Forte estiagem ameaça preços de alimentos para consumidor brasileiro.
Perdas em plantações de mandioca, pressão sobre cotações de milho, laranjas murchas e com oferta reduzida. Situações como essas exemplificam os impactos que começam a aparecer no campo em razão da forte seca no Brasil.
Analistas temem que os reflexos da crise sentidos nos elos iniciais das cadeias produtivas alcancem os preços finais de alimentos ao longo dos próximos meses.
No caso da mandioca, a baixa umidade do solo, associada a temperaturas elevadas, preocupa produtores devido a perdas de algumas áreas já cultivadas e que ainda devem ser replantadas, indicou nesta segunda-feira (16/9) o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Conforme a instituição, a expectativa é de que chuvas previstas para este mês amenizem o quadro, mas, por enquanto, o ritmo de colheita segue bastante reduzido, com atividades interrompidas em algumas regiões pesquisadas.
Nesta segunda, o Cepea também disse que as cotações do milho estão em alta há quatro semanas. Agentes seguem atentos ao clima seco e à demanda aquecida, tanto no mercado interno quanto no externo.
Na região de Campinas (SP), base do indicador divulgado pela instituição, a saca de 60 quilos de milho fechou a última quinta (12/9) em R$ 63,50. Foi o maior patamar nominal (sem o ajuste pela inflação) desde janeiro.
Conforme o Cepea, produtores esperam novas valorizações com os eventuais impactos do clima sobre as lavouras de verão e os possíveis atrasos da semeadura da segunda safra 2024/2025.
No caso da laranja, o valor médio da fruta na árvore chegou a R$ 113,89 por caixa de 40,8 quilos na parcial da semana passada, de acordo com informações divulgadas na sexta (13/9) pela instituição.
Isso representa uma alta de 4,3% na comparação com o período anterior. O calor no estado de São Paulo, que teria impulsionado a demanda pelo item, e a projeção de safra ainda menor do que a prevista anteriormente estariam por trás do movimento.
“De acordo com colaboradores consultados pelo Cepea, a oferta está bastante limitada, e a falta de chuvas tem deixado as frutas murchas, reduzindo ainda mais a quantidade de lotes de qualidade”, disse a instituição.
Na terça (10), o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) passou a projetar a safra de laranjas de 2024/2025 em 215,78 milhões de caixas de 40,8 quilos para o chamado cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais.
O dado indica uma diminuição de 16,6 milhões de caixas (7% a menos) na comparação com estimativa de maio.
Como a Folha mostrou no final de semana, perdas bilionárias na produção agropecuária podem ser só o início das consequências econômicas da seca e do avanço das queimadas no Brasil.
A intensificação da crise climática nas últimas semanas pressiona serviços básicos, como fornecimento de energia e água, e reforça alertas para os possíveis impactos dos eventos extremos no longo prazo, segundo especialistas.
Para concluir a safra de grãos de 2024, falta basicamente ao Brasil colher culturas de inverno, como trigo, aveia e cevada, apontou na semana passada o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O órgão prevê queda de 6% para a produção deste ano. O cenário é associado em grande parte a problemas climáticos como a falta de chuva em meses anteriores da temporada e as enchentes no Rio Grande do Sul (Folha)