- CNA diz que acordos dos EUA com importadores podem afetar mercado do agronegócio
- Em um ano de recordes, agropecuária ajuda a segurar inflação dos alimentos no país
Foi um bom ano, um ano normal. Assim João Martins, presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), avaliou o comportamento da agropecuária em 2025. Sobre o próximo, ainda pairam várias dúvidas, na avaliação dos técnicos da entidade.
A situação internacional continua instável e uma das preocupações para o Brasil, grande fornecedor de produtos agropecuários para o mundo, são os próximos passos dos Estados Unidos, segundo Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da CNA.
Donald Trump iniciou o mandato com uma política comercial agressiva, impondo pesadas taxas sobre os parceiros comerciais.
Aos poucos, elas vão sendo retiradas, mas com acordos individuais. Nesses acordos, segundo Mori, três focos do governo americano podem afetar o agronegócio brasileiro. Primeiro, Trump exige acesso dos produtos americanos no país com quem está negociando. Segundo, costura compromissos de investimentos nos Estados Unidos e, finalmente, exige acordos de compras de produtos dos Estados Unidos com quem negocia.
Ela cita alguns exemplos. O Japão prometeu ampliar em 75% as compras de arroz dos Estados Unidos e gastar US$ 8 bilhões na compra de produtos agropecuários americanos. O Reino Unido deve importar US$ 5 bilhões de produtos agropecuários nos Estados Unidos, sendo US$ 700 milhões em etanol. Além disso, abre uma cota livre de 13 mil toneladas para a carne bovina.
A Indonésia amplia em US$ 4,5 bilhões as compras nos Estados Unidos, além de remover barreiras não tarifárias e eliminar tarifas para 99% dos produtos americanos. O Vietnã amplia as compras para US$ 2,9 bilhões e também remove barreiras e elimina tarifas.
Todos esses acordos têm forte impacto sobre o Brasil, que negocia produtos do agronegócio com o mundo todo, afirma ela. Não estão definidos detalhes ainda, mas a China também deverá elevar as compras nos Estados Unidos, a exemplo do que ocorre com a soja.
Além desses problemas de disputa mais acirrada com outros mercados, o Brasil deverá ficar atento às negociações com a China, principal parceira do país no agronegócio. Os chineses estão implementando um plano de revitalização rural, em busca de maior produção interna. Devem decidir sobre a salvaguarda da carne bovina no próximo mês, o que pode afetar exportações brasileiras, e dar andamento a um plano de compras de produtos dos Estados Unidos.
O acordo entre Mercosul e União Europeia avança, mas a preocupação é com uma possível aplicação de salvaguardas para produtos agropecuários. A diretora de Relações Internacionais diz, ainda, que o tarifaço dos Estados Unidos sobre boa parte dos produtos brasileiros continua, o que pode levar a uma perda de US$ 2,7 bilhões em 2026.
No campo interno, as incertezas são a possibilidade de maior tributação, aumento da dívida pública, falta de crédito, bancos mais restritivos e seguro rural insuficiente. A dificuldade na obtenção de crédito e o alto custo dele têm levado mais produtores a utilizar recursos próprios no campo.
Os juros devem recuar um pouco no próximo ano, mas a Selic ainda será elevada, ficando em 12,25%, um patamar que gera dívidas e mantém a inadimplência alta no setor, segundo Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA.
A pecuária bovina interrompe, em 2026, a oferta recorde de carne que vinha registrando, devido a um ciclo de menor abate. Neste ano, a produção de carne será 12 milhões de toneladas. Os demais segmentos da pecuária, como avicultura e suinocultura, manterão o ritmo de produção.
O ano termina com safra recorde, PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio com avanço de 9,6% e Valor Bruto de Produção atingindo R$ 1,5 trilhão, com aumento de 12%. O PIB do agronegócio da CNA e do Cepea leva em consideração volume e preços em toda a cadeia do setor, composta por insumos, produção agropecuária, serviços e agroindústria. O VBP é o dinheiro que chega ao bolso do produtor, considerando volume produzido e preços recebidos pelo produto.
Após o recorde deste ano, a safra volta a crescer no próximo, prevista para atingir 355 milhões, e o PIB do setor deverá subir 1%. A evolução do agronegócio, em 2025, auxiliou na contenção da taxa inflacionária, afirma Lucchi. A inflação dos alimentos no domicílio está em 2,05%, bem abaixo dos 8,23% do ano passado, diz o diretor (Folha)





