Local é ponto de passagem de 20% do petróleo do mundo, mas também é rota importante para outras mercadorias que entram e saem do Oriente Médio.
A ameaça do Irã, de fechar o Estreito de Ormuz, é preocupante para o agronegócio brasileiro. Além dos preços elevados de ureia, houve paralisação em fábricas de adubo, o que coloca a oferta em xeque, há risco de travar exportações de carnes, que têm no Oriente Médio um importante destino.
O parlamento iraniano autorizou, no domingo (22/6), o fechamento do local, dando respaldo à eventual decisão do governo. Analistas de mercado observam que a tensão aumenta ainda mais se o estreito for interditado. E a entrada dos Estados Unidos na guerra piora os prognósticos de curto prazo.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira (23/6), a consultoria StoneX destaca que Irã e Egito, dois importantes fornecedores da região do Oriente Médio e Norte da África, paralisaram a produção de ureia. Os iranianos, devido à guerra. Os egípcios, porque estão recebendo menos gás de Israel.
“A interrupção na produção desses países é motivo de preocupação para os compradores internacionais”, pontua o analista de Inteligência de Mercado da consultoria financeira, Tomás Pernías.
Monitoramento da Trading Economics aponta que a ureia subiu 13,37% na última semana, para US$ 432,50 a tonelada na última sexta-feira (20/6). O valor é do contrato spot. Entre consultorias, o preço pode variar alguns dólares, mas a tendência é de alta. No dia 13 de junho, depois das primeiras 24 horas de conflito, o custo do insumo já havia subido cerca de 3%, para US$ 399 por tonelada. Em onze dias, o aumento foi de US$ 33,50 por tonelada.
Em maio, o valor caiu 6,54%. Em comparação com o início da guerra, há suporte no preço. Conforme a Trading Economics, a ureia está 40,65% mais cara do que no mesmo período em 2024, de acordo com a negociação de um contrato por diferença (CFD), que acompanha o mercado de referência para o insumo.
Frete e seguro marítimo
Os custos com frete e seguro no transporte marítimo em rotas na região de conflito também subiram. Segundo a StoneX, com o aumento do risco geopolítico, há uma tendência de alta nas tarifas de transporte internacional, encarecendo as operações logísticas pré-programadas.
O temor gera mais volatilidade no mercado, como apontaram outras consultorias internacionais, como Barchart, Granar e Trading Economics.
“Como consequência, os preços FOB e CFR da ureia subiram em diversos mercados, movimento intensificado pela postura cautelosa de alguns vendedores, que retiraram suas ofertas à espera de maior clareza sobre a evolução da demanda e do cenário político”, diz Pernías.
A StoneX indica que, neste momento, investidores da área de fertilizantes sugerem que produtores comprem o que puderem e cuidem dos estoques. Pernías, por sua vez, analisa que o momento é “especialmente sensível” aos compradores brasileiros, sobretudo os produtores rurais, porque as importações de nitrogenados tendem a se intensificar no segundo semestre, antecedendo o plantio da safra de verão.
“A valorização da ureia no mercado internacional ocorre em um momento estratégico, quando o Brasil se prepara para ampliar a demanda por adubos. Além disso, estima-se que os custos de adubação já estejam acima dos níveis observados em 2024, o que aumenta o risco de pressão adicional sobre as margens dos agricultores”, explica, em nota.
Riscos para carnes e grãos
As exportações de carne brasileira, por sua vez, têm na região do Oriente Médio um importante mercado de destino, e o Estreito de Ormuz, uma das principais rotas marítimas no mundo. Sua interdição pode afetar os embarques, em particular de carne halal, produzida conforme os preceitos do islamismo.
“O Brasil tem embarques relevantes de carne para países como Arábia Saudita e Emirados Árabes, que podem ser impactados pela instabilidade na região”, avalia, em nota, Frederico Favacho, especialista em contratos internacionais do agronegócio e sócio do Santos Neto Advogados.
Além dos efeitos diretos sobre as vendas externas de proteína animal, o Brasil também pode sentir os reflexos da volatilidade nos mercados de petróleo e gás, já que cerca de 20% do petróleo global passa por ali. “Mesmo sem usar diretamente a rota, o país pode ser afetado por oscilações nos preços de commodities e combustíveis”, alerta Favacho.
O mercado também acompanha os impactos indiretos do conflito nos preços do milho, cultivo que aduba com ureia. Soja, óleo de soja e trigo também podem ter valorização nas bolsas internacionais, o que compensaria em um aperto da relação de troca – relação de valor para comprar uma tonelada de fertilizante -. Entretanto, o dólar caindo em relação ao real não assegura os hedges de grãos de mais de cinco meses, remexendo na dinâmica de negociação, como apontou a Bloomberg (Globo Rural)