Produtores do RS afirmam que não havia necessidade de importação de arroz

OUTRO LADO: Ministério da Agricultura diz que considerou possível aumento de custo para desvio da safra por estradas.

No momento em que o ministro da Agricultura comemora a importação de arroz, dados de produtores do Rio Grande do Sul indicam que não havia risco de desabastecimento com as enchentes no estado, maior produtor do grão.

Levantamento do Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz) mostra que mais de 90% da área de arroz produzido no estado tinha sido colhida até 24 de abril. O montante representa 6,8 milhões de toneladas do produto.

Na safra de 2022/23, por exemplo, foram semeados 839 mil hectares com uma produção total de 7,2 milhões de toneladas de arroz. Para a safra atual (2023/24) foram semeados 900 mil hectares de arroz irrigado. Até o momento, houve colheita em 758 mil hectares, com uma produção total de 6,4 milhões de toneladas.

De acordo com o Irga, deste restante da safra, cerca de 22,9 mil hectares foram completamente perdidos, principalmente nas fazendas da região central do estado. Outros 17,8 mil hectares estão parcialmente submersos.

O próprio Irga também fez um levantamento de quantos silos foram atingidos. Nas 33 cidades produtoras atingidas pelas enchentes, cerca de 122 silos foram afetados.

Das mais de 161 mil toneladas de arroz armazenado nesses silos, pouco menos de 14% foram totalmente danificados.

A CNA (Confederação Nacional da Agricultura) entrou com uma ação no STF contra a importação do arroz. O argumento da entidade é de que não havia risco de desabastecimento.

CONTRA AUMENTO DE CUSTOS

Em nota, o Ministério da Agricultura disse que, embora haja arroz disponível, os produtores e entidades representativas “reconhecem as inúmeras dificuldades logísticas e entraves ao escoamento dos grãos”.

Além disso, questões administrativas, como a emissão de notas fiscais, ou a adoção de rotas alternativas pelos veículos teriam sido prejudicadas.

O governo afirma que identificou variações de preços que chegaram a 40% em alguns casos, por isso, o “comportamento especulativo e aproveitador” deve ser coibido.

“No caso do Rio Grande do Sul, o fenômeno climático que acometeu o estado ocorreu fora dos parâmetros usuais, demandando medidas abrangentes e uma visão holística para evitar o desabastecimento no país”, disse.

CRÍTICAS NO SUL

Nesta quinta (6), a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) comprou 263 mil toneladas de arroz por R$ 1,3 bilhão. A expectativa é de que o produto chegue ao país entre setembro e outubro.

Em recente entrevista à Folha, o ministro Carlos Fávaro (Agricultura) disse que a compra “foi um sucesso contra a especulação”.

O governo temia que comerciantes fizessem uma guerra de preços prejudicando a população.

Ao Painel S.A., o presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Luciano Silveira (MDB), criticou a medida do governo, que desconsiderou os dados de colheita do Irga.

Para ele, o governo Lula gerou instabilidade no setor, foi precipitado ao importar o arroz e “insensível” com o produtor, que deveria receber segurança do executivo federal neste momento de calamidade.

“No momento mais delicado que o Rio Grande do Sul passa, ele deixa de injetar esse dinheiro aqui dentro para injetar fora?”, questionou Silveira.

Segundo o deputado, outro problema com a compra está no prazo de entrega do produto, que deve levar entre 90 e 150 dias.

Logo após as inundações, boa parte da logística do estado foi comprometida, porém o deputado afirma que as áreas produtivas já podem ser acessadas, o que invalidaria um discurso governista de que o escoamento do arroz colhido seria comprometido ao longo do ano.

O Ministério da Agricultura rebate a tese e afirma que “problemas logísticos e especulativos serão enfrentados com firmeza, uma vez que a situação demanda atenção especial”.

Silveira afirma que a Comissão da Agricultura gaúcha se organiza para criar um movimento com outras comissões do tipo nas assembleias legislativas de todo o país.

Segundo o deputado, o que hoje acontece com o arroz pode acontecer com qualquer outra cultura nos estados, por isso é preciso se blindar de movimentos como o adotado pelo governo federal (Folha)

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Governo fará novo leilão para compra de 36,6 mil t de arroz em 13 de junho

Volume é remanescente do leilão realizado pela Conab nesta quinta-feira; iniciativa tornou-se uma queda de braço entre setor produtivo e governo federal.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) abriu na quinta-feira, 6/6, um novo edital para ofertar novamente a compra de 36,63 mil toneladas de arroz importado e beneficiado. O volume é remanescente do leilão realizado pela companhia na manhã desta quinta-feira. O pregão será eletrônico, na modalidade “viva-voz”, por meio de bolsas de mercadorias na próxima quinta-feira, 13, às 9h.

O arroz deverá ser do tipo 1, longo fino, polido, da safra 2023/24, importado e a ser entregue nas quantidades e nos locais definidos pela empresa pública. O produto terá preço tabelado de R$ 20 o pacote de 5 kg e deverá ser embalado na origem com a logomarca do governo federal.

O arroz adquirido deverá ser destinado para Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins. O produto deverá ser vendido ao consumidor final com preço máximo de R$ 4 o quilo.

A compra pública de arroz importado e beneficiado pelo Executivo tornou-se uma queda de braço entre setor produtivo e governo federal. O Ministério da Agricultura e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) alegam que a medida visa frear o aumento especulativo dos preços do cereal no País, após as perdas registradas nas lavouras gaúchas como medida para enfrentar as consequências econômicas das enchentes do Rio Grande do Sul.

Já entidades do agronegócio argumentam que não há risco de desabastecimento e nem necessidade de recorrer às compras públicas para reequilibrar o mercado. O setor também move uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a intenção de importação de 1 milhão de toneladas de arroz pelo Executivo (Estadão)

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