Cigarrinha-das-raízes na cana-de-açúcar: como escolher o manejo correto para combater a praga
Por Christian Cesar Menegatti
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e possui, aproximadamente, 8 milhões de hectares plantados e usinas distribuídas pelos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grasso do Sul, Goiás, Tocantins e Mato Grosso, além da região Nordeste.
Desde o início dos anos 2000, a legislação ambiental brasileira proíbe a queimada para facilitar a colheita das lavouras de cana. Desde então, entraram em cena as colhedoras, otimizando a colheita, incrementando rendimento e tecnologia na lavoura. Após a colheita mecânica da cana crua (sem queimar), de oito a 12 toneladas de palha permanecem nas lavouras – essa quantidade pode variar com a idade do canavial e a variedade plantada. A presença da palha na lavoura, além de alterar as condições de umidade do solo e brotação da soqueira de cana, provoca mudanças na flora presente na área, favorecendo algumas espécies de plantas daninhas e criando dificuldades para o desenvolvimento de outras. A condição também favorece o desenvolvimento de pragas que não eram problemas para as lavouras quando se realizavam as queimadas. Uma dessas pragas é a Cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata).
Atualmente, a Cigarrinha-das-raízes está presente em praticamente todas as lavouras de cana do Brasil. Seu ciclo se inicia com a chegada das primeiras chuvas, normalmente no final do mês de outubro, atingindo o pico populacional no mês de janeiro. Com a presença de umidade, eclodem os primeiros ovos, que foram colocados ainda no final do período chuvoso do ciclo anterior (abril). Da eclosão desses ovos, saem as ninfas, que rapidamente procuram as raízes da cana para se alimentar. Durante o processo de alimentação, as ninfas de cigarrinha produzem uma espuma característica e de fácil identificação no campo. Essa espuma tem a finalidade de proteger as ninfas dos raios diretos do sol, de altas temperaturas e de inimigos naturais.
Após 30 a 40 dias se alimentado nas raízes, as ninfas se transformam em adultos, que são alados e sobrevivem na parte aérea do canavial sugando a seiva das folhas. A fase adulta dura em média de 17 a 22 dias e durante essa fase, uma fêmea de cigarrinha pode ovopositar de 300 a 380 ovos. Novas ninfas emergirão desses ovos 15 a 20 dias após postura, dando início a um novo ciclo. Podemos ter de dois a três ciclos de cigarrinha ao longo do ano, dependendo do clima e das condições da cultura.
Tanto os adultos quanto a ninfas causam prejuízos: ao sugar as folhas, os adultos injetam substâncias que são tóxicas para a planta e reduzem a sua fotossíntese, já as ninfas, ao se alimentarem nas raízes, sugam os nutrientes das plantas e injetam toxinas que afetarão a produtividade e a qualidade da matéria-prima, ou seja, a cana atacada além de ter o impacto no TCH, também sofre o impacto direto no ATR/ton.
Esses impactos são muito variáveis, podendo chegar até 45 ton/ha, e dependem de alguns fatores, como:
– Idade da soqueira: canaviais mais jovens, colhidos em agosto e setembro são mais suscetíveis ao ataque.
– Variedades: existem variedades que sentem mais o ataque do que outras.
– Nível de infestação: os impactos estão diretamente ligados ao nível de infestação, contabilizados por número de ninfas presentes por metro linear.
Existem diversas maneiras de combater a Cigarrinha-das-raízes e minimizar seus impactos. Um desses métodos é o controle cultural, que é feito fazendo o afastamento da palha da linha de cana, através de processo mecânico. Sem a proteção da palha, a ninfa tem dificuldade para se desenvolver, reduzindo o nível populacional. Esse é método complementar, uma vez que é muito difícil esse afastamento de maneira eficiente. O vento pode voltar à palha na linha e, em algumas regiões, é interessante a presença da palha para manutenção da umidade na linha da cana. Outro método é o manejo varietal e época de corte. A utilização de variedades menos suscetíveis e a antecipação da colheita das variedades mais suscetíveis, reduzem as perdas por ataques de Cigarrinhas-das-raízes.
De todos os métodos de controle, o químico é o mais utilizado. Nesse tipo de manejo, defensivos agrícolas químicos são aplicados na base das soqueiras atacadas, com objetivo de controlar as ninfas e proporcionar um período sem a presença da praga para que a planta possa se desenvolver normalmente. Nesse caso, é preciso ficar atento às moléculas utilizadas e seu modo de ação. É muito importante fazer a troca de modo de ação frequentemente, evitando repetir o mesmo, com o objetivo de prevenir o surgimento de populações resistentes da praga ao produto.
Outra modalidade de manejo de cigarrinha que vem crescendo e ganhando destaque é o controle biológico: atualmente 25% da área com problemas de Cigarrinhas-das-raízes no Brasil recebe algum tipo de manejo biológico. Essa modalidade vem crescendo bastante devido ao desenvolvimento de novos agentes biológicos que, juntamente com formulações seguras e inovadoras, permitem maior flexibilidade nas aplicações, proporcionando ótimo controle da praga, tanto na fase de ninfa como na fase adulta da cigarrinha, além de auxiliar na prevenção do surgimento de resistência devido uso intenso de inseticidas com mesmo modo ação.
Um fato muito relevante a considerar no controle biológico da cigarrinha é a preservação dos inimigos naturais. É conhecido que formigas, moscas predadoras, tesourinhas e outros insetos, podem manter naturalmente as populações num nível mais baixo, mesmo na presença de umidade e altas temperaturas. Para um bom manejo de pragas, é muito importante que o agricultor faça o monitoramento correto, com a intenção de saber qual é o momento certo de realizar o controle, utilizando produtos adequados, indicados por um Engenheiro Agrônomo de confiança, o que vai evitar prejuízos para a cultura e preservar o meio ambiente.
O uso de produtos biológicos isolados ou em associações com outros manejos químicos seletivos ou culturais contribui para uma agricultura produtiva e mais sustentável.
Christian Cesar Menegatti é Gerente de Marketing Estratégico da Koppert, líder mundial em controle biológico.