 foi alvo de críticas por parte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo Bruno Lucchi, diretor técnico da entidade, os recursos anunciados estão abaixo das necessidades do setor e não acompanham a inflação do período.
“O Plano Safra 25/26 para a agricultura familiar e empresarial não respondem à altura à importância estratégica que a agricultura tem no Brasil. Os valores anunciados ficaram bem abaixo, inclusive, da inflação. Embora nominalmente sejam maiores, quando corrigidos pela inflação ficaram menores”, afirmou Lucchi. A expectativa da CNA para 2025 é de que o PIB do agronegócio alcance 29% do PIB total do Brasil.
Ele destacou que o crédito previsto para a agricultura familiar teve aumento de 3%, enquanto a agricultura empresarial teve alta de 1,5%. “Se considerarmos uma inflação de 5,32% no período, são valores abaixo da inflação e não atendem em volume o que o setor pleiteou”, apontou o diretor.
Em relação às taxas de juros, Lucchi apontou que houve a manutenção dos juros para determinados produtos da agricultura familiar, como os voltados à cesta básica. No entanto, produtos como soja e pecuária de pequenos produtores passarão a pagar uma taxa de 8%. “Mostra uma segmentação desses produtos da agricultura familiar que também precisam de crédito, mas terão uma taxa bem maior”, disse.
No caso da agricultura empresarial, o técnico da CNA informou que o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) sofreu aumento na taxa de juros, passando de 8% para 10%. “Nos preocupa muito porque o médio produtor está tendo um distanciamento muito grande das taxas da agricultura familiar, ao passo que a gente não tem um aumento do enquadramento da agricultura familiar. Ele segue com R$ 500 mil”, explicou, acrescentando que a proposta da CNA era aumentar esse limite de renda bruta para R$ 700 mil, pleito que não foi atendido.
Outro ponto levantado por Lucchi foi a ausência de anúncios relacionados ao Programa de Subvenção ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). “O grande problema foi o descaso em relação ao seguro rural. Não foi anunciado nada”, afirmou.
Ele lembrou que o orçamento do PSR sofreu corte e congelamento de cerca de R$ 435 milhões em 2024, reduzindo os recursos de R$ 1,06 bilhão para um patamar que pode limitar a área segurada a cerca de 4 milhões de hectares.
A CNA também vê efeitos negativos para a agricultura familiar nas mudanças do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Lucchi apontou que o teto de enquadramento do programa caiu de R$ 325 mil para R$ 200 mil em dois anos, deixando produtores intermediários sem cobertura adequada. “Esse produtor que está acima de R$ 200 mil tem por obrigação contratar uma política de gestão de risco, seja por seguro rural, porém, ele não é mais enquadrado no Proagro e dificilmente vai conseguir recurso no PSR”, afirmou, destacando que essa lacuna pode dificultar o acesso ao crédito.
“Nos preocupa muito a forma que esse plano foi apresentado. O Brasil e o mundo vivem um momento muito complexo. Temos crises geopolíticas, aumento nos custos de produção, fertilizantes, combustíveis, fretes internacionais… Isso impacta diretamente no Brasil. Precisaríamos de um Plano Safra robusto para que o produtor seguisse investindo e aumentando sua produção e produtividade”, concluiu.
Cortes de recursos podem dificultar a execução do Plano Safra
O histórico de contingenciamentos orçamentários aplicados pelo governo federal levanta dúvidas sobre quanto dos R$ 516,2 bilhões anunciados para o Plano Safra 2025/26 poderão ser efetivamente acessados pelos produtores rurais.
“Vamos ter muita dificuldade para executar isso que o governo anunciou”, afirmou o economista da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz. “O governo está anunciando um valor, mas efetivamente sai outro”, acrescentou.
O especialista citou o exemplo do seguro rural, cujo orçamento anunciado pelo Ministério da Agricultura no ano passado era de R$ 1 bilhão e, após cortes realizados posteriormente, somente R$ 67 milhões foram acessados pelo setor produtivo, pouco mais de 6% do total.
Na avaliação de Luz, o fato do seguro rural ter ficado de fora do anúncio do novo Plano Safra foi um dos pontos mais negativos.
Os juros mais altos também estão entre os itens avaliados como negativos, mas que Luz classificou como algo que não é culpa de ninguém envolvido com a construção do plano, e sim da “má condução de política econômica do país”.
Em contrapartida, alguns dos pontos considerados positivos no Plano Safra são o aumento do teto para contratação de financiamentos para médios produtores pelo Pronamp e a mudanças no programa para construção de armazéns, o PCA.
