Por Celso Ming
Sem um ajuste necessário para conter a expansão do déficit das contas públicas, o ambiente econômico continuará a sofrer com distorções incentivadas pelo governo Lula.
Preocupado com a escalada dos preços dos alimentos e com o mergulho em queda livre dos índices de aprovação popular, o governo enfim baixou medidas destinadas a baratear os preços dos alimentos.
As decisões mais importantes foram as que zeraram o Imposto de Importação (taxa alfandegária) do café, carnes, sardinha, milho, açúcar, massas alimentícias, biscoito e óleos vegetais, como os azeites de oliva e de dendê e o óleo de girassol. A intenção é empurrar os governadores a baixar também o ICMS desses produtos.
O efeito colateral será o desestímulo ao produtor nacional, especialmente os dos produtos atingidos pelas medidas. Com isso, o governo não se importa em acirrar contra ele os ânimos do agronegócio.
Não está claro como funcionará o fortalecimento dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento e o estímulo à produção dos mais importantes itens da cesta básica.
A questão central é a de que o governo não ataca as causas primárias da inflação dos alimentos nem as da menos falada inflação de serviços. Elas têm três causas.
A menos importante delas tem a ver com as condições climáticas, que encareceram o café, as verduras e, em parte, as carnes. As outras duas são consequência de opções de política econômica. É o governo gastando demais – o que leva o nome técnico de expansão do déficit das contas públicas.
E é o despejo de generosidades populistas com objetivo eleitoral, como o reforço no Bolsa Família, antecipação de pagamentos para pensionistas e aposentados, liberação de saques do Fundo de Garantia para os trabalhadores, benefícios para os estudantes (Pé de Meia) e expansão do crédito consignado.
Essas iniciativas criam demanda, que não são acompanhadas por maior produção de mercadorias e serviços. É efeito que ajuda a manter aquecida a procura de mão de obra que, por sua vez, também cria demanda. Há oito meses, o desemprego encontra-se nos níveis históricos mais baixos. Nessas condições, a inflação fica inevitável e é apenas agravada por outros fatores.
É um ambiente que cria distorções. Uma delas é a contradição de macro-objetivos. Enquanto o governo inunda o mercado com dinheiro, o Banco Central, cuja função é atacar a inflação, mantém ligadas às bombas de sucção, puxa pelos juros que encarecem o crédito, realimentam as dívidas e tentam desacelerar a atividade econômica.
Sobra a impressão de que, ao fazer jogo de cena com os empresários e ao baixar medidas de ataque aos sintomas, o governo quer passar a impressão de que atua para combater a carestia, sem abrir mão do saco de bondades eleitorais (Estadão)