Previsões de área e de produção são recordes, mas oferta mundial derruba o preço.
Os produtores estão nos preparativos finais para o plantio de uma área recorde de soja. Serão pelo menos 47 milhões de hectares, 3% a mais do que na safra passada.
O cenário para este ano, porém, é bem diferente do dos períodos recentes. A oferta mundial da oleaginosa cresce 9%, o comércio mundial fica estável, os estoques finais aumentam 20% e o comportamento interno do dólar é fundamental para os preços, que têm previsão de queda no mercado internacional.
Tudo isso sem considerar o clima, um dos fatores mais incertos para a produção. Ele tem afetado toda a agricultura brasileira e causado efeitos drásticos em algumas regiões.
Apesar desses desafios, as perspectivas são de rentabilidade para o setor, desde que o país obtenha safra cheia, que, nos cálculos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), poderá chegar a 166 milhões de toneladas. Mais otimista, o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) prevê 169 milhões.
Um dos alívios para os produtores é a queda de 8,5% nos preços dos fertilizantes e de 11% nos dos defensivos. Esses itens representam 68% dos custos da produção da oleaginosa.
A safra 2024/25 deverá exigir do produtor uma das gestões mais eficientes do negócio dos últimos períodos. Mesmo que ele consiga uma boa safra, não dá para prever o comportamento dos principais fundamentos externos.
Há uma perspectiva de que os preços mantenham uma tendência de queda, justificada basicamente por uma safra mundial recorde. Pelos cálculos do Usda, deverá ocorrer aumento de produção nos principais produtores mundiais, como Estados Unidos e Brasil, elevando o volume mundial colhido para 429 milhões de toneladas.
O consumo mundial fica em 403 milhões, elevando os estoques para 135 milhões. Segundo a consultoria AgRural, confirmados esses números, os estoques finais da safra 2024/25 serão suficientes para 122 dias de consumo, 14% a mais do que no período anterior.
Um dos pontos favoráveis para o produtor nacional é a elevação interna de consumo. O esmagamento feito pelas indústrias nacionais deverá somar 57 milhões de toneladas, puxado por uma demanda de biodiesel, exportação maior de subprodutos, como o farelo, e aumento no consumo dos derivados da soja na produção de rações.
Os preços internacionais da soja passam pela decisão chinesa de compra. Embora com consumo crescente nos últimos anos, os chineses vão negociar muito durante esse período de superoferta de produto.
A decisão dos fundos de investimentos também pesa sobre os preços. Mesmo com uma safra mundial abundante, uma opção maior dos fundos pelas commodities agrícolas, em um período de queda de juros nos Estados Unidos, poderia dar fôlego aos preços.
O setor de commodities terá, ainda, os efeitos dos conflitos geopolíticos, principalmente porque envolvem uma região de grande oferta de petróleo.
O Brasil vai manter um ritmo forte nas exportações, que podem chegar a 105 milhões de toneladas, segundo a Conab. Internamente, os preços recebidos pelos produtores em reais vão depender do comportamento do dólar.
A queda internacional nos preços, porém, fará com que o montante financeiro obtido pelas exportações do complexo soja (grãos, farelo e óleo) perca ritmo. Para este ano, as previsões da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) são de US$ 52 bilhões, após ter atingido US$ 67 bilhões em 2023.
A margem líquida do produtor sobre o custo operacional deverá se manter em 15% na safra 2024/25, a mesma deste ano, segundo a Conab.
Para o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), o custo operacional total está em R$ 6.101,74 por hectare em Mato Grosso, uma margem positiva de R$ 406,24 para o produtor.
A expansão da soja em duas décadas
A área de soja passou de 23,3 milhões de hectares, há 20 anos, para uma previsão de 47,4 milhões em 2024/25. Se confirmada, a área de cultivo dobra. Já a produção deverá aumentar 211% no período, e a produtividade, 56%, conforme dados da Conab (Folha)