O economista da Farsul ainda destrinchou os gastos que o governo terá com crédito rural em 2025/26, citando que o valor real é inferior ao anunciado.
Dos R$ 516,2 bilhões anunciados para a agricultura empresarial, a grandes e médios produtores, somente R$ 113,8 bilhões são recursos a juros controlados pelo governo. O restante, ou seja, 78% são juros de livre mercado.
Além disso, o que sai, de fato, dos cofres públicos é o recurso para equalização dos juros – para que o produtor consiga acessar o crédito a taxas mais baixas. Nesta temporada, esse valor de equalização chegará a R$ 13,5 bilhões, sendo R$ 9,5 bilhões para a agricultura familiar e R$ 3,9 bilhões para os grandes e médios produtores.
Valores insuficientes e taxas de juros inadequadas
A Sociedade Rural Brasileira (SRB) criticou os valores anunciados pelo governo federal para o Plano Safra 25/26, de R$ 516,2 bilhões para este ciclo. Em comunicado, a entidade considerou os volumes insuficientes e as taxas de juros inadequadas.
“O Plano Safra não atendeu o setor, aumentou muito pouco o volume total e diminuiu o volume de recursos para investimentos. As taxas de juros são elevadas ainda, e o tema do seguro agrícola nem foi tocado pelo governo, o que é negativo para nós”, avaliou o presidente da SRB, Sérgio Bortolozzo.
Ainda para a entidade, com a queda de R$2 bilhões nos recursos equalizados para o Pronaf e estagnação no Moderfrota, haverá maior risco para produtores e instituições financeiras, o que pode reduzir a atratividade do crédito subsidiado.
A SRB reconheceu o crescimento nominal do crédito, de 1,5% para a agricultura empresarial e 3% para os produtores familiares. Apesar disso, a entidade lembrou que esses valores ficam abaixo da inflação acumulada (IPCA de 5,2%), fato que reduz o poder real de compra e o impacto efetivo do financiamento, disse a entidade.
Por outro lado, a entidade avaliou como positivo a prioridade para linhas empresariais de custeio, “o que ajuda a manter a liquidez dos produtores diante da compressão das margens, reduzindo o risco de inadimplência”. A SRB ainda elogiou a iniciativa de oferecer desconto de 0,5 ponto percentual na taxa de juros para produtores rurais que adotam práticas sustentáveis.
“Entre medidas que podem beneficiar o setor está ainda a ampliação da exigibilidade das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). O aumento de 50% para 60% deve liberar cerca de R$64 bilhões adicionais em funding privado para o setor, diversificando as fontes de financiamento e reduzindo a dependência do Tesouro Nacional”, destacou a SRB.
“Praticamente inacessível”
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) relatou preocupação com o Plano Safra 2025/26, por causa dos juros próximos da atual taxa básica de juros (Selic).
Os juros tornam o crédito rural “praticamente inacessível para a maioria dos produtores”, segundo a entidade.
“Estamos passando por um momento crítico de baixa nos preços das commodities nos últimos anos e um aumento o endividamento dos produtores rurais do Brasil e também do Estado de Mato Grosso”, afirmou Lucas Costa Beber, presidente da Aprosoja MT.
A Aprosoja MT observou que o governo anunciou o Plano Safra 2025/26 com orçamento de R$ 516,2 bilhões, mas R$ 185 bilhões serão captados com Cédulas de Produto Rural (CPR) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), que são instrumentos privados com taxas livres de juros.
“Então, nominalmente, o Plano Safra perde 17,3% do seu tamanho em relação ao ano passado, ao excluir essa parcela”, disse Beber.
Ele considerou que os valores controlados, com juros prefixados, cresceram 5% em relação à safra anterior, o que representa uma queda de 0,32% em termos reais, quando ajustado pela inflação acumulada nos últimos 12 meses. Além disso, parte desses recursos já está comprometida com financiamentos da safra anterior.
Os R$ 69,1 bilhões destinados ao Pronamp mantêm juros diferenciados, mas não corrigem as perdas inflacionárias.
No setor agropecuário, os investimentos controlados de R$ 79,93 bilhões também apresentaram crescimento nominal insuficiente, enquanto os R$ 21,6 bilhões de recursos livres foram reduzidos em 31%.
O presidente da Aprosoja MT ressaltou que a entidade pediu ao governo um recurso de R$ 9 bilhões para atender pequenos e médios produtores com juros subsidiados, mas o plano conta com R$ 3,7 bilhões para esses produtores.
