Preço do açúcar despenca e aperta as margens no Brasil 

Commodity está no menor patamar em quatro anos.

Em um mercado já pressionado pela recuperação da produção global, uma enxurrada de oferta de açúcar na Tailândia neste mês foi a gota d’água para que os preços internacionais derretessem nas últimas sessões. O tombo das cotações foi tal que elas já estão no menor patamar em cerca de quatro anos, aproximando-se do custo de produção dos fabricantes mais competitivos do mundo: os brasileiros.

Na sexta-feira (13/6), os contratos do açúcar demerara na bolsa de Nova York para julho fecharam a 16,13 centavos de dólar a libra-peso, o menor valor para um contrato de segunda posição desde abril de 2021. Em um ano, os preços já caíram 15,63%, e a maior parte da queda se deu no último mês, quando as cotações recuaram 9,99%, segundo o Valor Data.

Como o dólar também vem caindo, a remuneração do açúcar em reais caiu mais. Segundo a consultoria FG/A, até a primeira semana de junho, o preço médio do açúcar em reais acumulava desvalorização de 24% no ano, enquanto no mesmo período a queda em dólares foi de 13%.

No Brasil, o custo de produção da commodity está entre 15 centavos de dólar e 16,50 centavos de dólar a libra-peso, segundo analistas consultados pelo Valor. Os produtores mais competitivos atrás do Brasil são da América Central, onde o custo médio já está em 17,50 centavos dólar a libra-peso.

Ou seja, na prática, os produtores de fora do Brasil estão tendo prejuízo. Para Arnaldo Corrêa, diretor da Archer Consulting, isso pode ser um sinal de que a pressão sobre as cotações pode começar a ser revertida em algum momento, já que desestimulará a produção. Cristian Quiles, analista da FG/A, também vê nessa relação um indicativo de que o mercado teria chegado a um “piso”.

Entre as usinas, o sentimento é de atenção, mas não preocupação. Diferentemente das consultorias, os usineiros esperam uma quebra de safra maior no Centro-Sul, o que pode logo reverter o “vale” no mercado. “Essa safra está decepcionando do ponto de vista de cana. Temos queda de produtividade e queda de sacarose. A expectativa é que isso deve aparecer nas próximas

semanas”, afirma Gabriel Junqueira, CEO da Bioenergética Aroeira, com uma unidade em Tupaciguara, no triângulo mineiro.

Para a companhia, o preço em reais já está “encostando” em seu custo de produção. Na visão de Junqueira, se o preço continuar a cair, é possível que algumas usinas, sobretudo as do Centro-Oeste, que têm benefícios fiscais para produzir etanol, comecem a produzir mais biocombustível do que açúcar. Isso poderia limitar a oferta da commodity e, portanto, a própria desvalorização.

A princípio, a baixa do açúcar deve impactar pouco os balanços financeiros, já que boa parte das usinas já tinha fixado o preço de exportação meses antes. O último levantamento da Archer indicava que 85% do volume de açúcar a ser exportado na safra atual (2025/26) já fora hedgeado.

O efeito imediato é a paralisia das vendas domésticas, uma vez que as usinas não pretendem avançar nas negociações do açúcar não hedgeado. De acordo com Corrêa, o consumidor industrial vai usar os estoques que tem em casa antes de entrar no mercado. “Ninguém quer carregar estoque com juro alto”, diz.

No mercado global, o fator que mais pesou sobre os preços foram estimativas de que a oferta da Tailândia superou o volume esperado para exportação em 1,52 milhão de toneladas. Esse montante tornou-se, portanto, disponível para ser fixado, o que representa um volume relevante de contratos na bolsa de Nova York à venda — entre 30 mil e 40 mil. “Num momento em que não tem ninguém para dar essa liquidez, qualquer volume maior de venda pressiona o mercado”, afirma Corrêa.

A Tailândia, porém, não é a única responsável pelos baixos preços. De acordo com Quiles, da FG/A, a queda reflete a expectativa de um superávit global, impulsionada principalmente pelas perspectivas de aumento da produção no Brasil e na Índia.

Ele ressalta que, para o Brasil, o que mais pesa para a perspectiva de aumento da produção de açúcar são os investimentos estimados em R$ 3,5 bilhões feitos pelas usinas em novas capacidades, que agregaram 4 milhões de toneladas de capacidade instalada.

Para a consultoria, ainda que a moagem de cana do Centro-Sul caia 6 milhões de toneladas nesta safra por causa das piores condições dos canaviais, para 615 milhões de toneladas, a produção de açúcar deve ficar próxima do recorde de 2023/24, em 42,4 milhões de toneladas.

Lívea Coda, analista da consultoria Hedgepoint, diz que, se o Centro-Sul do Brasil processar 620 milhões de toneladas de cana nesta safra, o fluxo comercial global de açúcar projetado para o terceiro trimestre seria superavitário em 3,5 milhões de toneladas.

Ainda que a safra seja menor, de 600 milhões de toneladas, o fluxo seria superávitário em 2 milhões de toneladas. “Ainda seria bastante confortável”, diz. Para ela, o fator mais imediato que deve indicar o “piso” do mercado é a paridade de importação nas regiões produtoras da China, que está em 16,2 centavos de dólar a libra-peso (Globo Rural)

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