“Esperávamos que os programas que dão descontos a produtores que participam de programas de sustentabilidade chegassem a 1 ponto percentual sobre a taxa de juros e chegou a 0,5 ponto percentual”, lamentou Beber.
“Considerando que no último Plano Safra apenas 70% do valor anunciado chegou efetivamente ao produtor e que a linha de custeio empresarial teve a taxa elevada de 12% para 14%, fica evidente a queda gradativa na sua eficiência”, acrescentou Diego Bertuol, diretor administrativo da Aprosoja MT.
O novo plano anuncia taxa de 10% ao ano para o Pronamp e entre 8,5% e 14% para demais operações de custeio e investimento, taxas consideradas inviáveis para muitos pequenos e médios produtores, na avaliação da entidade.
Outro ponto criticado é que o crédito de custeio agrícola agora exige cumprimento das recomendações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), instrumento recorrentemente defasado em relação à prática agrícola, segundo a Aprosoja MT (Globo Rural)
Condições do Plano Safra 25/26 tornam o crédito rural inacessível
Entidade reforça que ao excluir a captação por meio das Letras de Crédito do Agronegócio, recursos sofrem redução nominal de 17,3%.
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) divulgou nota em que expressa preocupação com o Plano Safra 2025/26 anunciado nesta terça-feira (1/7) pelo governo federal.
“Com juros próximos da taxa Selic atual [de 15%], o crédito rural se torna praticamente inacessível para a maioria dos produtores, sobretudo em um momento de elevado endividamento no campo”, diz.
A entidade reforça que embora o volume total anunciado seja de R$ 516,2 bilhões, parte significativa dos recursos — R$ 185 bilhões — será captada via Cédulas de Produto Rural (CPR) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), instrumentos privados sem taxas controladas. “Ao excluir essa parcela, o volume de recursos disponível sofre uma redução nominal de 17,3%”, constata a Aprosoja-MT.
A nota continua dizendo que, na prática, os valores controlados, montante com juros prefixados, cresceram 5% em relação ao plano anterior, o que representa um decréscimo de 0,32% em termos reais, quando ajustado pela inflação acumulada nos últimos 12 meses.
Perdas inflacionárias
Para a entidade, os R$ 69,1 bilhões destinados ao Pronamp mantêm juros diferenciados, mas não corrigem as perdas inflacionárias. De acordo com a associação dos produtores, no setor agropecuário, os investimentos controlados de R$ 79,93 bilhões também apresentaram crescimento nominal insuficiente, enquanto os R$ 21,6 bilhões de recursos livres foram reduzidos em 31% e continuam sujeitos a garantias mais onerosas.
“Na prática, temos menos dinheiro disponível para contratar”, alerta o presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, ao destacar que os aumentos marginais não compensam a corrosão do poder de compra dos produtores.
Já para o diretor administrativo da Associação, Diego Bertuol, ao se considerar que no último Plano Safra apenas cerca de 70% do valor anunciado chegou efetivamente ao produtor e que a linha de custeio empresarial, na qual a maioria se enquadra, teve a taxa elevada de 12% para 14%, “fica evidente a queda gradativa na sua eficiência.”
O novo Plano anuncia, também, a taxa de 10% ao ano para o Pronamp e entre 8,5% e 14% para demais operações de custeio e investimento, dependendo do porte e finalidade do financiamento. “Contudo, para muitos pequenos e médios produtores, essas taxas tornam o acesso ao crédito inviável, especialmente quando boa parte do orçamento precisa ser destinada à quitação de dívidas anteriores.”
Construção de armazéns
A Aprosoja-MT afirma que havia sugerido, com base em estudos do déficit de armazenagem, ampliar o orçamento do Programa de Construção de Armazéns (PCA) para R$ 9 bilhões, com condições facilitadas para pequenos e médios produtores. “No entanto, o governo destinou apenas R$ 3,7 bilhões para estruturas de até 12 mil toneladas, com taxa de 8,5% ao ano, e R$ 4,5 bilhões para estruturas maiores, com juros de 10%”, diz a nota.
Para a entidade, alguns parâmetros anunciados no novo Plano Safra soam inexequíveis diante do cenário econômico. “O governo precisa revisar seus gastos crescentes. O ajuste fiscal é essencial para que as ferramentas monetárias funcionem a favor da produção de alimentos, o que há poucos dias parecia preocupar o executivo”, afirma Beber.
A Aprosoja-MT conclui dizendo que o Plano Safra 2025/26 não trouxe avanços significativos e que o excesso de regulamentação prejudicará a efetividade da política pública (Canal Rural)